segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Versos ao teu sono de pedra

São nove horas da manhã, e eu ainda te espero. Eu já te disse várias vezes que não, mas torno a te esperar. Tu dormes, por certo, no sono grande das manhãs da tua alma. Eu olho o relógio, me impaciento, quase que te odeio por final. Mas não há mal que sempre dure, e ele em mim nem chega a se assentar. Me convenço de que tu vais te acordar, embora eu já saiba que não vais. Eu olho o relógio. São nove e cinco da manhã. Eu conto as horas desde às seis para este encontro. Eu ainda te espero.

O tempo é um calabouço e eu estou preso nele. Correntes se arrastam nas celas ao lado, e da janela a luz da esperança vai se apagando, sumindo assim na curvatura do horizonte. A terra é redonda por certo, o horizonte é a resposta. Mas não responde a minha: onde estás? Por certo dormes no sono grande das manhãs da tua alma, em meio a sonhos belos e trigueiros, em meio a trigais e canaviais. Eu já te disse várias vezes que não, mas aqui estou, de novo a te esperar. Eu ainda guardo uma esperança.


Eu te chamo aos quatro ventos, tu não ouves? Minha alma é um poço de ansiedade, e a mocidade me transmuda. Eu não gosto quando te encontro muda em meus ouvidos, quando não sei de teus caminhos. A paciência é um espinilho que me espeta, e eu não consigo mais apenas te esperar. Onde está Bin Laden para te acordar? Preciso de um homem bomba, de uma banda, ou mesmo de uma pequena moto-serra. Eu perco o meio fio da esperança e o meu dia já começa assim, despedaçado. Eu ligo o carro. Concentrado é o meu olhar sobre o relógio.

Perde-se o tempo que passou, não volta mais. Eu estive contigo para estar contigo, mas perdemos o tempo que passou. Tu dormes, por certo, no sono justo das manhãs da tua alma. Moinhos gigantes embalam o teu sono, e eu nunca serei um Dom Quixote. É inglória a luta que eu travo contra os teus moinhos. São nove e meia da manhã , e eu bebo um café na esquina de uma rua solitária da cidade. Sozinho. Entristecido, sabedor do amor que eu deixei de te entregar. Este que eu tenho, agora, embrulhado em minhas mãos.

Tu não o queres?

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