terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O Natal

Renovo a minha fé neste Natal. O tempo é inexorável e a vida é uma corredeira de águas brancas e espumantes. As nuances deste dia me remontam à infância, ao tempo perdido e mágico de cada um de nós. Eu sou um peregrino em busca do seu caminho, atropelado pelas circunstâncias do destino. No improviso da estrada eu sigo o rastro da estrela de belém. Nada e nem ninguém sabe o que sinto, mas eu pressinto um tempo de bonança e calmaria. Assim é que eu espero este natal.

 Refaço a minha armadura neste dia. Vivo fragilmente dentro de um traje intransponível, blindado, escondido em minha alma. Mas quem não é assim? O que somos e o que fomos não importa, importa apenas no que acreditamos e no que queremos ser. No amanhecer das coisas naturais a mãe terra germina um  novo e comovente dia, e eu reconstruo a minha vida nas coisas que agora eu quero ter.  No meu interior há um sonho adormecido que desperta.

É dia de Natal. De noite o céu será estrelado e pelo mundo os duendes do papai noel distribuirão os seus presentes. Antigamente três reis magos levaram incenso, ouro e mirra àquele que seria o menino mais famoso do meu povo. Hoje, dois mil anos depois, parece que tudo se renova. Que tudo se envolve, outra vez, de amor, alegria e de de esperança.

Eu renovo a minha fé neste natal. No céu o meu olhar procura a estrela de belém.  

domingo, 15 de dezembro de 2013

O Silêncio da Madrugada

Escrevo no silêncio da madrugada. Escrevo na calada da noite, noite negra, asas de graúna num véu de sombras. A minha alma se apequena na solidão noturna, e eu limo versos perdidos e desafinados. Desmantelado estou na madrugada, entregue ao destino, acalmado pelo som dos grilos. Estou como o andarilho à procura do calor de sua amada.

Tu dormes, amortecida. Eu vejo o teu corpo e posso sentir o teu hálito, o farfalhar do teu ofego respiratório. Três responsórios eu proclamaria agora se ainda soubesse rezar. E enquanto dormes, eu sonho acordado. A minha alma se afunda na solidão noturna, soturna, introspectiva. Minha vida é um rol de lembranças e de inquietações.

 A vida é um céu iluminado, rastro de estrelas. O tempo é um barco ancorado, passageiro. Eu sou o romance escrito na janela de uma casa branca. Nada de formas ou conquistas, nada de barganhas. Lá fora é apenas a lua quem me visita.

sábado, 9 de novembro de 2013

Breve Consideração Sobre uma Tarde de Chuva

Estou seduzido pela chuva. Da janela eu vejo a luta das gotas pesadas golpeando o assoalho do asfalto, acumulando águas, escorrendo ladeira abaixo. A chuva lava a avenida, entope os bueiros, refaz o seu calvário. Vai transbordar os rios e os banhados, afogar os ratos e enrodilhar os campos de trevos e de brejos. O rumor do horizonte relampeja em meus versos.

Estou embriagado pela chuva. Minha alma transmuda com o cheiro de terra e o abafamento do ar. Quasar de cores disformes, sentimento sutil de anunciação, quermesse de vida que desalinha o coração. O som no telhado goteia os meus sentidos, e eu me sinto o menino como um dia fui. Àquele que se banhava nas calçadas, que nada temia do horizonte numa tarde de chuva.

Que me importam os trovões da tempestade, se eu estou encantado! A chuva que cai é um bálsamo e me convida à vida. A chuva que se atira ao chão mostra-me como deve ser levado à termo o coração: de roldão, pois a vida é um rio que corre em profusão. Eu vou abrir o portão de minha alma:  um menino de gravatas quer se banhar nas águas do destino.

Vem comigo!

     

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Silêncio da Janela Abandonada

O que se esconde por detrás do silêncio da janela abandonada? O que se oculta do outro lado da face de suas vidraças? Um codinome onipresente ou simplesmente uma canção cigana? Eu acordei nesta manhã assim, repleto de indagações insanas. Sensações desvirtuais derivadas de um estado de ânimo incontrolável, revel de minhas reais necessidades. Eu estou enigmático pela janela fechada de uma casa abandonada.
 
A  paisagem que a cerca me observa. Eu bebo na sede de encontrar a calmaria, mas transpiro em demasia. O que se esconde por detrás desta janela? Que vidas e mazelas debruçaram-se aqui antes de mim? Sobre o desbotado azul de arestas portuguesas, alguém ali um dia já pousou o seu olhar. Mas, agora, a janela  apenas é a marca de um tempo que passou.
 
Tu me ouvistes? O tempo passa. Nada me afasta do olhar os devaneios, e a poesia do momento me redemunhou. Eu só penso no que há por trás desta janela abandonada.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

LUMINARES DE OUTUBRO

Abro este manuscrito sob os luminares de Outubro. Mês lúdico, do peso, da balança e do escorpião. Meu coração segue o farol da tempestade e eu tenho, enfim, uma rota definida. A rocha incontida segura o peso das ondas, e minha alma navega agora em mares conhecidos e geografizados.

Os luminares de outubro me apontam o rumo, e eu sei onde estarei no dia do amanhã. Dos contrafortes de uma ilha distante no oceano azul eu me ponho a navegar, por sobre as ondas de um mar agreste e malicioso, mas já não mais assustador.

Termino este manuscrito sob os luminares de Outubro. Nada no mundo é capaz de me deter. Eu tenho comigo a força do querer, o motivo que me traz motivação. As velas de minha caravela estão içadas e, ao leme, eu já manobro à barlavento. O farol de outubro aponta o destino de um novo tempo.

"Navegar é preciso..."

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O FERMENTO DA POESIA

Escrevo o meu verso com um pé quebrado. Tresloucado estou na madrugada, insone, e a vida me parece um tango figurado. Não almejo algo que eu ja não  possa ter: agua para beber e um pouco de erva e sal. Nestes dias de loucura eu tenho me alimentado pouco.                                                                

O fermento da poesia é o meu único sustento. Nada me traz mais alegria do que têla comigo, enraizada no coração. Estou vivendo em outra dimensão, longe de mim e das coisas antigas da minha vida, mergulhado na escuridão da alma. Sobrevivo do amor que me restou.



Sou um sobrevivente de mim mesmo. Reconstruído em bronze, metal ainda fervilhante. A minha mente é a minha fortaleza, luz da certeza num vale encoberto por neblina, de onde descanso para ressurgir. O tempo de cada um é marcado em um relógio Suiço.

Aos que me querem bem eu digo: estou bem. Além disso, apenas a poesia tem o meu consentimento. Escrevo como penso, como sinto, e o meu paraíso é parte de um soneto. Nada mais lamento, aprendo sim a caminhar outra vez. Feliz é quem pode me corresponder.

O fermento da poesia é o meu viver.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

O Legado do Tempo

O legado que tenho é o tempo. Um sentimento tardio, porém intenso. A curvatura do universo me ensina que tudo é relativo, e Einstein em sua alucinada teoria assim já o profetizou. Mas o que é o tempo? Um  relógio que gira sempre na mesma direção? Um simples pedaço de uma dimensão que ainda não compreendemos? A passagem do tempo é inexorável.

Eu olho e vejo tudo o que passou. Estou preso ao instante atual e nada do que foi e nada do que virá está agora em minhas mãos. Me sinto uma folha seca em meio a uma tempestade colossal repleta de raios e trovões. Eu vejo a vida cruzando por meus olhos numa constante, num rio de fatos cotidianos e comuns, alguns em riso, outros em pranto, e vejo que é o tempo o que afinal nos aprisiona. 

O destino é limitado pelo tempo, e a dimensão do tempo, do espaço-tempo que nos cerca, tudo talvez seja apenas uma simples impressão. O relógio que vejo correndo para frente pode estar voltando, e nós, seres humanos, talvez estejamos enredados no conceito de um teorema sem saída. Afinal foi a Física Quântica que evolucionou o mundo em que vivemos.

Eu caminho para algo que desconheço.  



terça-feira, 25 de junho de 2013

O CRIME E O CASTIGO

Resignado estou. Apaixonado estive em teus braços, explosão de luz no universo de uma noite negra. Estou como um cometa desgovernado, lançado para o longe da tua orbita, esfacelado, num destino traçado para a colisão.

Tu fostes esta paixão acolhedora, arrebatadora dos destinos e sorrisos, um ponto de infinito no espaço sideral. Nós dois juntos fomos um sol uníssono, queimando o combustível das estrelas. Na tua boca eu bebi da mais intensa e alvissareira estrela.

Tu sabes disso. Sempre soube. Ouve agora o riso do meu coração entristecido, sabedor de que nada mais vai ser como será. Está vencido o porto do infinito, o ponto de onde poderia se voltar. Agora o destino vai nos desintegrar.

Eu choro e o meu pranto é seco. lamento tudo o que eu causei em ti, e de mim, apenas o que eu não vivi. Vai ser assim, e o passar dos dias vai ensinar-te como foi o nosso fim: um recomeço em nova estrada e novo rumo.

Talvez um dia a gente possa olhar pra trás e ver o que hoje aqui ficou. Um manto de amor e de estrelas. Uma esteira de prata no luar. Um pedaço do que poderia ter sido. Resignado estou, sem mais no coração para te dar.

domingo, 23 de junho de 2013

Verso Crioulo


Verso crioulo tu brotas
Das entranhas da minha alma,
É rima que em mim revela
O perfil de um índio taura,
É xucro na minha voz
Embretada nas cidades,
Mas trazes cheiro de campo
Sem perder a identidade.

O tempo, senhor dos ventos,
Te castiga e te arrocina,
Tentando talvez, por certo,
Embretar a tua rebeldia,
Mas nem ele eu te garanto,
Meu parceiro de ideal,
Terá os tentos pra trançar
As loncas pra o teu final.

Este falso modernismo
Que alguns tentam te imprimir
É pouco pra que a tua chama
venha um dia se extinguir,
Virão outros, com certeza,
E os domarás como potros,
Pois tens a força dos rios
Nas cheias de fim agosto.

Recostado a um velho umbu
Num silêncio de oração,
Aceno a Deus uma preçe
Nesta xucra devoção,
Em meu nome peço a ele
Que a tua essência se conserve
E o Rio Grande te resguarde
Num galpão de puro cerne.

Peço também ao minuano,
velho ventito parceiro,
que te aponte sempre o rumo
Dos verdadeiros luzeiros,
E que enquanto um fogão campeiro
Nos pagos do sul arder,
            Que os declamadores desta terra
            Nunca venham te perder.

( "Verso Crioulo", de Alex Brondani)
 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Amor e os seus Grilhões

O escuro corta a luz e cobre de trevas o dia iluminado. Assombrado é o dia negro que se perde, que se agarra nas chamas da vela, que sucumbe a negritude do destino. Um desatino, desafinado violão desembainhado na trincheira, só ele resistindo ao som de tambores com uma corda solta. O escuro cobre os meus olhos e enche de trevas o esplendor do dia iluminado.

Afogado estou em minhas lágrimas. Afogado e sufocado pelo ardor do fogo que me queima, que se diverte com a minha colossal aquiescência. Na natureza não se encontra amor assim, tão libertino e devastador, tão imutável e modificador. Eu já não me reconheço no seu berço, já não tenho o seu apreço e nem liberto as suas correntes. Os seus grilhões são sementes que não mais florescem.

Germinado estou, à própria sorte. Em terra de marte e de cimento, enraizado num sentimento tardio após o outono. Meus longos dedos tocam o céu da terra que me cobre, e eu espero a chuva para florescer ou fenecer. Nada por dizer. Nada por descobrir ou para se desesperar. Germinado estou à própria sorte. A morte é apenas mais uma etapa da existência.

O escuro corta a luz e cobre as trevas do dia iluminado. Afogado estou em minhas lágrimas, germinado como o ventre da mulher fecunda que guarda e gera um novo ser. Nada por fazer, nada por terminar. Enraizado num altar de comoção eu estou, a procura da minha face transmudada e esfacelada. Estou mudado, transformado. O amor agora é apenas um retrato. 

terça-feira, 28 de maio de 2013

A Poesia dos Loucos

Um verso me escapa pelas mãos. Marcador de página, ele não se encontra aqui. Despedaçou-se no universo das inspirações suicidas de onde eu bebo matinalmente. A vertente do poema é um dilema. Um enigma e uma alucinação. Mas transformar a razão em emoção é o ofício dos poetas. Lapidar a estrutura das palavras, limar os verbos soltos, mesmo os mais arrestos. Este é o ofício dos loucos.

Louco estou em radical transformação. Minha solidão é tamanha quanto a dor do verso perdido e estraçalhado. Dilacerados estamos - ele e eu - numa clara certeza de um conluio mal sucedido ou ajustado. Arrependido? Não... não é possível se arrepender no mundo das palavras. A alma do poeta é uma aquarela de incertezas, uma colcha de retalhos tecidos sempre na mesma cor.



Um verso me escapa pelas mãos. O que fazer? Como conter a sua imagem? Como demover a sua irretratável decisão? É inóspito o mundo de tecer verbos com o coração, nunca se sabe o que encontrar. Amar é o ofício que nos resta, quase um sacrifício, um suplício que procura aplausos num porão. Perder um verso é como perder uma mão, algo de vagar sem alma na escuridão.

Encontra-lo eu ainda tento pelo chão, agachado num canto escuro de uma peça embolorada, na varanda de uma mansão antiga em meio a fantasmas e retratos. Não adianta. Este verso não volta mais, perdido está. Um poema não se mostra mais do que uma vez a um poeta miserável. Mas estarei em alerta. Em prontidão, por garantia. A poesia é feita para os loucos, um orquidário construído por poucos.

Mário Quintana diria: "Ah!, a poesia..."   

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Janelas

Uma janela é uma cancela. Abre-se nela o coração, o passado, a dimensão do horizonte. Na fonte da vida uma janela é sempre uma guarida, um ponto de reflexão. Quem um dia não se achou diante de uma janela ensolarada? Olhou por ela e viu-a trazer do que passou uma experiência? Teve visões de essência ou mesmo um deja-vu? Em algum lugar de sua alma há uma janela.

Uma janela é sempre uma quimera, uma espera de algo que ainda não chegou mas que está lá, germinado, como se o futuro fosse um rio contido e acorrentado. Uma janela é um novo retrato, uma nova geração de algodoeiros. É um viver de alma, de primavera, de sonhos pulsantes em floração. Uma janela guarda tudo o que a vida ainda nos reserva.


Dizem que o coração é uma janela, que o amor é a sua cancela e que o infinito é a sua dimensão. Não, não há razão de se viver a vida por detrás de uma janela, embora ela mostre bem mais que deveria. Numa janela há bem mais que a poesia, existe a alegria e a emoção, as cores de uma infância que se perdeu na ilusão dos dias, roda-ciranda das nossas noites de verão. O sonho é uma janela que nunca se fecha.

Sempre que a vida chegar - e ela vai chegar - como um tufão de vento na soalheira, arrancando cercas e pondo tudo em rotação, sempre vai existir em algum canto de sua alma uma janela. Para que a luz possa por ela penetrar, para que um novo caminho possa para ti se iluminar.  Porque a vida é simplesmente igual a uma janela: se fecha na noite tormentosa, fenece, rebrota, para se abrir numa nova manhã iluminada.

Veja: a minha alma se esconde por detrás de uma janela...

domingo, 5 de maio de 2013

A morte do amor Aniquilado

Quando se quebra um espelho são sete anos de azar. Mas, quando o que se quebra é o coração, o que será? Padeço de uma dor imensa neste instante, de tão intensa e tão constante que minhas lágrimas são o próprio sal. Por mal ou por bem nem sempre o querer é o que importa. Às vezes é necessário matar o amor apodrecido, aniquilar a sua raiz e destruir o seu suplício.

Me ponho no lugar de uma cabeça prestes a ser guilhotinada: nada nos meus olhos, um sentimento de vazio e uma enorme sensação de estar vencido. Sob o cadafalso deste amor eu sinto a chegada do meu infortúnio. Não mais por ele insisto. Me esmero apenas em não querer sofrer, mas já não consigo permitir meu riso. Eu estou antes de Dante: entre o inferno e o paraíso.

Caminho no limbo, sobre o limo dos meus pés cruzados. Afagos e arpejos são apenas ilusões para o meu tempo, pois já não traduzem o meu olhar. Eu estou ferido na alma, morto e sufocado, sem ar. Na beira do fogo o calor queima o meu pensar, mas, perdido, eu me vejo agora derrotado. Nada mais importa. Meu coração está sangrado e repartido, o amor dividido em seus pedaços.

Eu sou o próprio amor aniquilado.

domingo, 28 de abril de 2013

Desilusão

Desmantelo a minha imagem no espelho: essência no final do caminho, numa rota de conflitos e de convergências. Tudo até o fim foi ilusório como a luz verde da névoa da manhã de outono, coberta de gelo e de neblina. Eu estou novamente diante do dilema da existência, extasiado pela essência de um amor que me faz mal mas que já me fez bem. Que quero e que não quero ao mesmo tempo.

Escrevo com o tempo em meu coração. A ilusão das coisas naturais me observa e me contempla, e eu sou uma folha seca golpeada pelo vento. Estou ferido. Em meu peito eu sinto uma dor imensa e a incisão precisa de um diapasão. Contemplo a imensidão do horizonte azul num gesto de beber o céu. Lá estão as estações, o paraíso, um arco-íris de cores vivas e infinitas.

Desmantelo a minha imagem atrás do espelho: dúvida de qual caminho a percorrer. Natural seria correr como um riacho, deslizando calmo nos beiras da existência. Mas como o sê-lo? No interior da alma humana há uma quimera que só dói quando em amor. O amor e as suas mazelas. O amor e os seus inconjugados verbos. O amor e o seu maldito ensinamento. Eu contemplo a imensidão do horizonte azul e bebo o céu no meu olhar.


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Um Olhar para o céu Noturno

Eu penso no espaço sideral. Olho para o céu e mergulho num mar de estrelas longitudinais enquanto na televisão o jornal nacional anuncia um reality-show em marte. Viagem só de ida. Viagem de colonização. Viagem na profana busca dos humanos por uma constelação de vaidades. Mas eu olho para o céu com um ar de arqueólogo. Numa imutável rotação o universo conspira ao meu favor.

De onde viemos? Eu penso que foi de algum lugar do espaço, no rastro de algum cometa destruído ou no centro de alguma nave espacial. Eu olho para o céu noturno e busco uma explicação para as minhas ancestrais vicissitudes. Na imensitude do cosmos se esconde o meu sorriso. Improviso um verbo em corda solta enquanto o silêncio do universo gira sobre mim como um pião.

Eu me sinto como uma peça de gamão sendo movida. Um peão num jogo de xadrez que é descartável. Incansável é o meu querer, infinita a minha vontade de saber, mas insignificante o meu sentido. O que somos? Para onde vamos? Existe alguém além de nós neste universo? Por certo que sim, mas enfim, sou apenas um poeta num insondável mistério de alma e de estrelas. O meu olhar se perde no fundo deste céu noturno. Soturno é o meu sentido, infinito é este momento. Eu só sei que nada sei. E Sócrates, revivido em mim por meus anseios primitivos, me contempla com um ar de professor. 




sexta-feira, 12 de abril de 2013

A Reconstrução do Poeta

O frio do fogo me aquece. Ao redor das chamas crepitantes eu conspiro com o universo e os meus anseios primitivos agem como que por instinto. Tateio a pedra que quebra o gelo, os meus dedos são longos servos do amor e do pecado, lascivos e ágeis, abstratos. Num cenário de sombra e de estrelas eu começo esta noite. Afoito é o meu coração. A razão das horas é o fermento da poesia.

Minha alegria é completa quando vislumbro a lua. Nua, deitada num espelho de prata. Na mata o silêncio noturno é inquieto como tudo o que o cerca. Um som de água corredeira. Extasiado estou e em comunhão. Toda a emoção que me sustenta desmaia em meus loucos pensamentos. Eu choro junto do vento por uma razão que nem mesmo eu sei.


O gelo da neve me aquece. Emoldurado na paisagem eu calmamente escrevo. Cada palavra celebra um novo feito, tardio, rarefeito. No espelho da minha alma eu me revejo, me reconheço, me alimento. Eu sou um servo dos segredos do universo, um novo e reluzente verso. Disperso eu estou em sentimentos, absorto, transbordante em rimas imperfeitas e em notas dissonantes.

 Eu me entrego aos sentidos. No improviso desta noite eu me visito, me refaço, me desfaço a cada assalto. Estou como o verso de um poema inacabado, abalado, pronto para a grande apoteose. Talvez sob o efeito de overdose, talvez desvendado na emoção, talvez seguindo apenas a voz do coração. Eu estou descalço, o gelo aquece e desata os meus sapatos.

Eu estou junto ao poema: em construção...

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O Mar das Ilusões

Estou num monte de sal. O mar é um horizonte sob os meus olhos, e eu recolho o ensinamento de sua imensidão. Na razão das coisas naturais eu me recolho, me encontro, me proponho a caminhar. Estou como a navegar num rio de sonhos, absorvido por caminhos perigosos e recôncavos. Eu me alimento de sal, de ar e água. Nada mais é como foi.

Como a Nau que peregrina em sete mares eu me lanço ao oceano azul. Minha alma é o sul e o meu coração a furta cor de uma paisagem descolorida. Na vida as coisas são pueris e sem idade, e uma meia verdade é o que te guardo. Espaço do meu tempo que se foi. Razão do que eu não pude ser. Espelho do que colherei na frente. O mar é uma serpente helicoidal que me sufoca, mas eu surfo mesmo assim em suas ondas.

Estou num monte de sal. A cal não é para mim uma saída, nem mesmo uma atormentação. A inércia de meu coração congela os pés que me guiam e levam, e eu mergulho no verde tantra do oceano azul. Lá, bem no fundo, estou gelado. Imerso no fogo do amor e em seu cadafalso. Estou preso ao retrato dos dias do passado, mas desancorado. Estou levado, malogrado pela corrente do destino.

Eu estou à deriva em pleno outono.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A Canção do Exilado

Cada passo na estrada é um balaço. Refaço cada pedaço do caminho em meus pedaços, descalço numa estrada de tempo e comoção. A razão comanda o tino do meu coração e eu vou tateando com os pés num chão de giz. Olho para as pegadas e lembro do que fiz e do que sei, e sei que apenas um futuro me reserva: um tempo de quebra, de novos vôos e desafios. Cada passo da estrada é um balaço. É assim que eu refaço o meu poema.

Se a alma não é pequena tudo nos vale a pena. Parafraseio os versos de um poema de Pessoa para buscar nele onde se espalhou o céu, e do mar e do abismo eu ressurjo como a luz do dia. Minha alegria é sempre compartida, minha alma agora uma partida, e os meus anseios sempre um rio corrente. Estou à frente do meu tempo e do meu corpo, absorto em novos e loucos pensamentos. O poema que escorre dos meus dedos é só mais um desafio.

Arreios são os meus sonhos, anseios do sopro que me vem da alma. A palma da mão esconde os meus segredos revelados, mas o barco que partiu de longe ainda não chegou até mim. Então eu vou ficar aqui e até o fim da festa, à espera de um verso iluminado. Debruçado na janela eu vejo um lago e um céu de estrelas vespertinas brindando o sol que despenca, e uma noite madrugueira que já se preludia em mim. É de um lugar assim que preciso, para que eu possa ficar em paz mesmo comigo.

A madrugada será agora a minha Canção do Exílio..

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O PAPA, A MORTE E A MINHA VIDA MISERÁVEL

O papa é Pop, porque o Pop não poupa ninguém. A morte é a face do medo, o remédio irremediável da existência, e eu sou um poeta miserável, perdido em meio a versos imperfeitos e lacônicos, quase surreais. Eu jamais havia pensado na vida e na morte como nestes dias, no significado de tudo o que nos acontece, nas coisas mais comuns do dia-a-dia. Eu fico pensando nos Caveiras brincando com a vida e nos versos do poeta Carlos Omar Vilela Gomes, e tudo ainda não me faz sentido.

Temos vivido assim por estes dias, pela fé. E em questão de fé, cada um tem a sua. Alguns acreditam na vida, na bíblia, outros acreditam no inferno. Eterno será o dilema humano na busca da explicação de sua existência, dentro ou fora da ciência. Eu acredito nos céus, nos deuses astronautas, e no papa. O papa para mim é um homem santo, manto de pureza e de beleza, e não importa o quanto pese o seu passado. O papa é o seu retrato: um pescador de homens.


O inferno também tem o seu retrato. Nele teve em minha cidade o seu passado, recente, quente como dizem o sê-lo. Mas eu quero agora refazer o meu verso, escrever com a alegria e o coração, dizer o sim mesmo que eu queira dizer não. A razão da vida é uma quimera de perdas, e quem vive muito, perde muito. O segredo de tudo é reencontrar os rumos no meio do caminho, refazer os trilhos e seguir na jornada dos dias e fazer o bem. Porque o Pop, o Pop não poupa ninguém.

Eu espero a fumaça branca do conclave. Ansioso, temerário, com os meus versos todos guardados num armário. Corolário será o meu pranto sobre eles quando a minha fé perder a força. Mas eu acredito no papa, no homem por trás do manto branco. Quando da varanda central da Basílica de São Pedro o protodiácono surgir o meu coração vai serenar.  E eu poderei dizer a todos os que me cercam, outra vez: Habemus Papam.

Mas nestes tempos, sei lá, talvez eu também leve um tiro a queima roupa.
   

 

domingo, 20 de janeiro de 2013

O Falso Movimento

Falso movimento. Um segundo adiante e eu me prendo, me abstenho, me embebedo. Estou entre o liberto e o acorrentado, cansado, atirado às traças. As garças brancas voam sobre o banhado, e eu sou o monstro do pântano. Meu espanto maior, no entanto, foi o de que eu não te reconheci. Eu te vi primeiro por meus olhos do coração, talvez por isso a razão dessa vertigem. Virgem foi o meu pensamento sobre o teu, de pensar que seríamos iguais no universo de nossas tantas divergências. Eu vejo agora o que só os olhos da alma podem ver.


Nada mais é como antes. Você disse isso, e eu não te contestei. Eu também sei do que me dizes, pois eu te vejo triste dia após dia, e isso só me faz afundar num lamaçento poço. Risonho tem sido o meu pranto, manto de estrelas que se apagam do meu céu uma por uma. Quando não sobrar mais o brilho de nenhuma talvez tu venhas a se dar conta de que em mim também existe a dor, amor que se dilata e se estraçalha e que não se manifesta por palavras. Talvez tenha chegado do mar a barca da partida.

Estou caído. Quem segurará a minha mão? 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Prelúdios de um amanhecer

A cor do alvorecer é sempre verde. Esperança que se derrama sobre o mundo por meus olhos, e deles a minha cor. A dor da sangria atrás dos cerros e o sol em fogo que é uma brasa que renasce. Tudo refloresce e se preludia, tudo se aninha numa canção de paz. A cor do alvorecer é sempre verde. Eu, no entanto, acordei ausente. Ausente de mim e do meu ser, divagando sobre os sonhos do meu sonho. Estou bisonho ou esta é mesmo a minha realidade? O amor que eu tenho é grande mas já não é o suficiente. Uma vertente de lágrimas se escavou em meu peito e eu já não consigo caminhar. Navegar é preciso, viver não é preciso me dirá um dos alter egos de Pessoa, mas eu lhe direi: Viver é mais que preciso.


Eu vivo de amores e de versos. Escrevo porque estou vivo e só estou vivo porque amo. Mas o amor tem as suas nuances e, por vezes, morre em plena vida. A infinita magia de viver é saber o momento de morrer, é compreender que depois do fim há sempre um recomeço, seja ele onde for. Tudo na vida tem o seu preço, o seu pecado, a sua desilusão. Não há entrega maior que a da paixão. Eu não sei navegar, minha nau não é uma nau portuguesa a deslizar pelos mares nunca dantes navegados de Pessoa. Eu sou, no máximo, um caíque pescador a deslizar nos remansos de um rio como o Uruguai ou o Ibicuí. Eu observo o sol me entregar mais esse dia: belo, misterioso, comovente. Eu choro por tudo o que nos tornamos, de repente.

A cor do alvorecer é sempre verde.