domingo, 20 de janeiro de 2013

O Falso Movimento

Falso movimento. Um segundo adiante e eu me prendo, me abstenho, me embebedo. Estou entre o liberto e o acorrentado, cansado, atirado às traças. As garças brancas voam sobre o banhado, e eu sou o monstro do pântano. Meu espanto maior, no entanto, foi o de que eu não te reconheci. Eu te vi primeiro por meus olhos do coração, talvez por isso a razão dessa vertigem. Virgem foi o meu pensamento sobre o teu, de pensar que seríamos iguais no universo de nossas tantas divergências. Eu vejo agora o que só os olhos da alma podem ver.


Nada mais é como antes. Você disse isso, e eu não te contestei. Eu também sei do que me dizes, pois eu te vejo triste dia após dia, e isso só me faz afundar num lamaçento poço. Risonho tem sido o meu pranto, manto de estrelas que se apagam do meu céu uma por uma. Quando não sobrar mais o brilho de nenhuma talvez tu venhas a se dar conta de que em mim também existe a dor, amor que se dilata e se estraçalha e que não se manifesta por palavras. Talvez tenha chegado do mar a barca da partida.

Estou caído. Quem segurará a minha mão? 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Prelúdios de um amanhecer

A cor do alvorecer é sempre verde. Esperança que se derrama sobre o mundo por meus olhos, e deles a minha cor. A dor da sangria atrás dos cerros e o sol em fogo que é uma brasa que renasce. Tudo refloresce e se preludia, tudo se aninha numa canção de paz. A cor do alvorecer é sempre verde. Eu, no entanto, acordei ausente. Ausente de mim e do meu ser, divagando sobre os sonhos do meu sonho. Estou bisonho ou esta é mesmo a minha realidade? O amor que eu tenho é grande mas já não é o suficiente. Uma vertente de lágrimas se escavou em meu peito e eu já não consigo caminhar. Navegar é preciso, viver não é preciso me dirá um dos alter egos de Pessoa, mas eu lhe direi: Viver é mais que preciso.


Eu vivo de amores e de versos. Escrevo porque estou vivo e só estou vivo porque amo. Mas o amor tem as suas nuances e, por vezes, morre em plena vida. A infinita magia de viver é saber o momento de morrer, é compreender que depois do fim há sempre um recomeço, seja ele onde for. Tudo na vida tem o seu preço, o seu pecado, a sua desilusão. Não há entrega maior que a da paixão. Eu não sei navegar, minha nau não é uma nau portuguesa a deslizar pelos mares nunca dantes navegados de Pessoa. Eu sou, no máximo, um caíque pescador a deslizar nos remansos de um rio como o Uruguai ou o Ibicuí. Eu observo o sol me entregar mais esse dia: belo, misterioso, comovente. Eu choro por tudo o que nos tornamos, de repente.

A cor do alvorecer é sempre verde.