terça-feira, 30 de outubro de 2012

Aniversário

Alguém me disse que a cada aniversário recomeçamos a vida. Engraçado. Esta frase me acompanha a madrugada deste dia que é, para mim, apenas mais um dia. Um dia como outro, como tantos, igual a muitos que se foram. Eu tento adivinhar o que vem pela frente, mas o destino é sorrateiro e sábio. Ele não me mostra os dentes. Então eu me conformo.

Eu mostro o que tenho. Não escondo os meus segredos e nem mesmo as minhas alucinações. Escrevo tudo o que penso, o que desejo, e não tenho medo de buscar o que eu quero. Eu não dou bola ao preconceito, pois este eu sei que existe. Eu apenas resisto ao alpiste que é dos pássaros para, assim, ganhar um pouco mais da minha liberdade. Eu me reconforto.

Hoje eu não estou propenso à poesia. Eu apenas penso na frase que há pouco me foi dita: a cada aniversário uma nova vida. Eu me agarro nela e vou adiante, poucas vezes tão seguro em mim. Eu estou reaprendendo a conduzir o meu destino, e vejo coisas que só agora me dão sentido. Eu estou feliz. Muito feliz. E os meus dias ainda nem sequer se equacionaram. Se você me ler, muito obrigado. Eu fico muito feliz de que você esteja aqui, comigo, pois hoje é o primeiro dos dias da minha nova e surpreendente vida. Muito obrigado.
  

sábado, 27 de outubro de 2012

A viagem

Verso e reverso no espelho. Me vejo em meio ao som de um encantamento, daqueles oriundos do Jarau, de onde nem mesmo Blau pôde escapar. Tenho em mãos o mar e uma carta de navegação. Aprovação para zarpar, barco de velas, tripulação de um homem só. Timão. Espero apenas pelo ar da tua mão.  Vem comigo, e zarparemos na viagem da imaginação. Mares nunca dantes navegados nos esperam, aventuras de piratas e corais de caramelos. Caramelos? Sim, de caramelos e cogumelos, sonhos libertos e ligeiros. O horizonte azul será o nosso timoneiro e vamos juntos perseguir o arco-íris, encontrar o baú que lá se esconde. Será ele do amor a eterna fonte? Estaremos juntos entre o mar e a imensidão. Não tenhas medo. A vida nunca é um conto de fadas de algodão, e nela não devemos fazer planos. Altiplanos de emoções se desmoronam, mas se tu vens comigo a caminhada é mais segura e altaneira. Eu te proponho a esteira do destino, onde tudo ainda está por ser escrito. Vem comigo, deixa pra trás tudo o que te prende neste chão.

A viagem está apenas começando.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Eu e a noite

É madrugada. Na calada da noite eu sorrateiramente escrevo, escondido das sombras e dos silêncios. Não quero acordar os grilos, os vaga-lumes, os besouros noturnos ou outros bichos de macega. Não, eu quero a noite inteira assim, somente para mim. Inquieta, misteriosa, profanamente misteriosa e sedutora. Eu quero a noite vestida de prenda, remendada pelo manto luminoso da lua, com os cabelos mergulhados no espelho prateado da lagoa.

Eu observo o ar noturno. Um vulto de cerração e a silhueta dos objetos taciturnos, fantasmas de uma noite grande em movimento. Ao relento eu tomo em mãos a minha caneta, o tinteiro, papel e peso morto e passo a descrever as formas da paisagem enluarada. É madrugada. Alta. Os galos ensaiam os primeiros cantos da manhã e eu os escuto em seus duetos. Ao relento. Em meio aos meus desassossegos.


Nada procuro. Eu apenas sinto o aroma intenso desta noite de minha vida. Uma noite enfeitiçada de poesia e de emoção, de um coração que reencontrou a sua alegria. Eu observo a noite porque a vida me jogou em seus braços, porque o sono me fugiu do corpo, porque a minha alma se embriagou de comoção. Eu escrevo os versos mais belos agora, embelezados pelo olhar da noite sobre mim, embelezados pelo amor que ela trouxe outra vez para o meu peito.

É madrugada. Eu escrevo sorrateiro os versos de um novo amor sem fim. Outra vez eu me oferendo ao olhar de uma mulher e o meu caminho se abre de novo em rumo certo. Por certo esta noite sabe bem como eu me sinto, rodando no infinito estranho de suas constelações. Eu tenho a noite. Ela me tem. Nós nos observamos em sua roda de moinho em giração.

Eu guardo a noite dentro do meu coração.
 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Renascimento

Martelo. Martelo prego em estopa. Martelo a vida, prego, estopa. Onde eu deixei a minha roupa? Estou nu diante de ti, com os pés descalços e de trabalho morto. O que vês? Tu não entendes o que eu te escrevo ou não quer ver? Não tape o sol com a peneira ou me condene diante do santo altar. Eu sou culpado, mas e tu? Já avaliou os teus pecados?

Martelo o prego da cruz, o crucifixo. Crucificado estou em pleno exílio, e minha alma pasta nos campos verdes do Senhor. O meu silêncio é a minha dor, mas rancor não existe no meu coração. Não, eu estou em meio à construção de um poema, iluminado estou pela poesia, pelo amor de uma mulher menina em propulsão. Mas estou crucificado.



Pecado? Eu estou curado do pecado. Pelo amor sublime eu fui tocado, e talvez por isso eu me encontre atordoado. Eu fui tocado pela lenda da paixão, não a de Cristo, mas pela mão de uma mulher em seu amor. Amor trigueiro, amor pleno de romances, de brisa e de ventos. Amor que não encontra nas palavras definição ou valimento. Pecado? Não. Estou curado. Pelo amor sublime eu fui tocado.

Crucificado eu estou, mas o que importa? Ressuscitado estou em meu espírito, abençoado pelo amor depositado. Martelo a vida, o prego, a estopa. Tu não vistes onde eu deixei a minha roupa? Eu estou nu diante de ti, mas o que vês? Um homem pelado? Um campanário? Libertado estou eu da tua avaliação. A minha alma é um cenário de transformação. Estou salvo. O amor me libertou. 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Amor e loucura

Eu te amo. Apesar dos enganos e das desilusões, apesar das minhas alucinações. Eu te amo. Amo como se fosse impossível te amar, de forma louca e boêmia, de forma inventada, construída. Na ruína deste dia ruim eu reconstruo o meu amor. Tu és a flor da minha vida, por isso eu te amo. Eu te beijo enquanto dormes, e te admiro. Miro a tua beleza no espelho dos meus olhos e me extasio. Eu te amo. Nada além disso importa.

A porta do nosso quarto está aberta e te espera retornar. Tu vais para onde o teu coração mandar, mas eu quero que tu sejas dele a dona. Detona o meu coração com tuas palavras fulas, furacão em fúria que encontrou um corredor. Eu te escuto, eu sou merecedor. Merecedor de cada navalha com que me atacas, de cada punhal que me destina. Eu te amo. Nada me alucina. Eu sou o louco que escolheu amar-te em demasia.


Tu dormes em nossa cama. Bela, serenada, ainda inquieta. Eu te descrevo como a mais bela roseira de um jardim inexorável. Inevitável por fim é eu te aceitar assim, do jeito que tu és: louca, desequilibrada, coberta de razão em cada início de palavra. Eu te amo. Tu me amas. A ninguém pertence os nossos passos que não a nossa estrada. Vem comigo. Me perdoa. Eu não consigo caminhar sem tua risada.

Amada minha, rosto de anjo, angelical sonho que me trazes à razão. Eu te contemplo com os olhos de um leão enquanto dormes. Teu corpo nu sob o lençol é o meu poema. Flor de açucena, doce mel em minha boca, amor de uma vida inteira em construção. Eu te amo enquanto dormes. Tu não rejeita. Eu te beijo a boca. Eu embalo o teu sono e te seguro pela mão.

Eu te amo. A ti foi que eu entreguei meu coração.   

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Desilusão?

Eu não posso conviver com a tua loucura. Noturna e negra é a tua alma, e eu sou o oposto do teu sol. O anzol que me fisgou perdeu sua fisga, e a rusga que me apunhá-la em todo o dia mostra-me o equívoco. Me esquivo das palavras para fugir de ti, mas tu me enredas num labirinto do qual eu não consigo me libertar. Eu te pergunto: você está disposta a me amar?

Entrega-te ao teu destino, seja ele qual o for. Se partires eu chorarei por ti, mas não irei mais te impedir. Tu pareces não querer viver o que eu vivo, compreender o que me move, aceitar o que te dou. Segue o teu caminho de romances passageiros se este for o teu destino, pois chegará o dia em que tu vais te encontrar. Eu te ofereço um porto seguro além do mar, em terra firme, longe das grandes ondas de um oceano intransponivel. Se não é o que queres, meu amor, então não ancore a tua nau nestas paragens.


Que eu sou um mistério de cruzeiro, um triângulo das bermudas desconhecido dos homens, um tesouro a descobrir. E eu procuro uma mulher, não a menina. Eu tenho tanto de valor quanto defeitos, mas os meus feitos são maiores que os meus erros. E sou merecedor de cada um dos meus caminhos. Eu te escolhi em meio a tantas seduzido por tua fala, e te trouxe com tua mala para a minha vida atribulada, mas, e você? Viestes? Ainda há tempo de zarpar no rumo do mar desconhecido.

Tu sabes como eu sou e como penso, e eu te pergunto: porque me provocas? Porque fazes tudo o que não gosto? Porque escolhe reviver o teu passado e esquece do futuro que te abre um novo céu? É nele que eu estou, não no que passou, e eu não quero mais lembrar-te disso. No improviso disso tudo estamos nós, conduzidos por um amor que não se encontra. Mais uma vez eu te procuro, e te relevo, mas agora eu renego as tuas palavras. É meu direito. É a minha derrota. Existem horas em que só o silêncio nos conforta.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Redemoinhos

Redemoinho. A vida é um redemoinho helicoidal a transmudar remansos de silêncio e calmaria. Mesmo nas águas mais calmas e profundas se escondem redemoinhos gigantes, como buracos negros escondidos numa via láctea de águas. Toda a luz é translúcida quando encontra um redemoinho. Todo o universo é um caracol. O olho do redemoinho é um girassol. Toda a luz do universo é dele, tudo é sugado para dentro: o medo, a dor, o amor e os seus valimentos. Nada escapa de sua centrífuga giratória.


A memória do tempo é quem sobrevive, e nada mais. Quando a vida cai em um redemoinho nada e nem ninguém pode escapar . Entregue-se, é inútil resistir. No final do ciclo algo novo vai surgir da enlouquecida rotação. Um redemoinho é uma demolição: não sobra pedra sobre pedra. Depois de tudo são somente escombros de uma vida inteira que se transformou. E a vida é um redemoinho helicoidal a transmudar remansos de sonhos e de aclimatação. Não espere por remansos mais profundos, comece você mesmo a transformação. Não seja tragado pela força descomunal do redemoinho, fuja para a margem. Não se deixe enganar na calmaria. Por trás de um redemoinho há uma porfia.

domingo, 7 de outubro de 2012

Canção de primavera

É chegada a primavera. Tempo de espera e de flores nos cabelos, de cores e de uma nova e envolvente alvorada. Na jornada da vida que cada um de nós conduz, a estação da primavera é a flor da terra. Nela os sonhos se refazem e os amores reflorescem. A juventude dos anos conduz a primavera, e pela magia das suas cores nós somos seduzidos.

O sol é um zumbido sobre as flores na janela. A primavera é a prima Donna que chega em caravelas do oriente, com tecidos multicores e aromas doces, ocres e amadeirados. Nada ela traz de seu passado, apenas renovados matizes e arco-íris multicores. Flores que nunca florescem nela se vestem de alegria, e a fantasia dos olhos ganhas asas em suas cores. A primavera é uma festa.

Eu caminho pelas ruas da cidade e a percebo em cada esquina, no meio dos canteiros das avenidas movimentadas e no balcão das casas e sacadas dos apartamentos que se erguem como espinhos num jardim de cimento e de concreto. Tudo é mais belo e mais vivo em sua presença, multicor. O amor encontra um cenário para se refazer, e nela eu quero me entregar e renascer. Eu sou um pintor de primaveras, um escultor de versos para os seus encantos. Um canto livre me brota da garganta, e eu me entrego à magia da estação.

Já é chagada a primavera.   

  

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dos caminhos do amanhã

Uma lágrima pela nostalgia de um momento, por um tempo que ficou para trás. Os dias se arrastam para o consumo da vida e só o que fica são as lembranças do passado. O tempo presente é tão breve, tão instantâneo, etéreo. É o elo de uma corrente rompida na alvorada dos dias que floresceram, os que guardam os nossos erros e os acertos.

Uma lágrima por este tempo. De um tempo em que tudo era um sonho coberto de flores e alecrins, onde a vastidão do campo não assombrava um jovem andarilho que forjava o seu caminho. Não existem horizontes de espinho aos olhos de quem é jovem, nem poeira capaz de turvar os seus olhos sedentos de alforria. As asas da mocidade são vagalhões que lavam e transformam a alma do tempo. Mas não reclamo do tempo. Não. Nele eu vivi tudo o que podia e tudo o que eu quis. A intensidade deserta de cada lembrança é uma quimera feliz. Eu caminho para frente, para o futuro dos meus dias arredios, dos meus sonhos alquebrados, para o meu consumismo inovador. O caminho que me leva ao amanhã é o de agora. Nesta estrada eu sigo adiante, viageiro.

Vem comigo. Que a minha estrada é um caminho passageiro.



segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Versos de Outubro

Um verso para outubro. Outubro vermelho. Outubro negro. Um verso para sustentar um castelo, para salvar um naufrágio, para oferecer aos deuses do coração. Eu escrevo com o calor da emoção que me comove, que me liberta e se liberta das amarras de minha alma, saindo de onde eu julguei não mais existir vida. Como um czarista eu refutava outubro, mês de revoluções, mês de reverência.

Eu saúdo outubro com as flores de uma primavera entardecida, resolvida em seus odores e perfumes. Eu brindo o calendário com o vinho que os meus próprios pés esmagaram. Eu ofereço a ele o meu cadafalso. No rastro de setembro este outubro que chega me traz garoa e tempestades, céus de cinza enegrecidos e caminhos borrados num horizonte gris. Mas misteriosamente eu estou feliz, feliz e sorridente, rindo sorrateiramente. Eu estou como àquele que ganhou dentes novos e que saúda a vida com um copo d'água, fazendo de cada dia uma nova celebração.

Sejas bem vindo, outubro! Mês de meus trinta e tantos anos, sejas bem vindo! Eu te recebo de braços abertos, com a alma cheia de poesia. Construiremos juntos o meu mais lindo verso, num poema novo repleto de novos ventos e alegrias. Ventos de mudança, alegrias que reascendem grandes esperanças. Meus cachorros dormem ao meu lado, e um novo amor parece florescer dentro de mim.

Outubro, sejas bem vindo!