quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A Mão de Deus

Quem és tu? A força da palavra reforça o grave da pergunta, e joga-me no âmago do meu intento. Quero o teu desapego, a tua inconfiança, o choque. Diante do espelho eu quero que tu mergulhe ao teu interior, numa viagem de descoberta e de autoconhecimento. Quem realmente és tu? O que fazes neste mundo? No fundo da alma humana reside a incerteza de suas dúvidas.

Eu sou a vertigem, o caos num cosmos em infinita expansão. Estou em rotação num universo de estrelas e quasares, de galáxias e de buracos negros. Os meus olhos são dois redemoinhos enévoros e translúcidos. Por eles eu vejo o mundo em meio à loucura dos dias, onde a maioria das pessoas que conheço vive presa em meio aos seus meandros e segredos.



Não escondo mais de mim o que sou, mas e tu, o que te guarda? A liberdade é uma garrafa de coca-cola posta à prova no congelador da geladeira: ou se bebe o conteúdo, ou a explosão é inevitável. Eu busco a minha felicidade, seguindo um protocolo de STP ou HTTP apenas para falar destes tempos modernos. Recebo-a em pedaços, em pacotes.

Não se pode ser feliz o tempo inteiro. O universo é mais velho do que a bíblia, e esta foi escrita por terceiros. Acredite no imponderável, no indecifrável, no que é indelével à teoria dos antigos astronautas. Nada no mundo é capaz de impor-se aos homens, então não me venha com rumores, com desculpas, sequelas ou consternações: o mundo sempre foi um universo de conspirações.

Quem és tu?  

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O ESPELHO

Conflituoso é o mundo em que me envolvo, torto, áspero, arraigado. Atravessado pela cruz está o meu coração, ancorado num porto solitário. Espalho no chão o mapa da minha alma e traço rotas de navegação. Conflituoso é o meu futuro, obscuro, tácito. Atravessando o deserto da consciência estou, me descobrindo, redescobrindo o meu viver.

Navego em mim mesmo. Iniciei a travessia. Não poderia voltar do ponto em que me encontro, nem faria sentido voltar agora ao ponto de partida. Preparo em calmaria a minha redenção, pois já estou curado do veneno da minha inquietação. Não há mal que dure para sempre. Para frente é que caminham os meus pés, indubitavelmente para a frente.

Conflituoso é o amor que me comove.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A RODA DO MOINHO

Quebrar o vidro da água, beber, afogar-se em si mesmo. Mergulhar no universo da alma humana, desnudar os próprios segredos. Fazer do silêncio uma oração, libertar-se da opressão do mundo. Ir à fundo nos seus próprios limites, descer ao fundo do poço. Ressurgir das cinzas, refazer o caminho. Ter filhos, ter um sonho, esperanças. Acreditar na aliança do destino. Os dias se sucedem em tardes e ocasos cor de vinho, onde todos trabalham, acordam, comem e bebem sem se perguntarem qual é a principal razão de suas vidas.

Eu te digo: a vida é a roda que gira mansa no moinho.



sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A Casa do Coração

Eu estou aqui, em meu coração. Nada mudou ali, embora tudo esteja diferente. É impossível conter uma represa quando um rio transborda pois o rio, o rio insulta a barragem. Na estiagem insólita do meu coração é que eu me encontro, ainda inerte. Eu espero. Na soalheira da vida a poesia segue em frente a iluminar a lua e os poetas, os caminhos de quem se foi e de quem vem.

Só tu me viu como eu realmente sou. Só tu me amou assim, em carne e sangue. O tempo não apaga as pegadas do vento, nem guarda as lembranças dos dias que ainda virão. O meu corpo é uma imensidão de sentimentos, profanos e insanos, misturados a minha pouca fé cristã. O amanhã é um mistério indefinido, e eu ainda estou aqui, em meu coração.

Não há razão. Um novo ano se inicia e tudo é um ciclo, uma estrela que corta a noite enluarada. Eu espero. A felicidade é um mero atalho, um fogo que de vez em quando nos aquece. Lá fora já amanhece, é quase dia, e eu estou enraizado. Nada mudou no meu coração, embora a vida agora seja diferente. Só tu sabes como eu realmente sou. Só tu me amou assim, em carne e sangue.

Tu estás aqui.