segunda-feira, 4 de abril de 2022

A ÚLTIMA ESTAÇÃO

Chove. No telhado eu escuto os pingos da chuva noturna castigando a cobertura da casa simples em que habito. Meu instinto primitivo seria de te procurar mais uma vez. De te amar nesta noite infinita e indecifrável de minha tosca vida. Mas não. Mais uma vez eu te espero. E tu não vens.

De ti eu tenho agora apenas o trivial: um bom dia escasso, um boa noite em tons cinzentos, um sorriso de melancolia. O dia da alegria já passou com o tempo junto do trem que se perdeu na última estação abandonada. Nada mais vai refazer essa noite que se foi.




Mas eu espero. Espero bastar meu próprio tempo. Espero o destino que resiste em mim desafiando o vento seco e gelado que sopra da tua boca e da tua alma. A palma de meu verso é água rasa que já não se sustenta no verão trigueiro.

Até quando? Nem mesmo o sol saberá dizer-te ou a mim mesmo. Cada dia é um fardo de silêncios cada vez mais moribundos, e o fundo do oco do mundo é logo em frente. Eu sigo adiante, pois lutar contra moinhos ainda é o meu deleite.

Está chegando ao fim nossa jornada.


(Alex R. Brondani, em 04/04/2022).