terça-feira, 31 de julho de 2012

Eu leio Kafka, mas a metamorfose ocorre em mim. Num lugar assim como o que vivo eu sobrevivo de gotas de orvalho, e o que guardo foi apenas o que nunca vi no espelho; Eu te protejo dos meus medos, e projeto uma vida indefinida que só o destino sabe qual. Sou uma nau portuguesa navegando em mares desconhecidos em busca da terra prometida. Tu não sabes de mim mais do que eu te mostro, e eu sou vasto como a imensidão dos oceanos; Um poço fundo que mergulha numa geleira de águas tormentosas, embora, por fora, tudo seja calmo e transparente. Eu leio Kafka, mas a metamorfose ocorre em mim.



Longe do fim tudo é um recomeço, mas eu te vejo nesta estrada. O céu vermelho no horizonte aponta os rumos para os meus poemas, e lá está tudo o que eu preciso: a cor invisível das manhãs. E eu me transformo a cada instante, me transmudo em cada volta, e em cada movimento eu sou um novo sentimento. A explosão das cores vai mostrar-te o que eu serei, e tu, se quiseres, vais então me compreender. Chegará o dia em que o tempo muda tudo, e o mundo que se conheçe amanhecerá com os pés pela cabeça, pois que eu sou um poema em xeque-mate: se a rima for imperfeita, será o meu fim.

Eu leio Kafka, mas a metamorfose ocorre em mim.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Um poema não escrito vive em mim, e eu vivo às voltas para encontrar as suas formas. Quero transpô-lo para o papel, mas ele é como o mel que adoça a boca: promete e se esvai, provoca e se ausenta. Eu intento com ele os meus propósitos, e de todos eles, ele é o mais belo. Combinamos rimas e roubos, arroubos e rompantes, mas sou só eu que me apresento. Ele sempre me deixa na mão.

Há anos que eu o escrevo, transcrevendo cada imagem que ele dita. A bendita força que ele traz é o que me sustenta; A folha de outono que ele derruba é o que me ergue; E o vinho que ele bebe é o que me faz lúcido e perspicaz, sagaz ao ponto de perceber a sua indiferença. Com palavras e falácias ele me tenta, e eu, como um tolo apaixonado, me envolvo em cada uma de suas tramas.



Eu já desisti de descrevê-lo, mas nunca de tentar escrevê-lo. Não tremo mais diante de seus fantasmas, nem me assusto com as dissonantes que ele causa. E sou feliz em tê-lo. Em abrigá-lo em mim e em minha alma, que vivêmos em simbiose pela causa da poesia. Mas agora, depois que eu compartilhei com ele um pouco da tua alma, ele veio a mim e se mostrou: não a mim, mas para ti. E no sonho era ele quem falava, que ditava as palavras que agora estão aqui. Agora eu sei que era ele, pois ele veio a mim como um espelho.

Este poema não escrito vive em mim. E, em sua imagem, do sonho que tive em "Deja-vi", eu agora o escrevo para ti.

domingo, 29 de julho de 2012

Muitas coisas eu não gosto em ti, amada. Muitas coisas eu relevo em meus olhos e em meu coração. Mas não me peças a razão para entender o que eu não entendo: a tua desoblíqua obstrução de sí. Eu não compreendo isso. Eu não entendo outras coisas também, mas destas eu já te falei do que me dói. O amor corrói o tempo em que ficamos sós, e nestes momentos é que as sombras do passado acordam. E eu não gosto de brigar, porque brigar é quase que uma faxina solitária.

Mas muitas coisas eu gosto em ti, amada: o brilho dos olhos, o olhar sobre o cimento, a música que capturas do vento. E eu escrevo os meus poemas - todos eles - para ti. Tu é que não os vês. Tu é que não os lês. Mesmo assim eu te retrato neles. Somente um cego não percebe o óbvio: tu não vês? Muitas coisas sou eu que não sei de ti. Outras até sei, mas nelas desacredito. Acredito que um dia nós iremos nos entender, mas até lá eu serei um Dom Quixote pelos campos. Meus moinhos são maiores do que o vento, e Sancho Pança não existe nesta história. A cegueira que me abate apaga os olhos, e a memória apaga o que de bom nós temos. Mas tu também não intenta em me apontar. Olha: eu te estendo a mão. Me guia nos caminhos desta escuridão.

Quando a alma vive sem luz, é só o amor quem nos conduz. 

sábado, 28 de julho de 2012

Para você é este poema. O meu presente. Para ti que foi, que és e que serás. A cor da manhã envolve o teu sorriso, e tudo é parte do impreciso movimento desta vida. Eu escrevo para ti neste dia, nesta madrugada fria em que minha alma se perdeu de mim. No fim de tudo, tudo é um eterno recomeço, e eu já não peço de volta o que se foi. Mas escrevo para descrever teu movimento: a dança que é, afinal, o que nos restou. A dança do vento, a dança do ventre, daquilo o que apenas importou: o amor.


Para você é este poema. Tardio. Oculto. Esbelto. Analfabeto em seus contrastes porque diz o que quer ser, mas sem saber quem é. Pois foi assim que José de Arimatéia recebeu seu esplendor; E a dor que eu sinto é algo como o Gris: ninguém a vê, ninguém a viu. E eu penso que ela de mim já se escondeu.

Para você é este poema. Tardio. Esbelto. Desproposital. Um elo atemporal que se reflete em movimento, como um rio teso que ruma com destino ao mar. Se estar assim é um desatino, eu já não sei qual é a razão. E só eu sei o que perdi.

Para você é este poema. Desafeito em seus versos. Destronado. Carregado de mortal beleza. Abra a sua caixa de facetas multicores: esta foi a única maneira que eu encontrei de te mandar este buquê de flores.



      

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Tu me falas de um sonho, e eu me vejo nele. É estranho. É mais estranho porque nós nunca nos falamos, embora os nossos olhares sejam cúmplices de um luar noturno. Tudo é ferrolho e picumã. Vermelho como o sol que nasce de uma manhã de primavera. Como um caminho que irrompe à terra envolto em brumas. Tu vens por ele, mas não é a ti que eu procuro. Eu escuto o luto de uma voz antiga, de uma avó charrua. E o vermelho desta voz me incendeia, enredando-me numa teia de mistérios e de inquietações. É muito estranho, mais ainda porque nós nunca nos falamos. Mas a voz charrua sussura aos meus ouvidos: conta-me segredos, me fala da alma de um tempo, o tempo ancestral. Eu já estive lá. Você também. Somos peregrinos que já se cruzaram em seus caminhos. Somos o improviso no verso de um poema campesino, cúmplices de algo que ainda nem mesmo compreendemos. Um rítmo flamenco enfeita a prosa de dois loucos ao duo de castanholas que desafiam o mundo em caravelas. Tu me falas de um sonho, e eu me vejo nele.

Sim, pois eu acredito em sonhos. Acredito que eles nos falam da alma; Que eles nos mostram o que somos e o que queremos. Misteriosa é a alma humana e os seus desígnios, misteriosos são os caminhos pelos quais andamos; É engraçado: eu tenho falado com uma bugra charrua nestes dias, e há muitas vidas. Ela me fala de um tempo antigo, de um tempo ancestral; De um olhar perdido que ficou pelos retratos, e de uma história que eu ainda não consigo formular. Mas eu estive lá, e você também. Pois nós somos cúmplices de um poema não escrito.

Tu me falas de um sonho, e eu me lembro dele...

 







quinta-feira, 26 de julho de 2012

Por onde esteves, amada minha, quando eu precisei de ti? Por onde andou o teu coração que se esqueceu do meu? Eu tenho dito tanta coisa sem dizer-te nada, que a sofreguidão da noite chega a me assustar nas madrugadas. Eu escuto o sussurrar dos rios por entre as pedras do cerro, e o orvalho que escorre dos meus dedos é de dor e de saudade. A mocidade há muito que me deixou, e eu fiquei apenas com a desesperança. Nela a minha alma é uma incauta prisioneira, e eu quero que tu saibas o que eu sinto. Mas eu só sei te falar pelo silêncio. Ouve: é a minha alma que chama por ti, que te reclama. Por onde esteves, amada minha, quando eu precisei de ti?

Eu hoje vou beber vinho do porto. Sim, porque os meus olhos já se embebedaram no teu corpo, e o meu coração guardou de ti apenas o teu olhar noturno. E eu sinto a tua falta. E estou sozinho nesta cama larga e fria sem os teus carinhos sobre mim. Pois eu prefiro uma meia verdade a uma mentira. Um beijo frio e seco a uma noite de vigília. Tu não compreendes, não é mesmo? Então escuta os meus silêncios, aprende a conhecê-los, que eles falam mais de mim do que as palavras. E eu tenho dito tantas coisas sem dizer-te nada que a sofreguidão da noite chega a me assustar nas madrugadas.

Por onde andas, amada minha, quando eu mais preciso de ti?





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quarta-feira, 25 de julho de 2012

A lua está sem alma. Ela emprestou o seu sorriso aos teus lábios, e hoje tu estás triste. Eu olho a lua e me sinto culpado, pois eu não consigo te alegrar. Se me afogar num mar de tempestades te fizesse sorrir, nele então eu morreria. Tu não vês o que tu causa? Se estás triste, a lua não sorri. Ela perde a alma e a noite avança sobre a terra montada num corcel de sombras. Mas eu não te culpo, embora, por vezes, eu não te entenda. É que eu sou poeta: eu só entendo da lua.

Eu sei. Tu tens todo o direito de explodir como um sol numa tempestade magnética que leva todos ao redor. Tu tens o dever de dizer aos que te cercam que ouvir as mesmas coisas todo o dia às vezes cansa. Toda a fortaleza tem os seus pontos fracos, e mesmo um castelo de luz resplandescente guarda em sí algumas sombras. Tu não podia ser diferente. Mas me diz o que te aflige, se eu não vejo. Mostra-me os caminhos que eu não enxergo, que eu quero viver o eclípse de sombras que te assola, e te ajudar. Eu te estendo a mão: aceita. Não é hora de orgulho bobo ou de desfeita. A lua está sem alma no céu, e tu não vês a causa?
É porque tu és uma vertente de luz que está encoberta; Um cometa incandescente que caiu do céu e se enterrou na terra, mas que sabe que alí não é o seu lugar. Já é hora de acordar - doce menina - pôr na mala novos sonhos e lutar por eles; Brigar por eles; Sorrir para os que vierem; Dar adeus aos que se vão; A vida é calendário de dias que se sucedem em procissão, e por vezes somos nós que devemos virar a página. 

Olhe para a lua agora: ela emprestou o seu sorriso ao teu olhar. Mas basta que um sorriso apareça nos teus lábios para que o meu mundo seja salvo.
  
                                                                        

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O que me faz bem e o que me faz mal é a minha alma. Não tentes entender tudo o que eu digo, nem concentres em mim o teu olhar, que eu sou um desatento para as coisas mais comuns e materiais.

E eu nao posso escrever mais para ti, pois que as palavras não definem o que eu sinto; Elas não retratam o que sou, nem quem tu és, e não sabem do amor. As palavras são apenas um elo, um barco que navega sem rumo nos mares do coração, e nele eu já estou bem ancorado: num coração pequeno, maroto e que me assusta, e que me prende a ele como um raio iluminado.


Eu já não sei como fugir; Eu já não sei como dizer...eu só quero te amar. Deixa eu te amar assim, menina.  Deixa eu me entregar a ti, sem medos. Deixa eu destilar as minhas culpas. Me faz me sentir seguro, se me queres, que eu não te direi do meu amor sem antes tê-lo.

Eu sou assim, é de minha natureza; Não há beleza maior em dizer-te o que eu nunca te disse; Não há beleza maior em dizer-te do que sinto. O que me faz bem e o que me faz mal é a minha alma. Não tentes me entender.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Diz-me um poema com alma. Diz-me um poema com o coração. Não há razão de tu dizer-me um poema se não te entregar antes a ele, antes mesmo dele se entregar a tí. Que os poemas tem vida própria. Eles sentem e agem por teus braços, pernas e sentidos. Eles são improvisos de alma que precisam da tua alma. Tu és o responsável por sua vida. Apenas tu pode dar-lhe asas, e a magia que faz das retinas um lugar dele viver. E se tu disser-me assim um poema, então eu vou te compreender.

Eu digo-te que os poemas te vigiam. Que eles te escutam declamá-lo verso por verso. E eu sei que eles se emocionam, dançam e sorriem felizes ao estarem contigo. E transformam-se em pássaros circulares para estarem onde tu estiver, onde tu os levar. Eu digo-te que os poemas te escolhem: não insistas num poema que não te escolher, pois ele sabe que você não será feliz. E quando isso acontecer, simplemente vire a página. Um poema nunca guarda rancores desnecessários.

Liberte a poesia contida no arco-íris do poema. Dê-lhe asas e movimentos, surpreenda-se e se entregue a ele. Pois ao fazê-lo - eu te garanto - Todos irão te compreender.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Eu sonho com um poema fantasma. Um poema de cruz. Um poema vivo. No improviso de minha alma eu sonho com a morte contracenando com a vida. O cenário é um contratempo: um cemitério. Os galhos de um Salseiro balançando ao sabor do vento; uma cruz de ferro; uma lápide fria e um batistério já esquecido. E tu sobre um túmulo: o corpo efervecido, contorcido de calor e de desejo. Vivo. Eu te procuro com o olhar, e os teus olhos são um convite para o que vem depois. Eu escrevo um poema fantasma. Um poema de cruz. Mas tu, quem és?

Tudo é lúgubre e cinza, mas o luar nos abençoa; Tudo é silêncio de saudade, mas a tua boca me consola; A devassidão da noite é doce e perfumada, e tu é a causa. As cruzes apontam e furam o céu, e eu vejo estrelas que antes eu nunca havia visto: uma ao sul, outra à leste, e outra com o nome de Taren. Tudo é lúgubre e cinza, mas o luar nos abençoa. Eu te seguro pelas mãos. Tua boca cola em meu corpo, e o teu olhar é um convite para o que vem depois. "Vem!" - Tu me dizes - "Que não existe o pecado. Entre nós existe apenas o amor."

Eu te tomo em meus braços. Teus olhos marejam os meus, e eu me entrego às curvas do teu corpo...

terça-feira, 17 de julho de 2012

Misteriosa é a noite da alma. Quem vê um sorriso não enxerga o desatino. O destino é um cavaleiro andante, e as horas são as estradas do tempo. Eu sou um caminheiro neste universo, andando entre trevos e trevas. Minhas esperanças residem em olhos que já não me fitam, e a noite dos meus sonhos é apenas um cometa incandescente que riscou o céu. Eu olho para dentro agora, e percebo o quão misteriosa é a noite da alma. Alí quem vê um sorriso não enxerga o desatino. Quem vislumbra os olhos não percebe os seus segredos. Quem julga não reconheçe o próprio umbigo. O seu escuro é negro como um céu de vinho. O seu chão uma nesga de metal queimado. O seu fio é um punhal de gelo iluminado.

Eu estou nela: insone; tresloucado; absurdamente enfeitiçado. A noite da alma é uma mandala azul que me sufoca, que se remoça em luz a cada nota musical que tu evocas. Eu olho para dentro, e só vejo os teus olhos. Tu me fitas de fora. Eu te olho de dentro. Nossos olhares são complementos, mas misteriosa é a noite da alma. O que faremos? O que queremos? Só a nós dois interessa essa resposta.

Misteriosa é a noite da alma. Quem vê um sorriso não enxerga o desatino. Quem nos julga não reconheçe o próprio umbigo.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Eu hoje não escrevo nada novo. Eu apenas transcrevo o poema de Grampola, recebido agora por e-mail. Eu poderia dizer que é um pouco de mim. Eu poderia dizer que é um pouco de ti. Mas eu afirmo que ele é muito, muito de todos nós - seres humanos - os que se sujeitam aos caprichos e aos mistérios do amor. Misteriosos são os seus caminhos, caprichosos os seus destinos. Entre, e deixe-se levar pelos versos velozes do poema:

"Quando te olho daquele jeito que não consegues entender dizendo-me que o meu olhar é enigmático e nada vê, nesse momento estou mais uma vez me apaixonando por você; me entregando aos seus encantos e as minhas vontades, me doando por inteira para aquele único momento que vivencio ao seu lado. Estou completamente entregue a paixão e ao desejo; Mesmo que tu não consigas ver, eu sei que sentes. Porque o seu olhar penetra no meu dizendo-me: Eu sei que me amas.
E sim, eu te amo... te amo a cada segundo, em cada palavra, em cada poema, em cada música, em cada movimento que o meu corpo faz quando dança pra você. O motivo de estar com você é o fato de querer assistir ao jogo do Grêmio no Estádio Olímpico e vibrar como se a minha vida fosse o gol tão esperado por todos os que lá estão. O universo é tão misterioso, não sabemos nada praticamente sobre ele e tão pouco sobre o amor. Sentimos um enorme vazio quando estamos longe de quem amamos, e vazio também é o universo.

O mundo, as coisas, as pessoas, tudo se resume numa única definição: mistério e incerteza. E assim somos nós; Você vê mistério em meu olhar, e juntos a incerteza do que nos espera. E assim será, esse é o grande mistério de tudo e todos. Mas quando se ama uma estrela nada mais é tão inexplicável... Apenas sentido. E a sua luz torna-se infinitamente acesa e viva, sendo capaz de cegar a todos os que para ela olharem. Quando te olho eu te amo...E também te amo quando eu te olho." ( By Grampola.)

Assim é mesmo o amor: misterioso; um rio corrente e profundo, um sentimento que se esconde e se revela pelo olhar. Voce não concorda?
 


domingo, 15 de julho de 2012

Eu miro as estrelas. O meu olhar se afunda na noite, e o firmamento despenca sobre a coxilha. A campina que andejo é de uma relva verde e rala, e antigos Camboatás e Cambarás povoam de silhueta o meu caminho. Eu andejo. Sou um posteiro do tempo. Esquecido. Perdido. Um pedaço da legenda viva do Rio Grande. Um tapejara que conheçe os caminhos de ir e de vir. De andar e de trotear. Que se conhece apenas pelo olhar. Eu miro as estrelas, e nelas também vejo o meu destino. Porque o destino de um teatino é viver só. Longe de casa. Longe do povo. Longe do amor.

Eu divago sobre o pampa dos esquecidos. Como já é longo o tempo que se perdeu de mim, e os meus dias se arrastam para um combate de campo. O acalanto do vento é o meu parceiro. De companheiro tenho apenas o meu verso. Um verso triste, porque triste é também o meu canto. Porque o meu coração é cheio de milongas e de mágoas, de sonhos alquebrados e desfeitos. Eu miro as estrelas e me contento, e o meu olhar se afunda na noite. Uma noite pampa. Pampa e fria. Fria de amanhecer branca de geada. Comprida por ser redonda. Negra por ser funda. Uma noite de ronda rondada a cavalo a noite inteira. Uma noite de ronda de légua inteira.

Eu escrevo um poema de alma campesina...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Quando uma estrela se apaga e um amor morre em uma explosão de luz, tudo é difícil de entender. O cosmos é uma imensidão de fragmentos, e eu sou um cometa lançado ao vazio da Via-Láctea. Nada pode me acalmar. Nada pode me gravitacionar. Apenas o vazio de minha alma combina com o vazio do universo. Meu coração está implodido. Arrasado. Desfaçelado. Assediado por desejos que devem se afogar numa constelação de lágrimas, lágrimas estas que eu já nem consigo derramar. Quando uma estrela se apaga e um amor fenesce antes mesmo de florescer é difícil de aceitar. Mas assim é o destino: ele chega e se apresenta. Impõe suas condições e reconduz tudo o que toca. É um buraco negro que suga toda a luz que há nos olhos. E nos meus olhos há apenas um rouxinol de tristezas.


Eu estou triste. Na solidão desta noite infinita eu me perco de mim e do mundo. Nada pode me consolar. Eu queria apenas estar longe, num pesqueiro distante de tudo, onde a alma se funde com a noite e com as águas. Onde o peixe represente o milagre da ressureição. Eu quero ressuscitar a minha alma tombada pela dor. Pois eu te amei como poucos. E eu te dei e me entreguei aos teus delírios. Mas eu cansei. Não posso mais viver assim, entre a cruz e a espada. Eu escolho o abismo. Me lançar à ele e mergulhar nas suas incertezas a prosseguir assim. Eu estou triste. E nesta noite infinita nada mais pode me consolar. Eu sou um cometa lançado ao vazio da Via-Láctea. Apenas o vazio da minha alma combina com o vazio do universo. Pois quando uma estrela se apaga e o amor morre em uma explosão de luz, tudo é difícil de entender.

Eu sou um cometa lançado ao vazio da Via-Láctea...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Vem dançar comigo, você diz. Mas como se eu não sei dançar? Eu apenas sei vivenciar a dança: a dança das palavras, a dança das rimas, a dança do rio da vida. Eu olho as estrelas à noite e contemplo a ciranda mágica do universo. Eu afundo os pés na água e vejo a dança musical dos rios. Eu contemplo a natureza e percebo a dança celestial do vento. E como pode eu não saber dançar e estar cercado pela dança? Eu procuro a resposta em meus caminhos e então compreendo: a dança é a poesia em movimento.

Há poesia num par de dançarinos que se encontram. Na entrega de seus olhares versos ricos e profundos se desenham, escritos na estrutura ilógica dos seus corpos. Em cada passo uma expressão reveladora. Em cada movimento um novo ato. São poetas os dançarinos, assim como tal são os poetas. Escrevem, com suas almas, uma história composta de música e harmonia, de sonho e de leveza, do amor em movimento. Nos rostos os sorrisos são a expressão de suas almas. Alí estão a felicidade, a euforia, a sua vitalidade.

Um par que vem. Outro se vai. Outro que fica. Num "Bailongo de Mato Grande" um certo Jaime já vivenciou o que eu percebo. Vem dançar comigo, você diz. Mas eu já estou no meio desta dança: eu sou a poesia em movimento.  

terça-feira, 10 de julho de 2012

Eu retorno, e as palavras me escoltam pela mão. Que eu não consigo me ausentar nem mais um dia. Que o meu coração é uma nau de tempestades. E eu prometi que voltaria, por isso estou de volta. Porque não se quebra uma promessa feita pelo coração cheio de amor. E eu estou feliz. Feliz porque a poesia me tocou a alma nestes dias. Porque eu reencontrei a alegria de escrever. Porque por mais que isso pareça ser quase impossível, às vezes acontece.

A vida é uma procissão de almas que se misturam. Num certo dia estamos juntos, no outro, nunca mais. E só a poesia é a razão da caminhada. A explicação para as armadilhas da jornada larga da vida. Então eu escrevo. Um poema, dois poemas, mas quantos poemas me restam? Eu conto a vida pelos versos que escrevo. Os anos são trevos de sorte que simbolizam apenas meus verbos, e que marcam o cronômetro do meu tempo. Eu estou vivo, é o que importa, e tudo o mais é uma estrela de algodão.

Espera que o teu verso vai chegar em breve. Talvez já no próximo soneto de amor. Talvez já na próxima leitura de tua alma. Veja: as palavras estão nos sorrindo outra vez...

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Eu odeio as palavras. Elas são tudo o que me resta e, no entanto, só me atrapalham. Eu não sei mais escrever, ou não sei mais coordená-las. Tudo o que eu escrevo se volta contra mim, como se eu estivesse num julgamento do inferno, onde a minha alma está condenada a queimar num caldeirão de frases soltas e sem sentido. Eu não quero mais escrever, falar de mim e do que sinto, do que quero ou do que desejo. Eu quero apenas silenciar e escutar a música dos verbos. Mas talvez eu seja acusado de não saber mais conjugá-los.



Eu não sei o que fazer. Se descrevo o verão a imagem que transpasso é o inverno. Se falo de flores é o outono que se apresenta. E se falo de minha alma, é o destino quem se confunde com os meus amores. Não. Eu não quero mais as palavras. Eu as renego. Eu as deixo para os poetas e sonhadores. Serei mais pragmático, menos sentimental, apenas mais um. Serei menos de mim e mais de uma razão ensimesmada. Eu odeio as palavras.

Pobre palavra: diz o que não lhe pertence...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Estas lágrimas são para ti. Eu não te dei Adeus, mas até breve. A neve é o tempo das desesperanças que derretem no verão, reflorecidas na primavera. Vivemos o nosso inverno clamoroso, e tudo nele é frio e congelado. Mas ainda existe calor. Eu sinto. Eu não o percebo, mas o sinto. No sentido de tudo é que eu me perco, e caminho em passos absortos e lentos para um destino que eu não sei qual é. Eu sinto que te perdi neste tempo, mas algo em mim me diz que o tempo é uma ciranda. E quando ele voltar talvez eu possa te encontrar. Mas agora eu vivo o meu inverno clamoroso, e tudo o que eu tocar vai congelar. Há que se esperar o tempo do verão das flores.



Nós não somos inimigos. Mas também nem mais amigos. Somos algo que ficou no limbo entre o vazio e o amor. Algo que se descreve como um passado recente mas que se tornou distante. Um sonho que não vingou. Eu olho a lua no céu e te percebo. Tudo é tão difícil de explicar que eu já não sei nem mesmo o que fazer. Eu estou sendo levado, conduzido pelos ventos gelados deste inverno que me agride. Que é bom também mas que é, ao mesmo tempo, ruim.

Tu não vês? Aponta-me. Pois eu não enxergo a luz...

domingo, 1 de julho de 2012

Eu hoje não consigo escrever. O que tem sido para mim um mar hoje é uma tempestade. Sobre mim um raio e um clarão de assombros e devaneios. Eu leio a bíblia: "estou como água derramada, e meus ossos se desconjuntam. Meu coração está como cera, derretendo-se dentro de mim. Minha força secou como argila, e minha língua colou-se ao maxilar..." Eu sou assim. Estou assim. E o Javé que o livro fala parece, às vezes, que não sabe que eu existo. Mas eu sei que sim. Eu não perco a esperança e nem a minha perseverança.

Eu hoje só consigo pensar. E penso nas coisas que habitam o mundo e nas que me habitam. Eu tenho amor em mim, e tenho muito. Eu tenho a glória da incerteza também. Eu não sei o dia de amanhã, e isto é, para mim, uma bênção. Eu me perdoei pelos erros que causei. Eu me penitenciei. E minha alma e minha poesia ganharam a maturidade do tempo. E os dias que virão serão bonanças para que eu saiba valorizar o que tive. E para que eu encontre sabedoria para guardar o que sobrou.

Eu tenho em mãos um universo. Eu tenho em mãos a maturidade do tempo.