quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Noturno

Escuro. Eu nada vejo. Apedrejo um véu de sereno e madrugada. Uma lágrima escorre dos meus olhos, e eu a percebo. Eu a seco, sinto o sal da sua mágoa, e sigo em frente. Digo para quem a entende que eu errei, e reconheço. É difícil reconhecer um erro, mas me é digno. Eu glorifico o meu pecado e me liberto. Ainda é escuro, e eu não te vejo. A luz é algo que vampiros não suportam, e eu trago alho, cruzes e uma bala de prata em meus pertences.

Escuro. Eu escuto o silêncio e te procuro. A tua tristeza é esta mágoa que eu causei. Só eu entendo o que causei. Mas eu compreendo que te quero como a um queijo suiço. Eu sou um rato entorpecido que não consegue carregar o que ganhou da vida, e sempre volto ao calabouço dos esgotos. Eu te venero. Velo o teu sono a noite inteira. No escuro da noite eu te procuro, mas tu dormes, longe, numa casa antiga, numa cama larga e solitária, esvaziada por minhas infiéis diossincrassias.

Noturno. Eu me transmudo. Sou um lobo solitário uviando para a lua. Tu choras - nua - ferida pela ausência das palavras. Eu me torturo. Escrevo versos duros num poema sem sentido e compaixão, e o amor eu já não sei simplificar. Talvez eu já não saiba mais amar.

Eu ainda te procuro.

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