quinta-feira, 31 de maio de 2012

Eu penso que nunca gostei de café. Bebo café desde que me lembro, mas gostar, penso agora, gostar mesmo eu nunca gostei. Sempre bebi porque o destino assim me fez: um bebedor de café inveterado. E eu não devia estar alí. A luz da Usina desde há muito foi extinta. Os pesados motores a carvão foram desativados e deles só restaram lembranças: A torre imponente. A visão majestosa do guaíba. A imagem de uma Porto Alegre que não existe mais. E eu não devia estar alí, não naquela tarde. Mas na Usina se bebe o mais belo café de Porto Alegre.


Tu estavas linda. Vestia uma calça preta combinando com as sandálias, também negras. Eu sempre reparei nos teus calçados. O azul do céu ornamentava os teus cabelos, e tu e a tarde disputavam os olhares dos curiosos. Quem era a mais bela? Eu não tive dúvidas. A tua blusa de alças deixava a mostra os teus pequenos ombros. Eu nunca havia reparado nos teus ombros. E o branco que vestias apenas quebrava um paradígma: branco e preto. Azul e verde. Uma combinação de arco-íris. Tú eras, dentre todas, a mais linda.

Mas uma imagem me valeu por mil palavras. E eu não acreditei no teu amor. Me atirei nos apelos da luxúria e do prazer, e reneguei tudo o que tive em minhas mãos. Eu estava errado, e só agora é que percebo. E a cada dia que eu te conheço mais, mais o meu coração me cobra a esta minha ingratidão. Julgar sem escutar a outra parte. Fechar caminhos sem ouvir as suas razões. Eu penso que nunca realmente gostei de café. E naquela tarde eu odiei qualquer variação de cafeína.

Mas eu não quero mais lutar contra o que sinto. Eu já não quero te esquecer. Eu quero agora apenas beber do café que tu fizeres. E eu queria que tu soubesses disso.




quarta-feira, 30 de maio de 2012

Hoje eu quero fuder apenas. Transar como um animal enfurecido. Hoje eu amanheci sem as flores do amor em minha alma. Eu quero deixar de ser racional e seguir somente os meus instintos. E te desejo assim, desprovido de qualquer malícia, absorto de qualquer intimidade. E eu sei que tu sabes como me tratar assim. Estou visceral. Meu corpo treme e eu desejo apenas a tua bunda, os teus seios, o teu sexo. Eu quero te sugar como se suga a uma laranja, e depois eu quero que tu me faças a tua laranja. Eu quero apenas fuder.



Quantas vezes um poema dá voltas apenas para dizer-te isso? E a tradução literal deste texto é simples, e em sua essência, é tudo o que afinal queremos: saciar o corpo com a total procura do prazer, da carne, do último gozo.

Não. Hoje eu não quero nem mesmo o teu beijo. Hoje eu quero apenas fuder.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Acelerado anda o meu coração. Eu não tenho ainda a mesma visão dos teus olhos, e a minha vida calma e serenada se arrebenta em teus braços, a 150 Km por hora. E mesmo assim eu me entrego aos teus domínios. Onde estou que não me reconheço mais? Eu que sempre fui centrado em um mundo de madeira, onde tudo era posto em seu papel?


Caçadores de emoções nós somos, como loucos numa comédia romântica em busca de um final feliz. Mas como navegar neste mar de emoções sem estar alucinado? Confiando. Se entregando. Na estrada desta vida meu coração tem andado assim: Caroneado. Acelerado. Vivo e transbordando adrenalina.

Caçadores de emoções, eis o que naturalmente somos. Você não havia percebido?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Seis horas da manhã. Eu já não durmo a dois dias. Meu coração é uma aquarela de sangue e de sêmen, de sexo e calmaria. Estou vivendo o que não posso conter em mim, e as palavras são a minha última esperança. Eu não sei o que o destino me reserva, e já pensei tantas vezes sobre ele. Em refazer a estrada. Em recomeçar a vida. Eu sei que o que passou me reabilita, mas quase não tenho forças. Hoje eu estou só, e me sinto o último homem sobre a terra. Um deserto de solidão se derrama sobre mim, e o fim é apenas o início de mais uma duna. Mas eu vou sobreviver.



Porque no fim da estrada há uma luz de fogo. E eu vou queimar os meus medos para te encontrar nesta estrada. Eu sei que tu és menos minha a cada dia. E sinto que o destino força nossos caminhos separados. Mas eu quero vencer a força do destino. Que um homem e uma mulher foram feitos para o encontro. Para o encontro dos olhares, dos destinos. O encontro dos corpos lancinados em busca do prazer. Tu me dizes que me esperas, mas eu te digo: Eu só te espero em meu futuro, e não agora.

No filme da vida isto, de repente, é o amor.

   

domingo, 27 de maio de 2012

Por onde anda o nosso amor, amada? Tu me olhas como se não me conhecesses mais. Teus arroubos e rompantes são tão claros, diretos, incisivos. Eu não sei mais onde te encontrar. Os nossos caminhos se tornaram divergentes, e eu não sei o porquê. Pois fomos como um rio até esses dias. E nossos destinos pareciam entrelaçados. Onde foi que se perdeu a poesia? Na mesa de jantar que nunca usamos? Nos sonhos, os meus e os teus, os que deixamos de sonhar? Ou foram nas coisas pequenas que as horas do dia nos deletam? A rotina, os problemas, a propria falta de carinho?


Eu não sei, e tu também não o sabes. Os nossos caminhos se tornaram divergentes, e o transcurso do tempo é inevitável. E como é difícil compreender a rota colisiva de um destino. Aceitar o que os dias nos dizem, dia por dia. Não sofrer. Não se entregar a dor. Por onde anda o nosso amor, amada?

Talvez ele já tenha se acabado. Talvez seja a hora de recomeçar. 

sábado, 26 de maio de 2012

Eu hoje amei uma estrela. Ela caiu em meus braços, bem em frente da igreja onde eu estava. Eu sempre olhei para o céu e pensei em amar uma estrela. Mas eu não pensei que fosse possível. Uma estrela não cai do céu porque a queremos. Uma estrela não cai do céu apenas porque pedimos. Mas a minha caiu. E em meus braços. Em frente da igreja onde eu pesava os meus pecados.

E nos beijamos freneticamente. E nos tocamos. Apenas um gato veio ver o que fazíamos, e como um mestre da geografia dos telhados, ele sumiu. Nem mesmo o vento, nem mesmo a lua, nem mesmo a noite. Ninguém parecia disposto a nos julgar. Os cristãos dormiam em suas casas, mas, detrás das janelas, o que estaria? Eu amava uma estrela que caíra em meus braços, e o cheiro de seu sexo em minhas mãos me alucinava, o seu olhar me provocava. Uma estrela tem as mãos de fada, um gosto de acuçenas, e um olhar que é o próprio mistério do desejo. Eu não resistí aos seus encantos. Entreguei-me com o meu coração e a minha alma. E nos amamos sem pensar nas consequências, eu e a estrela. 

Sim. Eu amei a estrela que hoje caíu em meus braços; Mas já estou só, que ela, como sempre, voltou ao firmamento. Então eu abro a minha janela e durmo, na esperança de que ela caia agora em minha cama, e para sempre.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Uma borboleta cruzou por mim em direção ao arco-íris. Eu fiquei olhando-a, sendo levada pelo vento, numa suave sincronia de movimentos. Naquela tarde tu eras aquela borboleta, sendo levada pela vida. Conduzida ao extremo de teus rumos, mas sem pensar nas consequências. Eu não sei o que senti quando te vi, mas, agora, eu entendo melhor o teu destino. Tu és uma flor de Lótus. E, por o sê-lo, estás acima das coisas naturais. Eu não posso controlar o teu destino. Controlar-te seria como represar um rio corrente. Mas eu te amo na medida de tuas nascentes. E aceito tudo o que me for indiferente, inquieto, não onipresente. Porque eu te quero na máxima medida do querer. E não posso dar-te ainda tudo o que eu preciso ser. As virtudes do querer transpassam qualquer palavra, e tu és uma borboleta voando na direção do arco-íris. Eu não vou te prender. Não posso. Não quero. Quero apenas beber do mel que tu destinares a mim. Quero assim como o menino que busca o pote de ouro no final do arco-íris: viver o que puder desta ilusão. E pensar que, no final, possa realmente existir um pote de ouro. Se ele existir, com certeza, tu estarás pousada sobre ele.

Qual o sentido da entrega? Nesta madrugada de outono eu me pego a pensar nesta quimera. Qual o sentido da entrega? O teu corpo nú sobre o meu e a cumplicidade do teu beijo? Os teus seios esmagados no meu peito e nossos olhares de silêncio? Não. Isto não é entrega. É apenas um ato. Um momento. A busca final dos amantes insatisfeitos. Entregar-se é doar-se por inteiro. Despir-se de todo e de qualquer preconceito. Lançar-se de um penhasco sem questionar o coração.


Eu me entrego a ti quando te amo. Entrego-te a minha alma. Entrego-te o meu corpo. Entrego-te até mesmo o ar que me sustenta, e por essa razão eu te sustento. Se nos entregamos, as horas que passamos são eternas, sinceras, desprovidas de cobrança. Eu me entrego assim quando te amo: puro. Liberto. Sem pensar nas consequências.

Estar contigo é como escrever um poema.  
A mangueira de minha rua está florescida. Eu nunca havia reparado nas mangueiras. Eu só conhecia a manga, a fruta, o produto final. Eu nunca havia visto sequer uma mangueira florescida. Onde estive neste tempo? Em que mundo eu me encontrava prisioneiro? Como pude em 37 anos nunca ter percebido a sua beleza? A vida intensa e mágica que me rodeava enquanto eu estava fechado numa sala, sem ver os dias, absorto no trabalho?

E, no entanto, a velha mangueira sempre esteve alí. E nas tardes em que eu passava por ela, com a mente mergulhada nos números e nos cálculos financeiros, indiferente a tudo ela florescia. E dava frutos. E completava o seu cíclo, ano a ano, no rítmo manso de seu tempo. Mas ela sempre esteve alí. Eram os meus olhos que estavam fechados. Fechados para o resto do mundo ao meu redor que não o meu. Um mundo pequeno, miserável. Um mundo de prisão e de mentiras. Eu agora a percebo. E vejo tantas outras coisas também. Coisas que a vida atribulada e agitada me fez esquecer. Coisas simples e pequenas mas que são, na verdade, a essência real de tudo. Daquilo o que nos faz ser o que somos: homens de alma. De coração. Seres providos de desejo e de sentidos.

A velha mangueira floresceu nesta manhã. Desta vez eu vou acompanhar a sua magia. E também todo o mundo que existe lá fora. Um mundo que se renova a cada dia, a cada momento, a cada segundo na volta do relógio louco e insano que é a vida.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Eu queria o amor de Neruda. Mais do que isso, eu queria a intensidade dos amores de Neruda. Eu poderia, como ele, escrever os versos mais tristes nesta noite. E poderia refazer todos os caminhos que há para se chegar a um beijo. Mas eu não tenho o amor. Eu tenho apenas a dor. A dor de ter tido o amor em minhas mãos e deixá-lo cair. A dor de não conseguir refazer, parte por parte, tudo o que de bom ele me trouxe. E de não conseguir serenar a minha alma enquanto piratas e fantasmas assaltam o meu coração. Eu sou um navegador em desatinos navegando por um mar repleto de corais e de recifes. O farol da poesia é a minha única rota de navegação.


Eu poderia escrever a minha canção desesperada se tivesse toda a sua agitação em minha alma. Mas eu não sou como ele, amada, embora tu assim tenhas me dito. Eu sou um poeta louco que traz na alma a incerteza dos ventos e o outono das primaveras. E minha vida é uma aquarela de romances que ficaram sempre pela metade. Mas eu já ví o amor. Já o sentí. Aquele que arrebata. Aquele que chega e que nos leva. Aquele que nos destrói e o que nos salva.

Sim. Eu hoje queria um pouco dos amores de Neruda. Eles seriam algo parecido com tudo o que eu já senti por ti.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Estive com Quintana nesta tarde. Tomamos um café na praça XV. Ele estava vestido com uma camisa branca, e uma áurea celeste lhe envolvia o corpo, lembrando os céus azuis de Porto Alegre. A mansidão do Guaíba pairava em sua face, e no seu rosto havia um sorriso misterioso e encantador. Eu não soube decifrar. E caminhamos juntos pela Rua da Praia, ele me mostrando cada detalhe da arquitetura da cidade antiga, escondida dos olhos desatentos da multidão enlouquecida. Um telhado, um balcão num solar envelhecido, uma janela ornamentada por mãos que já não existem mais. 

Na praça da Alfândega ele parou. Me perguntou se eu gostava de sua imagem sobre o bronze, e não esperou sequer a minha resposta. E eu o seguia, conduzido por um mar de poesia e encantamento, compreendendo por fim a minha própria alma. E em silêncio eu vi a mais bela das cidades, conduzido assim pelo mais belo dos poetas. E por onde passávamos a poesia florescia, como se andássemos sobre um livro em branco, em construção. Em frente ao Majestic ele parou. O seu olhar mirou o antigo hotel como se olha algo estimado, e então ele me disse sobre o amor: Só o amor perdoa a tudo. Só o amor perdoa o próprio amor. Mas esteja preparado ele me disse, pois o ato de amar é bem mais fácil que o perdão.

Um olhar de paz reveladora ele me deu. E pelas portas do seu antigo hotel ele adentrou, sorriu, e sumiu. E foi assim que eu conheci a Porto Alegre de Quintana.
Eu não te quero mais. Isto é finito. Definitivo. Mas como fazer para entender o coração? Ele não sabe disso, embora tudo o que pesei e o que senti. Indiferente a tudo ele te quer. Devastado de paixão ele te quer, sem querer saber dos teus conchavos, dos teus enleios, dos teus desassossegos. Mas é certo: eu não te quero mais. Não como dantes, não como ontem. A magia do teu amor me abandonou, e o que ficou foi apenas o gosto do pecado e da luxúria, o cheiro de tudo o que vivemos, numa cumplicidade maior.


Eu serei apenas o teu amante, minha amada, nas parcas horas que restarem da tua existência, se quiseres. Mas eu não serei mais teu. Não como eu pensei em ser, um dia, e para sempre. A vida é uma madrugada de quimeras, e nesta espera eu vou seguir o meu caminho em paralelo. Longe, distante de ti a cada dia, certo de que na esquina do tempo eu não mais te encontrarei. Se seremos amigos? Isto eu não sei. A amizade não combina com a necessidade. E tu fostes a minha maior necessidade nestes dias. Nos dias em que nos amamos. Nos belos dias em que eu vivi do teu sorriso.

Eu não te quero mais. Isto é finito. Todo o resto é uma réstia de horizonte.

sábado, 19 de maio de 2012

Um anjo e um demônio. Eis a tua verdadeira face. A foice e o martelo ceifando as almas dos fracos, encantados pela auréola verde do teu olhar. Um mar de possibilidades, mas um oceano de mentiras. Um demônio travestido de anjo, mas mesmo assim angelical. Seria Celestial mesmo em pecado se não fossem as tuas pequenas e insinceras artimanhas. Tu me teves e eu te tive, na mais intensa glória do meu coração. Mas falo apenas de mim, que dediquei a minha alma ao momento supremo, ao teu beijo enlouquecido, ao teu olhar de marte.


O maior dos sacrilégios é deixar o amor chegar ao coração do outro se você não está pronto. E eu estive. E te esperei. Mas não te reconheço mais. E por mais dor que eu sinta agora, mesmo assim eu te farei partir. E embora eu pense que estas palavras já não possam te tocar, mesmo assim eu te direi: Não há paz na mentira, nem pode haver amor na inconfiança. Segue a estrada do inferno de tua vida, amada minha, que eu vou agora seguir pelo inferno do que sobrou da minha. No final, como Nero, ambos queimaremos numa Roma incendiada pela loucura dos homens, lado a lado.
A poesia está em mim. Estou sensível, o coração aberto ao toque das palavras e das emoções. Minhas mãos tremem e meu corpo em torpor se entrega ao apelo da vertigem. Eu posso escrever um milhão de versos sem parar, mas como Neruda, serão eles sempre os mais tristes. Tu fostes a causa, mas já não é a razão. Tu fostes a partida, mas já não é a chegada. A poesia me conduz agora, e por ela eu sou um trem desgovernado no rumo da colisão inevitável.


A poesia está em mim. E quando isso acontece o meu coração transborda. E não serei boa compania nesta hora, pois os meus olhos sempre irão buscar os horizontes. Porque a minha alma sempre estará na estrada em busca do que talvez não exista: de um verso perfeito. De um amor proibido e primitivo. De um romance de verão intenso mas que será, no fundo, bem mais do que isso. Bem mais do que amor. E muito mais do que se pensa.

Eu sou um trem desgovernado no rumo da colisão inevitável. Não me segure, amada, que a poesia está em mim.

Você não sente?
O meu amor anda distante. Não sei onde ele anda. Talvez ande perdido numa gôndola veneziana que partiu na sexta feira da paixão e me deixou aqui, sem dentes e sem um lápis de escrever.
O meu amor é cego às vezes. Brinca comigo como se eu não soubesse de seus casos, de seus acasos e descompassos. Eu finjo que não vejo. Demonstro que nada sinto. Contraceno com o ciúmes e represento numa cena de tango argentino. Mas eu não sou um ator, nem contramestre. E sempre naufrago em meio às minhas vicissitudes.

Pobre do meu amor. Vive de remendos, de arremedos, de uma única e pequena esperança. Dele só me restam duas lágrimas de poeira.
Um gladiador eu fui, hoje não sou mais. Sucumbi ao destino dos cristãos em seu temor. Meus pecados todos foram medidos e pesados, e eu fui condenado ao tormento da consciência. Há muita mágoa em mim agora, mas também amor. Há muita dúvida em meu coração, mas também esperança. Controlo tudo o que posso, mas quando a vida se dispersa, me desespero.

Penso que agora já aceitei o meu destino. Pois eu fui um gladiador e não sou mais. E neste Coliseu que abrigou meu sonho eu te renego, e digo-te que tudo não passou de uma ilusão. E o fogo que nos queimou avassalou os verdes campos de minha alma. Na terra arrasada nova semente vai brotar eu sei. E mais amarga. E forte como a rama que queimou e que rebrota vigorosa. E firme como a raíz que não secou porque foi fundo. E serena como a primeira folha que avistou em seu ventre a nova luz.

Eu fui um Gladiador. Hoje eu sou a minha própria fortaleza.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Eu vivo uma madrugada de poentes fugazes.

Tudo é escuro e nebuloso, e a luz é uma fina guia que já não me conduz. Estou perdido. Não sei para onde vou. Meus caminhos há muito que se despedaçaram, e o amor me abandonou. Eu sou uma ave que já foi de rapina, mas que agora agoniza em seu ninho, tombada, com a alma mortalmente ferida. Ressurgir das cínzas não me é possível. Eu não sou uma fênix.


O esplendor da dor me dilacera a alma. E estou tão só que o eco do universo pode me atingir e me matar. Mas eu não queria estar em outro lugar que não aqui.
Hoje eu serei o meu silêncio e a minha solidão. Hoje eu serei a encarnação da tua última lembrança.

Eu vivo uma madrugada de poentes fugazes.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Um segredo pode esconder-se num beijo? Pode. Num toque de corpos inundados de desejo? Pode. Um segredo também pode esconder-se num sentimento, numa paixão que arrebata e cega o olhar dos amantes e dos amados? Desde que o mundo é mundo que ele pode. Um segredo pode esconder-se até mesmo numa simples flor de cabelo.



Quais são os teus segredos, amada? O que escondes de mim, de ti, e do mundo? A verdade é uma bolha de ar presa num fundo de oceano. E quando o tempo virar, ela sempre vem à tona.
Um segredo nunca resiste a um olhar, pois a janela dos olhos é a janela da alma, e nela, nunca resistimos. Teus olhos sempre me revelaram teus segredos.

domingo, 6 de maio de 2012



POEMA EXPLÍCITO




Um predador:
É assim que eu me sinto,
Um leão faminto à espreita de sua presa
Sem a coragem de te devorar.

Mas seria capaz de te destroçar
Se me fosse permitido;
Exito e, sem saber qual o motivo,
Espero o sinal verde dos teus olhos.

Tento dormir,
Mas meus hormônios desvalidos
Transbordam as minhas artérias
Numa enxurrada louca de testosterona
Que me faz enrijecer.

Quero entender,
Mas a tua pele sobre a minha
É suficiente para mim.

Sinto o teu toque,
Meu corpo queima como o marfim,
E eu farejo o teu hálito em meu nariz.
 
Na tua boca
O meu beijo é de um furor despudorado:
Salivas, dentes, corpos mordiscados,
E a minha língua entrelaçada
Age para sugar teus grandes lábios.

- A implicitude de tudo é um descaminho,
E já não respeito nem sequer a tua pureza. -
 
Como a uma “Petite” francesa eu te desejo,
E com os dedos percorro cada pedaço de teu corpo;
Engulo o teu sexo, mastigo as tuas ancas,
Vêntre, coxas, ânus, seios...

Meu membro é um punhal que te procura,
E a tua boca um madrigal.

Como o sal do mar eu te aconchego,
Concha de ostras, sonhos de outono,
No mar revolto das tuas pernas eu aderno.

Tu és uma amazona,
E eu sou um potro sem dono;
Numa fúria incessante nos amamos,
Luxúria e carne, gritos e gemidos,
lá fora o mundo nem sabe que existimos.

Tu gozas. Eu gozo sobre ti.

Nossos corpos quentes se confundem
Numa mescla de suor e de vertigem:
Braços e pernas, troncos e membros,
Somos um ser apenas, em regozijo.

Tu me olhas. Nada te digo.
Apenas acaricío os teus ouvidos,
E tudo finalmente chega ao fim.

(By Alex Brondani)

sábado, 5 de maio de 2012

Desenho o teu corpo com as mãos. Em minha mente cada curva dele é um bálsamo de paz e de esperança. Paz porque a encontro em teu sorriso. Esperança de que tudo é mais do que pressinto. Na geografia de tua pele eu fecho os olhos, e percorro com os dedos até os teus mais intímos segredos. Teus olhos vivos me procuram, questionam, não me entendem. Eu simplesmente te sinto.


Desenho o teu corpo agora em minhas mãos. Tu estás longe, e eu distante de ti. Mas é tudo como se estivesses aqui.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Uma noite de amor é uma noite de entrega. Um caso de cumplicidade. O silêncio de um olhar é um fruto do pecado, e as mãos devem ser o complemento de um beijo. Devem tocar o corpo da mulher amada como se tocassem a um objeto desejado e inalcansável. Como um oceano em movimento.


Digo-te que tu não sabes usar as mãos, e te provoco. Meu corpo necessita do teu corpo, e tuas mãos são o nosso elo de contato. Pois te quero assim, mas também em mim: em meu sexo, mãos e boca, mãos e mãos. O meu corpo necessita do teu, e te provoco.
Tu me dizes para não procurar o que não existe. Então eu te escuto. Não procuro, apenas escuto o meu coração. E ele me diz que tudo esta serenado. Que a estrada está quieta e que os horizontes estão em seu lugar. Mas como acalmar a alma do poeta quando tudo parece estar quieto, perfeito demais? Desconfie do silêncio, diz-me o soneto. Mas, no fundo, eu sei.

Escrevo como penso, e como penso me apresento. Sou um pouco de vento e de mundo, de deserto e de saudade. Mas também sou alegre e triste, um misto de mistério e sentimento que me transpassa a alma. Minha flauta é de silêncio, e tudo o que tenho não é meu, mas do universo. Sou como um verso perdido, uma corda solta ao violão que não pode emitir seu som. Sou assim, sempre serei. E pensei que tu já o soubesses.



Na madrugada em que o amor me corrompeu, o teu olhar foi a única esperança. E eu fui tomado pela vaga de uma tempestade tropical que me fez estremecer. Agora já não sei qual o caminho. Viver assim é como um desalinho, um paradoxo de tempo. Viver entre o real e o imaginário. Mas só o destino me conduz, amada.


O meu amor anda pela metade. Não se completa.
Espero o tempo de meu tempo em cada dia, e ainda tenho por mim os meus silêncios. Quando estou contigo não estou, e tu andas distante de mim. Quando estamos juntos, não nos amamos.
O amor tem estas contradições: é mais do que carne, desejo, toques e segredos. Mas, por vezes, ele deve ser simplesmente isso: carne e sangue, os corpos livres e soltos, se entendendo.
O meu amor anda pela metade. Não se completa.

Não sei quando aconteceu. Simplesmente aconteceu.
Quando dei por mim minha alma estava inundada por teu sorriso, e o teu riso cristalino era o cristal do meu coração. Ver-te a cada dia foi me levando aos teus caminhos, como se a vida inteira eu lhe aguardasse. Na estrada do destino não existem paradas. Apenas andamos.
E eu fui tomado pelas ondas que carregam os ventos. E por elas a minha vida de paz e tranquilidade foi lançada num oceano. Como um navegador dos sete mares eu conduzo agora os meus dias. Vivendo um dia de cada vez. O hoje. O agora. Não sei quando aconteceu. Nem como.
Sei apenas que o teu sorriso agora é a minha necessidade.