terça-feira, 25 de junho de 2013

O CRIME E O CASTIGO

Resignado estou. Apaixonado estive em teus braços, explosão de luz no universo de uma noite negra. Estou como um cometa desgovernado, lançado para o longe da tua orbita, esfacelado, num destino traçado para a colisão.

Tu fostes esta paixão acolhedora, arrebatadora dos destinos e sorrisos, um ponto de infinito no espaço sideral. Nós dois juntos fomos um sol uníssono, queimando o combustível das estrelas. Na tua boca eu bebi da mais intensa e alvissareira estrela.

Tu sabes disso. Sempre soube. Ouve agora o riso do meu coração entristecido, sabedor de que nada mais vai ser como será. Está vencido o porto do infinito, o ponto de onde poderia se voltar. Agora o destino vai nos desintegrar.

Eu choro e o meu pranto é seco. lamento tudo o que eu causei em ti, e de mim, apenas o que eu não vivi. Vai ser assim, e o passar dos dias vai ensinar-te como foi o nosso fim: um recomeço em nova estrada e novo rumo.

Talvez um dia a gente possa olhar pra trás e ver o que hoje aqui ficou. Um manto de amor e de estrelas. Uma esteira de prata no luar. Um pedaço do que poderia ter sido. Resignado estou, sem mais no coração para te dar.

domingo, 23 de junho de 2013

Verso Crioulo


Verso crioulo tu brotas
Das entranhas da minha alma,
É rima que em mim revela
O perfil de um índio taura,
É xucro na minha voz
Embretada nas cidades,
Mas trazes cheiro de campo
Sem perder a identidade.

O tempo, senhor dos ventos,
Te castiga e te arrocina,
Tentando talvez, por certo,
Embretar a tua rebeldia,
Mas nem ele eu te garanto,
Meu parceiro de ideal,
Terá os tentos pra trançar
As loncas pra o teu final.

Este falso modernismo
Que alguns tentam te imprimir
É pouco pra que a tua chama
venha um dia se extinguir,
Virão outros, com certeza,
E os domarás como potros,
Pois tens a força dos rios
Nas cheias de fim agosto.

Recostado a um velho umbu
Num silêncio de oração,
Aceno a Deus uma preçe
Nesta xucra devoção,
Em meu nome peço a ele
Que a tua essência se conserve
E o Rio Grande te resguarde
Num galpão de puro cerne.

Peço também ao minuano,
velho ventito parceiro,
que te aponte sempre o rumo
Dos verdadeiros luzeiros,
E que enquanto um fogão campeiro
Nos pagos do sul arder,
            Que os declamadores desta terra
            Nunca venham te perder.

( "Verso Crioulo", de Alex Brondani)
 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Amor e os seus Grilhões

O escuro corta a luz e cobre de trevas o dia iluminado. Assombrado é o dia negro que se perde, que se agarra nas chamas da vela, que sucumbe a negritude do destino. Um desatino, desafinado violão desembainhado na trincheira, só ele resistindo ao som de tambores com uma corda solta. O escuro cobre os meus olhos e enche de trevas o esplendor do dia iluminado.

Afogado estou em minhas lágrimas. Afogado e sufocado pelo ardor do fogo que me queima, que se diverte com a minha colossal aquiescência. Na natureza não se encontra amor assim, tão libertino e devastador, tão imutável e modificador. Eu já não me reconheço no seu berço, já não tenho o seu apreço e nem liberto as suas correntes. Os seus grilhões são sementes que não mais florescem.

Germinado estou, à própria sorte. Em terra de marte e de cimento, enraizado num sentimento tardio após o outono. Meus longos dedos tocam o céu da terra que me cobre, e eu espero a chuva para florescer ou fenecer. Nada por dizer. Nada por descobrir ou para se desesperar. Germinado estou à própria sorte. A morte é apenas mais uma etapa da existência.

O escuro corta a luz e cobre as trevas do dia iluminado. Afogado estou em minhas lágrimas, germinado como o ventre da mulher fecunda que guarda e gera um novo ser. Nada por fazer, nada por terminar. Enraizado num altar de comoção eu estou, a procura da minha face transmudada e esfacelada. Estou mudado, transformado. O amor agora é apenas um retrato.