quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Eu espero este agosto com um poncho de lã. Meu afã diz que o frio será intenso, mas o calor vai aflorar. Na pampa em que eu habito tudo é verde como uma manhã gelada de inverno, e eu sou um cerne de bom anjico em alambrado. Por mim nada passa, nada escapa, e eu tenho visto e sentido muita coisa aos meus ouvidos: o canto de um sabiá, o murmúrio de um riacho, os resmungos do vento minuano. Eu sou um aragano nas estadas infinitas do meu pago, e bem à cavalo me sobram arreios para o que vier. Eu canto o inverso da mulher que vai chegar e colher as flores que eu plantei, e o homem que vai beijá-la no ventre que eu semeei. Eu sou a semente da poesia, em mim nada floresce - mas acontece -, em mim apenas um agosto gelado se principia.

É chegada a hora de se iniciar a travessia. Pois se eu não ousar fazê-la agora, quando será? O que será?  O destino que me envolve indica que se a coragem não me empurrar, talvez já seja tarde para voltar. E eu sou um aragano nas estradas infinitas do meu pago, o que trago em mim não vale nada além do que um vintém. Eu penso, e a reflexão me fez pensar que o fim é apenas um novo começo, que tudo o que se foi é parte do que fui e não do que eu serei. Eu caminho em passos largos pela ponte que me leva ao outro lado. É lá que estão meus sonhos, é lá que está tudo aquilo que eu um dia ousei deixarem se adonar: a minha vida, a minha liberdade, os mais belos versos da minha poesia.

Sim, é chegada a hora de se iniciar a travessia. 

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