quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O RODEIO DAS ALMAS

Eu estivo. Estou lívido, disperso, disfarçado, atrelado às coisas mais comuns do dia a dia, ainda atordoado. Meu coração compassa um marcapasso firme, seguro, revel da condição humana. Nada parece estar fora do lugar, tudo representa a condição comum, e o mundo parece a ilusão de ser igual. Mas nada mais pode ser assim.

Não agora, não mais para mim. Estou me traduzindo, compilando os sentimentos que descubro, sorrindo quando devia chorar, chorando quando devia sorrir, inventando escoras onde eu possa segurar. Meu cais seguro foi lançado ao oceano, onde eu navego em águas turbulentas e desconhecidas. Eu estou me descobrindo em nova condição.

Tu chegastes assim, de sobreaviso. Quando o vimos, tu já estavas ali, quieto e sorrateiro, a espreita de assaltar os nossos sonhos. E, de repente, quando prontos estavam nossos sorrisos, quando ajustados estavam nossos destinos, tu iniciou o sopro da vida, um coração acelerado batendo a 120 batimentos, um turbilhão de sentimentos novos e febris, todos de roldão.

Eu não sei o que dizer desse amor imenso que eu sustento por ti, mas já entendo. Entendo o nó na garganta, a viagem do pensamento nos momentos mais inóspitos, improváveis, todos repousados em ti. Entendo o dia que transformou a minha vida e me fez o homem mais feliz do mundo. Eu entendo, e te espero, e mesmo sem ver-te e conhecer-te eu já te amo com todo o meu amor.

Sejas bem vindo, meu filho.



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

QUASARES

Eu sou a estrada do mundo. No fundo e no interior de mim há um sem fim de caminhos e destinos, uns improvisados e alguns pavimentados, outros ainda por trilhar. Eu sou o deserto do mundo. No final das fronteiras de areia vivem os meus sonhos, pirâmides construídas para resistirem ao tempo, ao vento, ao sol. No farol das estrelas eu me destino.

Os meus olhos desenham caminhos. Até onde eu vejo o horizonte eles se alinham e se divisam, afundados no oco do mundo. No fundo dos olhos eu tenho guardada a alma estradeira que me incendeia, a poeira dos caminhos, a roda do destino. O meu mundo roda sobre o eixo de um moinho.


Eu sou a estrada do mundo, imundo, sujo e maltrapilho. Um andarilho que gira em torno de seu próprio eixo, arrocinado pelo fogo da estrela, sob o sol, ao derredor do sol. No rol das ilusões que me guardam eu persisto, resisto, e sigo em frente.

Eu sou a vertente do mundo.


sábado, 22 de novembro de 2014

Poema De amor

Quantico é o meu pensamento. Essência de íons e prótons em desmantelamento, reconstrução em espiral de um orbital desvirtuado, colidido e atrevido. Impedido estive, desterrado em monte extremo, abnegado como àquele que esteve no deserto. O meu verso fervilha em meu  coração e eu não suporto mais a tirania da emoção, da chantagem barata, da casualística indeterminação do ser. Agora eu quero reflorecer.


Nada poderá me impedir. Não lute contra a minha natureza, alie-se se quiser sobreviver. Não tente conter meu pensamento, o impulso de meu descobrimento, nem as coisas naturais que me são puras. Não tente, pois esta é a minha identidade, a minha vertente verdadeira e já tardia: não tentes dominar minha rebeldia.



Este é o meu derradeiro aviso, o improviso de um verbo intransitivo, a imposição do abismo de onde brota toda a minha inquietação. Não mergulhes neste mundo querida, pois ali reside a minha ferida e nele nem você é convidada. Pois eu sou como o trem desgovernado posto no eixo sobre um trilho de gelo. Então não me faças derreter.

Porque quântico é o meu pensamento, essência de colisões e contratempos, itinerário vivo das minhas indagações. Eu estive Impedido em monte extremo, soterrado, posto em baixo de pesado fardo, mas agora estou aqui. Então olhes para mim: o meu verso fervilha no meu peito, eu refloreço pelo teu veneno, e tu és ainda a dona do meu coração.

Mas eu não suporto a tirania da emoção.


sexta-feira, 4 de julho de 2014

ÁGUAS CORREDEIRAS

A barragem está rompida. As águas correm livres pela encosta, procurando o mar. Chove desde três dias, crescente e espuma nos rios, galhos, amarilhos, a vida louca na corrente em assovio. O rio que escapou da caixa beija a várzea inundada e barranqueira, leva o meu sonho, lava a minha alma. A estrada agora é uma balsa na corrente em desvario.

As águas correm, insultam a barragem e rumam ao mar. Quem é capaz de lhes impor? O torpor do coração lança-se à correria das nascentes, transbordante, inconstante, rolando serra abaixo. Eu tento segurar o golpe absurdo das águas, o peso do mundo, a massacrante pressão da minha brutal incongruência.

A barragem está rompida, desde a nascente. E como se faz o rio voltar ao leito uma vez desfeita a inundação? O leito será outro, outros serão os peixes e os pesqueiros, outras vidas terão nascido, outros destinos escritos. Feneço diante do holocausto dos meus próprios pés, recobertos pelo barro seco, areado, arrancado das encostas da barranca.

As águas correm enquanto eu estou parado, abismado, reflexivo. Eu vejo o futuro e o que plantei florescer num chão de vidro, enquanto pratico velhos hábitos, velhos erros, o infiel e o involuntário ser. Tento entender os meus impulsos e o que fazer de mim, e assim, concertar o espelho do meu interior.

Eu sigo em frente. O mundo queima numa fogueira de vaidades.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

O AMANHECER


Amanhecido o dia eu me disperso. O pensamento manifesto e um caminho por trilhar, o mar, o sol, a longitude e a latitude. Giro como a terra sobre o meu próprio eixo, meio dia, meia noite, a face oculta da luz e a melodia da minguante. A vazante carrega os desalinhos e os improvisos conduzem o meu destino. Eu sempre fui este arcabouço.

Nos calabouços da alma eu me acompanho. Medonho tem sido o meu sorriso na procura, e eu busco a única razão da minha loucura. Mergulhado no inquietante universo das tormentações, romper a arrebentação é a minha necessidade, superar o trauma da chegada ou da partida. Tudo sempre em mim foi uma questão de vista.

Eu sigo em frente e a poesia me acompanha. Somos dois errantes caminheiros, nem sempre juntos, por vezes amantes. Itinerantes e perdidos, se nos achamos construímos o poema. A cena deste dia se descreve em harmonia e eu caminho com alegria sobre os meus pés descalços. Amanhecido o dia eu recomeço. O trabalho da abelha é a minha inspiração.

domingo, 22 de junho de 2014

O MEIO DO CAMINHO

Estou em transe, neblinado. Avogado das causas naturais, inanimado. Do meu lado um  gato sobre um saco de batatas, o cheiro de adega e de vinho envelhecido. No improviso desta tarde a mansidão do tempo desliza numa onda mansa sobre mim e o meu espírito. Eu me sinto realizado.

Estou em evidência, concentrado. O meu verso é o reflexo de um passado iluminado, poema repassado e alterado, revisto e rarefeito. Eleito dentre os meus vertedouros mais sensíveis, imperfeito ele brota da origens de mim mesmo.  

Eu estou no meu maior afloramento. O tempo, embora leve o rio da vida, me traz maturação. Eu sou a imensidão da vida e o universo em constante floração,  um cosmos imponente e incompreensível em vertical evolução. Visível é o meu consternimento. Incontrolável e meu estado de emoção. 

Eu estou em transe, em comunhão. O poema é a razão do meu alvorecer, e eu sou o escaler levado pelo rio da poesia, conduzido ao destino incompreensível que é revel de minha própria natureza. Não procurem em mim a fidelidade da beleza, não busquem em mim um diapasão, que eu estou entre o que rege a loucura e a razão.

Eu sou o poema, a redenção.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

A CRUZ E A ESPADA

Eu sou livre pela palavra. A poesia me liberta a alma e da asas ao meu coração numa propulsão que só aos cometas se compara. Nada me tolhe, nada venda os meus olhos ou prende a minha busca pela razão dos dias. Eu sou um homem de ciência, não de religião. Acredito na imensidão do cosmos e na teoria da relatividade, e só por isso não me convencem divindades ou crenças sem sentido. A religião faz mal ao homem e aos seus ouvidos, impede-o de superar seus horizontes.

Eu sou um poeta, não um tolo. Entendo que a finitude do homem é o seu tesouro, mas sei o quanto é difícil suportar o peso da própria existência. A minha crença está baseada na fé da natureza, nas coisas que se fazem medir, naquilo que se pode tocar. Eu sou o mar e  mesmo assim quando eu não posso explicar, ali é que reside a minha essência. A beleza da poesia e da ciência está em não encontrar a solução, mas em formular a melhor alternativa.

Eu vivo num mundo digital, entre a cruz e a espada. Vejo a vida farta de alguns e a agonia de tantos, mas o mundo sempre foi o que ele é, e isto não é culpa da fé ou dos cristãos, mas sim da natureza humana. Por isso não me repita versículos e capítulos decorados, incompreendidos e mal interpretados para justificar a minha verborragia. Hipocrisia seria culpar pastores e esquecer que o livre arbítrio foi entregue aos homens.
 
Eu sou um poeta, crítico da minha fé. Não existe censura nas rimas do meu poema.  

domingo, 1 de junho de 2014

OVERLOCK

Sobrevivi ao dia D. Desembarquei diante do fogo, exposto ao calor e à arrebentação. Na razão de tudo o único propósito foi sobreviver, pisar a terra firme, conhecer a minha nova Normandia. Por entre os mortos eu sobrevivi, por entre os feridos eu prossegui. Meu dia foi um batismo de sangue e de agonia, mas nada foi realmente uma tragédia. Sobreviver ao dia D foi a estratégia, e agora avanço em passos largos ao interior do continente.
Na vertente do meu ser existe um ponto cego. Estranho é o meu espelho, reflete o caminho desconhecido. Mas piso firme e em rota agreste eu revisito o meu objetivo. Eu já estive aqui, antes de hoje, em  outro tempo e movimento. Me são familiares os argumentos e não são estranhos os rochedos da paisagem. Depois do exílio agora eu descanso à glória do meu triunfo.
Nada está conquistado. Caminho em campos minados e fragmentados, espalhados por eles o trampe e a suástica. Mas eu vou em frente, olhos no horizonte e com a força do coração. Dimensiono a razão do continente e vislumbro um futuro de boas esperanças. Eu bem sei das tragédias que assolaram o meu passado e que ainda assombram os meus pés descalços.

Do desembarque ao ponto de encontro foram três dias, inconstantes horas de espera e de meditação. A emoção que tomou conta de mim agora quer solidificar conhecimento, aprender a usar os instrumentos de navegação. Vou para o centro, miro o coração do velho continente. Com um contingente de pequenos homens eu quero libertar o meu destino, escrever um novo livro. 

O desembarque foi meu recomeço.  

quinta-feira, 27 de março de 2014

O DIA DO JUÍZO

É madrugada. O mundo dorme embalado pelo peso estelar do universo, em rotação constante. Tu dormes, e o teu corpo é um escaler num oceano de paz e calmaria, onde a vida se apruma e toma um  rumo definido, radiante, depois da tempestade. Era o que eu pensava, e juro que sim, era o que esperava. Mas nada é o que parece nesta vida efêmera e miserável: a montanha russa vive em ti e em tua alma.

Eu não quero mais a palma deste manicômio. Cômico é o meu retrato no espelho por esperar algo diferente de tua verve, inconstância vida, influenciada por anjos e demônios. No outono deste dia eu escrevo o que será o meu caminho agora: divergente, sem volta. Eu já vivi o suficiente para saber o que me espera, do que te espera, o que afinal pensei moldar e ser capaz. É inglório o meu infortúnio.

Eu me entrego. Abandono o barco como o dizes. Pouco importa, a porta da razão é a minha ciência. A vida é simples e a minha crença é justa: eu não busco um sonho na utopia, não faço do amor a hemorragia, não desintegro a minha alma numa busca sem sentido. Eu suporto a minha dor e o peso da existência, mas e tu? Pisas num chão de areia...

Eu irei romper a minha última fronteira.   

segunda-feira, 17 de março de 2014

A TEMPESTADE

Chove. De onde estou eu escuto o tilintar dos pingos no telhado. Chuva pesada, carga sobre a cidade que espreita, à sombra, o desenrolar da tempestade. Eu caminho na direção da porta, em busca da visão privilegiada: a água derramada sobre o asfalto, a grama, terra, poeira e o concreto. Como que levado o meu olhar repousa ao largo, sem um rumo definido. Eu sinto algo que transcende a natureza.

A leveza do olhar me faz cigano, andarengo de caminhos, de destinos. Um trovão repentino e logo em sequência o relâmpago, um tranco, no âmago da alma eu me conforto. Talvez, sei lá, se a teoria estiver certa eu tenha vindo da água e, em essência, nós todos sejamos água e alma. Talvez a ciência explique a sensação de acolhimento, este embalar de sons oceânicos em meus ouvidos.

Chove. A tormenta torrencia a tarde que se perdeu do sol. Eu me debruço na janela e contemplo a tempestade. Se acendem as luzes da cidade, o tempo se fecha em cor de chumbo e cinzas e outras cores que eu não sei como explicar. Eu estou de volta ao mar da minha gestação: um quase poeta, um quase louco, um menino afoito que quer voltar à infância.



domingo, 9 de março de 2014

A MADRUGADA DOS POETAS

Eu atravesso a madrugada com o coração abarrotado. Estou calado, triste, reflexivo. Apenas de improviso eu respiro e me alimento. Sustento  a tese oral da felicidade, mas a verdade é que o meu coração está triste, assentido, amortecido pelo fardo do destino. Assino embaixo de tudo o que eu  te digo mas, e daí? O que me importa saber se o sol nasce no leste? A grande peste é este poema inacabado.

Malfadado verso, eu te prescrevo! Te solfejo e te rastejo, e limo, e te cortejo; Invento um verbo solto, um verso torto, um anagrama, tudo para ver-te pronto e tu, no entanto, insiste em não se poetizar. Eu tenho ganas de jogar-te ao mar, ao sal, à aridez do fogo do deserto e do desterro, mas eu te desejo mais que tudo. Neste paradoxo impuro eu vivo em constante amor e ódio.


Eu atravesso a madrugada amargurado, os olhos estalados, a boca seca. Penso na essência das coisas naturais, no sentido simplista da vida cotidiana, no arranjo coletivo de se viver. Tudo hoje me faz sofrer e querer ser algo além de mim, assim como um herói de revistas em quadrinhos ou um cometa sem destino vagando por uma rota indefinida. A vida é a linha-dura que mostra-me a sua face inconstruida.

Desatinado verbo, outra vez eu te esconjuro! E te conjugo, e te martelo, e te atropelo e te bendigo. Eu sou o mendigo de Victor Hugo louco para roubar-te e alimentar-me. Tu, no entanto, já não me estende a mão. O meu coração queima na insana razão de destrocar-te, mas eu te desejo mais que tudo. Neste dilema inculto eu permaneço inerte, insano, afogado no pranto desta imperfeição.

Eu atravesso a madrugada com dois punhais nas mãos...

domingo, 2 de março de 2014

O AMOR E A SUA DEFINIÇÃO

O meu amor está além da madrugada, é madrilenho, brilha num céu de estrelas fugidias. Todavia sou somente eu para contê-lo, e recebê-lo, e acalmá-lo, e navegá-lo em suas maresias. Heresia seria não aceitá-lo em mim, e assim por fim deixá-lo ir embebedar-se no cosmos infinito. Não, isso seria o oitavo pecado capital.

O meu amor é intencional, carnal, abstrato. Silencioso e recatado, afoito e despudorado, suado, salivado. É ausente de afagos e acesso de fogo, afoito e desafinado. Ele está além da madrugada, distante da lua dos poetas e dos romances destroçados da literatura. Ele é um cometa incandesceste jogado numa órbita qualquer.



Quem não irá querer um amor assim, tão atraente e sedutor? Tão envolvente, encantador? Temas a dor se não o tens, procure-o, cultive-o, saboreie o seu dissabor. Aprecie a vida enquanto o amor não chega, morra à sua espera se preciso, não se atire ao precipício de um falso amor. Poucos são aqueles que o encontram.

Olhe para o céu noturno e abra os olhos, pois o amor está além da madrugada. Ele é soturno, brilha num céu de estrelas fugidias, esconde-se nas mais improváveis avenidas. Eu vou agora atirar-me nos seus braços, aproveitar do tempo que me resta, desfrutar do que de bom ele me traz. Nunca se sabe: amar é abrir uma caixa de Pandora.




quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O TRIÂNGULO DAS BERMUDAS

O triângulo é o mistério, deserto e desterro em águas ocasionais. Mas a vida é um mistério, maior mesmo do que qualquer triângulo. Você vive e um dia acorda para a vida, entende que o tempo é apenas uma efemeridade, compreende os seus verdadeiros valores. Mas é difícil abrir os olhos e ver além do horizonte até onde descansam os ocasos do poente.

Renascer é reviver. Se faz necessário quebrar o vidro, quebrar a porta que venda o coração. Buscar a razão das coisas naturais é tão difícil quanto aprender a caminhar e, no entanto, é algo natural. O mundo está montado num encadeamento marxicista e capitalista que arrasta almas e ideologias, premiando conquistas e individualidades. A humanidade está perdida em seus meandros.

O homem é o seu próprio lobo. Você é a sua própria incompreensão. 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Mormaço

Noites mormaçentas. Noites quentes e sedosas, escaldantes. Nunca dantes em minha vida eu ví tamanho fogo, limiar de esfrego, chumbo derretido. Eu tenho tido noites indormidas e calcinantes, meus poros vertem água, sal e sangue. Um ventilador de teto me refresca, me resseca, enlouquece a minha noite. Meu corpo pinga em gotas de desejo e de hortelã.




No divã das horas eu sigo em meu derretimento. Sou um cubo de gelo atropelado, assoprado, desmanchando aos poucos. Louco? Não. É apenas o calor... 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A Mão de Deus

Quem és tu? A força da palavra reforça o grave da pergunta, e joga-me no âmago do meu intento. Quero o teu desapego, a tua inconfiança, o choque. Diante do espelho eu quero que tu mergulhe ao teu interior, numa viagem de descoberta e de autoconhecimento. Quem realmente és tu? O que fazes neste mundo? No fundo da alma humana reside a incerteza de suas dúvidas.

Eu sou a vertigem, o caos num cosmos em infinita expansão. Estou em rotação num universo de estrelas e quasares, de galáxias e de buracos negros. Os meus olhos são dois redemoinhos enévoros e translúcidos. Por eles eu vejo o mundo em meio à loucura dos dias, onde a maioria das pessoas que conheço vive presa em meio aos seus meandros e segredos.



Não escondo mais de mim o que sou, mas e tu, o que te guarda? A liberdade é uma garrafa de coca-cola posta à prova no congelador da geladeira: ou se bebe o conteúdo, ou a explosão é inevitável. Eu busco a minha felicidade, seguindo um protocolo de STP ou HTTP apenas para falar destes tempos modernos. Recebo-a em pedaços, em pacotes.

Não se pode ser feliz o tempo inteiro. O universo é mais velho do que a bíblia, e esta foi escrita por terceiros. Acredite no imponderável, no indecifrável, no que é indelével à teoria dos antigos astronautas. Nada no mundo é capaz de impor-se aos homens, então não me venha com rumores, com desculpas, sequelas ou consternações: o mundo sempre foi um universo de conspirações.

Quem és tu?  

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O ESPELHO

Conflituoso é o mundo em que me envolvo, torto, áspero, arraigado. Atravessado pela cruz está o meu coração, ancorado num porto solitário. Espalho no chão o mapa da minha alma e traço rotas de navegação. Conflituoso é o meu futuro, obscuro, tácito. Atravessando o deserto da consciência estou, me descobrindo, redescobrindo o meu viver.

Navego em mim mesmo. Iniciei a travessia. Não poderia voltar do ponto em que me encontro, nem faria sentido voltar agora ao ponto de partida. Preparo em calmaria a minha redenção, pois já estou curado do veneno da minha inquietação. Não há mal que dure para sempre. Para frente é que caminham os meus pés, indubitavelmente para a frente.

Conflituoso é o amor que me comove.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A RODA DO MOINHO

Quebrar o vidro da água, beber, afogar-se em si mesmo. Mergulhar no universo da alma humana, desnudar os próprios segredos. Fazer do silêncio uma oração, libertar-se da opressão do mundo. Ir à fundo nos seus próprios limites, descer ao fundo do poço. Ressurgir das cinzas, refazer o caminho. Ter filhos, ter um sonho, esperanças. Acreditar na aliança do destino. Os dias se sucedem em tardes e ocasos cor de vinho, onde todos trabalham, acordam, comem e bebem sem se perguntarem qual é a principal razão de suas vidas.

Eu te digo: a vida é a roda que gira mansa no moinho.



sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A Casa do Coração

Eu estou aqui, em meu coração. Nada mudou ali, embora tudo esteja diferente. É impossível conter uma represa quando um rio transborda pois o rio, o rio insulta a barragem. Na estiagem insólita do meu coração é que eu me encontro, ainda inerte. Eu espero. Na soalheira da vida a poesia segue em frente a iluminar a lua e os poetas, os caminhos de quem se foi e de quem vem.

Só tu me viu como eu realmente sou. Só tu me amou assim, em carne e sangue. O tempo não apaga as pegadas do vento, nem guarda as lembranças dos dias que ainda virão. O meu corpo é uma imensidão de sentimentos, profanos e insanos, misturados a minha pouca fé cristã. O amanhã é um mistério indefinido, e eu ainda estou aqui, em meu coração.

Não há razão. Um novo ano se inicia e tudo é um ciclo, uma estrela que corta a noite enluarada. Eu espero. A felicidade é um mero atalho, um fogo que de vez em quando nos aquece. Lá fora já amanhece, é quase dia, e eu estou enraizado. Nada mudou no meu coração, embora a vida agora seja diferente. Só tu sabes como eu realmente sou. Só tu me amou assim, em carne e sangue.

Tu estás aqui.