sexta-feira, 12 de abril de 2013

A Reconstrução do Poeta

O frio do fogo me aquece. Ao redor das chamas crepitantes eu conspiro com o universo e os meus anseios primitivos agem como que por instinto. Tateio a pedra que quebra o gelo, os meus dedos são longos servos do amor e do pecado, lascivos e ágeis, abstratos. Num cenário de sombra e de estrelas eu começo esta noite. Afoito é o meu coração. A razão das horas é o fermento da poesia.

Minha alegria é completa quando vislumbro a lua. Nua, deitada num espelho de prata. Na mata o silêncio noturno é inquieto como tudo o que o cerca. Um som de água corredeira. Extasiado estou e em comunhão. Toda a emoção que me sustenta desmaia em meus loucos pensamentos. Eu choro junto do vento por uma razão que nem mesmo eu sei.


O gelo da neve me aquece. Emoldurado na paisagem eu calmamente escrevo. Cada palavra celebra um novo feito, tardio, rarefeito. No espelho da minha alma eu me revejo, me reconheço, me alimento. Eu sou um servo dos segredos do universo, um novo e reluzente verso. Disperso eu estou em sentimentos, absorto, transbordante em rimas imperfeitas e em notas dissonantes.

 Eu me entrego aos sentidos. No improviso desta noite eu me visito, me refaço, me desfaço a cada assalto. Estou como o verso de um poema inacabado, abalado, pronto para a grande apoteose. Talvez sob o efeito de overdose, talvez desvendado na emoção, talvez seguindo apenas a voz do coração. Eu estou descalço, o gelo aquece e desata os meus sapatos.

Eu estou junto ao poema: em construção...

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