quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Amor e os seus Grilhões

O escuro corta a luz e cobre de trevas o dia iluminado. Assombrado é o dia negro que se perde, que se agarra nas chamas da vela, que sucumbe a negritude do destino. Um desatino, desafinado violão desembainhado na trincheira, só ele resistindo ao som de tambores com uma corda solta. O escuro cobre os meus olhos e enche de trevas o esplendor do dia iluminado.

Afogado estou em minhas lágrimas. Afogado e sufocado pelo ardor do fogo que me queima, que se diverte com a minha colossal aquiescência. Na natureza não se encontra amor assim, tão libertino e devastador, tão imutável e modificador. Eu já não me reconheço no seu berço, já não tenho o seu apreço e nem liberto as suas correntes. Os seus grilhões são sementes que não mais florescem.

Germinado estou, à própria sorte. Em terra de marte e de cimento, enraizado num sentimento tardio após o outono. Meus longos dedos tocam o céu da terra que me cobre, e eu espero a chuva para florescer ou fenecer. Nada por dizer. Nada por descobrir ou para se desesperar. Germinado estou à própria sorte. A morte é apenas mais uma etapa da existência.

O escuro corta a luz e cobre as trevas do dia iluminado. Afogado estou em minhas lágrimas, germinado como o ventre da mulher fecunda que guarda e gera um novo ser. Nada por fazer, nada por terminar. Enraizado num altar de comoção eu estou, a procura da minha face transmudada e esfacelada. Estou mudado, transformado. O amor agora é apenas um retrato. 

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