quinta-feira, 24 de maio de 2012

A mangueira de minha rua está florescida. Eu nunca havia reparado nas mangueiras. Eu só conhecia a manga, a fruta, o produto final. Eu nunca havia visto sequer uma mangueira florescida. Onde estive neste tempo? Em que mundo eu me encontrava prisioneiro? Como pude em 37 anos nunca ter percebido a sua beleza? A vida intensa e mágica que me rodeava enquanto eu estava fechado numa sala, sem ver os dias, absorto no trabalho?

E, no entanto, a velha mangueira sempre esteve alí. E nas tardes em que eu passava por ela, com a mente mergulhada nos números e nos cálculos financeiros, indiferente a tudo ela florescia. E dava frutos. E completava o seu cíclo, ano a ano, no rítmo manso de seu tempo. Mas ela sempre esteve alí. Eram os meus olhos que estavam fechados. Fechados para o resto do mundo ao meu redor que não o meu. Um mundo pequeno, miserável. Um mundo de prisão e de mentiras. Eu agora a percebo. E vejo tantas outras coisas também. Coisas que a vida atribulada e agitada me fez esquecer. Coisas simples e pequenas mas que são, na verdade, a essência real de tudo. Daquilo o que nos faz ser o que somos: homens de alma. De coração. Seres providos de desejo e de sentidos.

A velha mangueira floresceu nesta manhã. Desta vez eu vou acompanhar a sua magia. E também todo o mundo que existe lá fora. Um mundo que se renova a cada dia, a cada momento, a cada segundo na volta do relógio louco e insano que é a vida.

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