domingo, 9 de setembro de 2012

Canção do peregrino

É difícil dizer o que me guarda. Eu não sei o que sinto, algo entre o gosto do vinho e do vinagre, do sal e do aspargo. Tudo o que faço tem um único sentido, mas eu não sou mais compreendido. Tenho sido assim, perseguido como a um animal ferido, que só se defende dos perígos porque quer sobreviver. Para onde correr eu já não sei. A tristeza que me assalta agora é um pouco dessa mágoa que me assola, desta falta de prazer, do carinho que eu não colhi e deixei de receber.

É difícil dizer o que me cerca. Uma porta aberta e um caminho que eu não sei reconhecer, onde tudo é difícil quando já não se tem dezoito anos. Um engano para os que pensam que eu sou forte, que resisto aos ventos e aos cataventos, ou que tenho uma cartola e um coelho para todos os momentos. O meu coração está triste. A minha alma comunga da dor. Quero renascer mas não consigo, e a vida tem me deixado pouco a escolher. Compreender o futuro é o que me resta, colher a flor do amor e dar adeus aos que se vão.

Eu sou o peregrino que caminha nas montanhas verdes, sob uma trilha estreita e íngreme, à beira de um declíve vertical. Qualquer desequilíbrio será fatal. Eu aceito o horizonte e todo o inesperado do caminho. É difícil dizer o que me espera, mas o destino não me assusta mais. Eu olho o penhasco à minha frente e vejo núvens e cerração. Nele estão guardados os caminhos que me levam adiante, e a estrada onde um dia eu semeei os meus lindos sonhos de verão.

Eu sou um peregrino em mutação.

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