domingo, 2 de setembro de 2012

A sereia do lago

Sapato agulha. Vermelho. Era isso o que a sereia do lago vestia. Um sapato agulha vermelho, com fecho-ecler. Nada de rabo de sereia ou corpo de peixe, essas coisas sobrenaturais. Quer dizer: nada de tradicional no sobrenatural. Uma sereia que habita um lago não pode-se dizer que não seja algo de sobrenatural. Do fundo da noite ela saiu, molhada, vinda do espelho das águas tranquilas do lago enluarado. Um bosque de salsos o margeava, e ela por ele caminhava. Eu não lhe disse nada, eu não lhe disse sim. Seus olhos cor de carmin me seduziram pelo olhar.

Um canto doce em meus ouvidos eu ouvi. Na estrada de chão por onde eu andava a poeira era a marca dos meus passos. Foi quando ela do bosque emergiu e o meu caminho se apagou. O seu corpo era fatal, o seu olhar maroto e sedutor, e a sua boca era um favo de mel que transbordava. Bolero preto, calcinha cor de vinho, e um perfume que lembrava os sabores e os aromas de café. E um sapato agulha. Vermelho. Sob o luar os seus seios eram pequenos cômoros de areia. Ela era uma mulher em um corpo de mulher, mas sereia.

E foi assim: um encontro de amor. Amei o seu corpo como a um outono iluminado, num encontro inacabado de carícias e lençóis. Dois sóis que, juntos, iluminaram a noite. Assombrosas frontes em busca de saciar carícias e desejos. Eu viajeiro, ela sereia. Do lago enluarado uma densa neblina veio nos saudar. Eu era um caminheiro. Ela era uma mulher em corpo de mulher, e sereia.

Um sonho, tu me dirás. Mas de onde veio este sapato agulha que se encontra agora em minhas mãos? 

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