segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Partilhamento

Estou preciso. Meu alvo foi atingido a contento, e eu me contento com o pouco que me cerca: uma cama usada de casal, dois travesseiros de astronauta, um quarto em semi-brilho, duas lâmpadas econômicas de duzentos watts, um cusco da raça pequinês, fiel e companheiro. Eis o que me toca na partilha dos anos que se foram nesta cachoeira que tragou barba, alma e cabelos. Estou no centro, ponteiros acertados, esperando o bonde do destino me levar. Vou embarcar com o pé direito, pé no estribo, bem montado e de à cavalo. Cavalo de ferro que bebe vapor e carvão. Cavalo e vagão de passageiros.

Estou exato. Incisivo. Me permito ver na janela jovens e donzelas saltitantes, colegiais e serviçais em desvario. Sou um rio no tempo. Me contenho para não me consumir em devaneios. Estou ad nuto, absorto em meus novos sonhos e objetivos, obstinado por seus caminhos passageiros. Sou o gelo dos invernos e a manhã dos calendários. O tempo é o meu canário belga cantador. Persigo um novo infinito além da dor dos mares que me arrastam em correntes marinhas falciformes. Sou um cruzador de caminhos, um relógio suiço acertado em seus ponteiros. Eu não estou parado. Eu estou preciso. Estou exato.

Eu caminho pleno na tua direção.

 

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