quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Impura é a minha poesia, carregada de malícia e de desejo. O que vejo diante do papel são leves seios, bicos que quase furam e alfinetam o meu olhar. Eu paro para vê-los: são pequenos e volumosos, róseos e macios. Eu posso sentí-los. Impura é a minha poesia que me permite vê-los, que liberta os alvéolos do meu pulmão asfixiado. Eu limo os versos que ela me entrega desnuda, e dou forma aos seus novelos.

Impura é a minha poesia, vestida de véu, grinalda e de cetim. Flor de alecrim que semeou meus velhos dias, e hoje colhe o meu amor. Condor que voa sobre os Andes da minha alma, sedutora e sorrateira, à espreita de me ver sofrer sem o seu calor. Impura é a minha poesia que se permite ser traída, e se mistura ao vinho das minhas fantasias.


Impuros são também os versos da minha poesia, absortos de nexo e de sexo. Anexos aos vestígios da civilização. São impuros e mundanos, libertinos e profanos, por vezes atraentes. São sementes do mal que fazem bem, e bem assim são construídos: tijolos por tijolos, ofício por ofício. Impuros são os versos da minha poesia. Dizem o que querem, o que sentem, escrevem o que de mais interior existe em mim.

Impuro eu sou com a minha poesia. Impertinente e adjacente, extremo do oriente em desapego. Sou com ela um ato obceno, obscuro, nú em cada verso concluído. Impuro mesmo que vestido, atraído pelo afã do pensamento. Impuro eu sou com a minha poesia, pois a amo todo o dia e por toda a madrugada, com a alma abaulada e com toda a minha comoção. Somos amantes revelados, encarnados na total destinação, fascinados pelo luar e pelo rol que define a minha mais completa intuição.

Somos impuros, eu e a minha poesia. Libertinos e profanos, avessos aos vestígios da razão.

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