quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Este Blog está encerrado. 

Toda a poesia morre junto do último poema publicado, pois foi o blog foi baseado numa história de vida falsa, que me foi tolhida pela sensação dos sentidos, pelo derradeiro sonho daquela a quem jurou o amor infinito, mas que traiu a própria essência. E por àquele que se dizia meu amigo, irmão, mas que como Judas me vendeu pelo apelo do desejo, por um punhado de moedas de sedução e ilusão. 

Nada mais a ser dito aqui. A poesia morre quando a alma do poeta morre; Quando a ilusão dos sentidos tem maior valor que a plenitude. Mas enfim, o mundo sempre foi assim.

Minha poesia renascerá em novo blog, com nova musa e novo sentido, e com menos um inimigo na trincheira. Deste eu já conheço toda a sua desfaçatez. 

E por ti, meu filho, Benjamin. Eu seguirei a estrada por ti. 

Obrigado a todos que me acompanharam até aqui.

Alex Rodrigo Brondani

05/10/2022.





O RÉQUIEM PARA ÀQUELES QUE MORRERAM HOJE

Entendo que tudo não passa de uma alucinação, coisas que se vê em filmes romanescos, distantes da realidade do dia a dia; Entendo que a vida não tem sido simples para ambos. Pois bem: nem para mim. Vocês foram as pessoas a quem eu mais amei na vida, traidores nunca imaginei que fossem. Pois traíram a mim e a minha confiança; Traíram o meu sentido e o meu coração; Traíram o chão onde pisam, a própria dignidade, o desmantelamento e a sua essência; Não merecem de mim mais uma lágrima. 

Destruíram tudo, sem pensar nas consequências; Destruíram também a vida de muitos em prol da consumação de um ato falho, da memória afetiva, de uma ilusão dos sentidos; De um cataclisma anunciado e evitável, como se o invejável fosse aquilo o que não podiam ter, mas que, por fim, o tomaram com mãos furtivas e fugidias. E eu culpo a ambos, pois ambos conspiraram para isso; Na surdina e nos silêncios se dizem inocentes, mas não há inocentes em um crime passional. Psicologia torta, imoral e imaterial, ainda mais vinda daqueles que se diziam os paladinos da verdade. 




Eu, por minha parte, errei em acreditar; Por amar demais e pensar que as palavras ditas teriam algum valor maior. Tudo tramado e tracejado, camuflado e confluente. Chamem-no como quiserem, a verdade é que me apunhalaram pelas costas, e não há verdade nas mentiras.


Não há felicidade nem conto de fadas nesta história, apenas traição e lágrimas, destruição e constrangimento. Que sejam julgados pelo tempo, que sucumbam a ele pela culpa, que carreguem e recebam todo o espólio de suas consequências; Eu lhes desejo a minha infelicidade plena, pura, desfeita e desmedida. E nada mais. Estas são as minhas últimas palavras nesta vida que lhes digo. Meu coração está gelado, frio, e para ambos, inatingível para sempre.


Está escrito o réquiem daqueles que morreram hoje.


segunda-feira, 4 de abril de 2022

A ÚLTIMA ESTAÇÃO

Chove. No telhado eu escuto os pingos da chuva noturna castigando a cobertura da casa simples em que habito. Meu instinto primitivo seria de te procurar mais uma vez. De te amar nesta noite infinita e indecifrável de minha tosca vida. Mas não. Mais uma vez eu te espero. E tu não vens.

De ti eu tenho agora apenas o trivial: um bom dia escasso, um boa noite em tons cinzentos, um sorriso de melancolia. O dia da alegria já passou com o tempo junto do trem que se perdeu na última estação abandonada. Nada mais vai refazer essa noite que se foi.




Mas eu espero. Espero bastar meu próprio tempo. Espero o destino que resiste em mim desafiando o vento seco e gelado que sopra da tua boca e da tua alma. A palma de meu verso é água rasa que já não se sustenta no verão trigueiro.

Até quando? Nem mesmo o sol saberá dizer-te ou a mim mesmo. Cada dia é um fardo de silêncios cada vez mais moribundos, e o fundo do oco do mundo é logo em frente. Eu sigo adiante, pois lutar contra moinhos ainda é o meu deleite.

Está chegando ao fim nossa jornada.


(Alex R. Brondani, em 04/04/2022).

domingo, 22 de janeiro de 2017

OS CAMINHOS DA INFÂNCIA

Mergulhar no tempo para encontrar a estrada, trilhar os caminhos do coração para encontrar a alma, buscar e purificar a aura nas águas da infância. Perder-se aqui é encontrar-se, navegar por lembranças antigas e esquecidas, assustar-se e rir quando se encontrar com uma. A vida é uma estrada longa que caminha em direção ao infinito e nós, nós somos simplesmente peregrinos ou caminheiros.

Mergulhar no tempo para quebrar o espelho, encontrar a criança que um dia fomos. Tão distante é o tempo dos dias que vivemos, tão diferente é o nosso mundo de hoje que, se pararmos e pensarmos, tudo parece ter sido uma ilusão. O que foi dito, o que não se disse, os ecos do passado, nada separa à fonte daquele que tem sede. Apenas uma ponte da memória permanece, mas é por ela que caminho em direção à este retrato.


Eu lembro-me de uma macieira antiga, macia e orvalhada em frente à casa; De um tonel de metal em que brincávamos, de um galpão grande e de centenas de sacos de arroz empilhados até o teto. Lembro de um parreiral e de sua sombra, e lembro do poço, do tabuleiro riscado no chão com um pedaço de taquara onde jogávamos sapata e amarelinha, e de uma boneca que batia palmas e que era o máximo da tecnologia que tivemos. Mas tudo em fragmentos, pois os caminhos da infância não se revelam perfeitos.

Eu me lembro de tão pouca coisa deste tempo, tão pouca, mas a simples existência de lembranças de que não lembro é que me trazem a certeza do quanto foram bons àqueles dias. Dias de infância. Dias de maturar a vida. Tempos de brincar e de ser feliz. Eu olho a fotografia demudada de minha casa e alguma coisa em mim se resplandece, e sinto que a qualquer momento tu vais sair comigo de mãos dadas, caixa de fósforos na mão, para incendiarmos algumas palheiras...

Os caminhos da infância não se perdem. Eles ficam gravados em nossas almas.

Feliz aniversário.

Feliz aniversário para a minha prima querida do coração.


sábado, 30 de abril de 2016

AS AGRURAS DO CORAÇÃO

O sol residual de abril se apresenta neste outono. Sem dono e sem descanso ele queima gás hélio ao transformará-lo em hidrogênio, em propulsonica usina termoatômico/nuclear. Mas o calor que chega a terra é reconfortante, confortável. E neste outono em que eu me encontro eu me sinto acolhido, tal qual a um filho que se reconforta junto ao pai.



Eu falo do sol como pretexto, pois estou a interpretar meu coração. O que ele diz, e eu bem sei, nem sempre é o que ele sente. Na vertente dos versos onde eu busco a poesia dos meus dias é ele o guia condutor dos meus caminhos. No arrebol de meus redemoinhos é ele quem determina o som. O improviso é o seu tom.

Mas o destino que me trouxe este outono trouxe com ele também a força da estação, e a razão dos ventos, o frio, hão de consumir este sol residual que me faz bem. Eu então contemplo as folhas mortas pelo chão e compreendo que devo encerrar e iniciar um novo ciclo. Só o coração compreende o que eu já não consigo conjugar.

Eu encerro este poema enquanto ainda existe a luz.


(Por Alex Brondani, 30/04/2016)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O HOTEL PARIS

Eu estive hospedado no Hotel Paris, em Rio Grande. Estive numa máquina do tempo. Tropecei nele por acaso, o acaso de um final de uma tarde turística familiar, de onde tudo o que levei foram as malas do tempo. Logo na chegada eu fui envolvido, seduzido, absorvido pela sua beleza e singularidade, pelo seu paradigma. Nada que lembre as construções modernas com as suas tecnologias quase que constantes, nada de sofisticação ou serviços cinco estrelas, nada de requinte, mas sim o ar de uma aristocracia decaída, de alguém que se perdeu pelo caminho, o pueril revés de uma ampulheta do tempo.


As paredes, as escadarias de madeira, os lustres, o teto revestido e já apagado, o mármore em xadrez e os pisos de ladrilhos decorados, tudo é um arcabouço influenciado pela mágica decoração arquitetônica de um fiel e provável servidor da corte de Dom Pedro II, o seu hóspede mais ilustre, ou de algum poderoso mercador do porto antigo, frequentador de sua corte, ou talvez um pouco do charme de intelectuais de várias épocas, pintores, artistas, cantores, ou mesmo dos simples viajantes, marinheiros, meretrizes, donzelas, senhoras e senhoritas, acompanhadas de sisudos pais e maridos, tudo é harmonicamente combinado e refinado. Eu sinto um pouco de todos os que por ali passaram, e no seu tempo, sentiram-se assim como eu me sinto agora.



Persiste em mim uma inquietude, esta ansiedade de querer saber um pouco mais de sua história, do dia a dia daqueles que ao longo dos séculos frequentaram o lugar. Eu queria escutar os seus cochichos, saber dos segredos sussurrados no antigo salão de bailes, ouvir o som do rangir das carruagens ao partir, saborear os seus sotaques. Até mesmo os mais ardentes segredos me são caros, àqueles trocados no silêncio das alcovas de seus quartos, por detrás de suas imensas portas espanholas. Resta em mim apenas o que o tempo me relega: somente os sinais de suas vidas. Eu deslizo as mãos pelas paredes e escuto os risos cristalinos que ali ainda estão guardados. 


Eu sou um viajante do tempo, mergulhado no universo de suas molduras, tentando completar as lacunas do meu verdadeiro ser. Talvez eu já tenha estado ali, pois tudo me é muito familiar. A lagoa, o mar, o sal encravado nas ferrugens de cada peça antiga e resgatada. Eu observo, respiro e sinto o cheiro, e desvendo a história de cada objeto singular que ali ficou. Na soalheira, diante da fonte alva que guarda as águas do tempo recicladas eu vislumbro a alma de um hotel que se perdeu no tempo.

Eu estive hospedado no Hotel Paris. Eu sinto que um pouco de mim ficou por lá.


(Alex Brondani, em 07/02/2016)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

CHAMAMENTO

Eu tenho sede. A minha garganta sente o pó da estrada que me chama, e eu estou como um pé de vento por partir. No ir e vir dos caminhos eu sou a alma fiel do meu coração, e não há razão que me impeça de impetrar esta jornada. Eu avanço com o ar da conquista, intrépido, imponente. Um batalhão que marcha para o seu destino, com o vento na cara e uma lança na mão. Eu estava com saudades.


Eu escuto o chamado da estrada, e o meu coração responde alegre, sorridente. Para frente e sem destino este é o meu caminho, o meu jeito de navegar nas circunstâncias. Agora além daquela que me segue eu tenho um novo companheiro, aventureiro como eu, de olhos vivos e fixos no horizonte. Além da fonte clara está o meu cântaro, seiva do andarilho, bebida que contagia e me traz a adrenalina. Eu não estou mais só.


Caminhamos os três para o litoral de um oceano azul e fervilhante, esculpidor de terra e tempestades. Na bagagem a liberdade de ser livre, de estar vivo, de ser vibrante como o menino que finalmente encontra o mar. É difícil deixar de ouvir o seu chamado, sentir o cheiro da terra que se encharca, encher de ar os pulmões embolorados. Eu outra vez estou na estrada.

Se um dia ainda nesta vida mensageira eu puder escolher qual dimensão seguir, ainda assim eu serei este louco e destemido caminheiro, viageiro, andante e desbravador dos meus caminhos. Eu serei um pirata em caravelas loucas manobrando ao barlavento, na fiel conduta do destino. Eu serei o meu próprio peregrino.

Escuta: a estrada me chama. Já estou indo...\\



( Alex Brondani, em 02/02/ 2016)