segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

OS OLHOS DO TIGRE

Os olhos do Tigre são olhos de Lince, maturados, guardadores da espera. São olhos de cancela, espertos e escondidos, ligeiros. Eu descubro nos olhos do tigre a minha redoma, sanga funda e corredeira, amor sutil e iluminado. Considero o tigre um ser alado, mas desprovido de asas. Suas patas são o fiel da minha balança.

Os olhos do tigre são os olhos da alma, transpassados e  espessos, insurgentes. Cobertos de trevos e de esmeraldas, são olhos que estudam a jornada, o golpe fatal, o firmamento. No compasso do tempo os seus olhos me fitam, me marejam, me desejam. Eu compreendo a razão do ser e do existir, eu entendo a razão do seu olhar.

Os olhos do tigre não sabem amar. Para eles o amor é um instinto, assassínio da sobrevivência, transparência transcendental da natureza, simples efeito evolutivo. Eu não brinco com os olhos do tigre, não descanso à sua espreita, nem considero nada além da sua essência.  A finitude do tempo é a minha crença.

Os olhos do tigre são os olhos do destino.           



(Alex Brondani, em 18/12/2015)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

CONSIDERAÇÕES SOBRE MARTE

Descobriram água em Marte. Nas luas de saturno há a evidência de sua existência, e só na Via Láctea são cem bilhões de estrelas. O conhecimento do homem avança a passos inimagináveis, inolvidavelmente e, às vezes, quase que imprudente. Eu, no entanto, absorvido no meu mundo e aprisionado pelo tempo, alheio aos preceitos da ciência e da razão, vivo e me enredo a cada dia em uma nova descoberta: meu filho.

Eis a sua imagem: olhos azuis como a cor do time que lhe instigo, àquele do meu coração. Olhos vivos e com a sede do conhecimento humano, voraz devorador de imagens e vertigens, absorto em compreender cada sentido. Compreender o seu mundo é o meu sustento, ensinar-lhe tudo o que sei um desafio. Eu improviso.

                               

Talvez um dia ele possa desvendar este universo que se revela agora, talvez para ele Marte seja o seu assunto mais presente. Para mim, no entanto, é algo quase que transcedental. O meu universo se resume a esfera do meu coração, transpassado pela emoção de ser algo que jamais imaginei. Eu sou como uma sonda exploratória.

Sim, eu tenho plena consciência da ciência, o meu pensamento navega na racionalidade humana, e desde Descartes que a teoria do método molda o meu espírito, mas tudo desmorona quando eu fito os olhos deste novo aventureiro, olhos vivos, azuis como a cor mais púrpura do mar, olhos que fitam para conquistar. Eu me descubro em cada dia em um novo universo.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A FORÇA DOS SENTIDOS

Está claro para mim o seu sentido, vestido de rendas numa flor de alecrim. Alecrim? Diria apenas que é a necessidade da rima, rimo do poeta, anestesia dos sentidos. Improviso os meus anseios, ressabios e silêncios, todos eles para o meu sustento, mas, agora, eu tremo em minhas próprias bases. Está claro para mim agora o seu sentido: um verbo de silêncios imperfeitos.

Estamos, eu e tu, na reta final de um grande prêmio, Grand- Prix no corrimão da vida, alimentando o tempo e o calculador das horas, cronômetro regressivo de uma arrebentação. A minha aclimatação começa agora, maturação constante de um tonel de vinho antigo, reservado do tempo. Inconstante tem sido o meu tempo, assim como os teus dias. Tu e eu estamos juntos.

Tenho receios, mas quem não os tem? Alguém além de ti ou de mim sabe o que sentimos? O poema talvez, mas além dele mais ninguém. Somos dois andantes que se fizeram três, rios confluentes que se uniram num estuário de estrelas vespertinas, madrugueiros de aurora, caminheiros. Nós somos a rima, a apoteose do poema.


Está claro para mim a força dos sentidos. 

quinta-feira, 16 de abril de 2015

AS RELATIVIZAÇÕES DA RELATIVIDADE


Eu penso na curvatura do espaço-tempo, àquela a quem Einstein bem definiu em sua teoria da relatividade, brilhante lampejo de genialidade, embora até hoje eu não tenha entendido o seu sentido. Mas eu penso, revisito o teorema antigo, uso de todo o recurso intelectual de que disponho, mas fracasso mesmo assim. Einstein era um extra terrestre.

Eu, no entanto, analiso o tempo, a sua equação equânime, o seu sentido de mão única em implacável maestria. Ninguém o contém, ninguém o detém, nada é capaz de fazê-lo retroceder. O tempo é o senhor dos destinos.


Você já se deu conta disso? E enquanto o tempo passa, a vida acontece em todos os lugares, inclusive ao derredor de ti. Então não espere mais, não aguarde a chuva passar para molhar a alma, nem o sol raiar para começar o dia. A ampulheta do tempo está correndo.

Olhe ao seu redor. Reflita. A vida segue o seu fadário sobre o eixo imaginário que criamos para explicar a rotação da terra em torno do sol, mas nem ela explica a natureza humana. E de tudo isso me sobraram poucas coisas para te dizer agora: que o tempo é um teorema estranho, indecifrável; que viver e não desperdiçá-lo é a melhor alternativa que temos para resolvê-lo; e que Einstein era, com toda a certeza, um alienígena.

Você não acredita? O tempo é mesmo um teorema estranho...

terça-feira, 10 de março de 2015

AS MINAS DO CAMAQUÃ

A entrada da mina é obscura, nua, escavada na pedra bruta. Cortada na senda de pás e picaretas, mãos que cavaram fundo, enredo de sonho e de sofreguidão. Chão adentro as galerias se espalham, úmidas, escuras, soturnas e nebulosas. O cobre que as sustenta é a razão desta contenda, odisséia sem heróis, epopéia de um tempo na loucura dos homens.

Eu não estou imune ao seu simbologismo, sinto nas paredes e em meus pés a dor daqueles que aqui estiveram, o ar rarefeito em seus pulmões, o sufocante estágio da memória, o trabalho que aniquila. Eu não mergulho no coração da rocha, desconheço os seus caminhos, apenas me consterno da vida dos que ali estiveram.


Poeira e metal espalhados pelo chão, escoras de madeira, trilhos e ferros retorcidos, esquecidos e jogados pelo tempo imaterial. Como teriam sido os homens deste tempo, estes mineiros? Ingleses de semblante duros, Alemães de pesadas cicatrizes, Belgas desconhecidos e esquecidos, Brasileiros  forjados no rigor desta labuta, todos unidos pelo mesmo Eldorado.

Eu ainda posso ouvir o eco pelas galerias, suas vozes claras e cristalinas, sentir o que sobrou da alma sob a rocha dolorosa, pesada, carregada dos seus sonhos e esperanças. Não, eu não invejo àqueles que aqui estiveram, os que abreviaram suas vidas sob o coração da rocha, sob o cobre que a sustenta, eu apenas reverencio em sua memória.

Eu sinto a alma de cada mineiro sob a rocha.


terça-feira, 3 de março de 2015

CORAÇÃO DE DUAS PÁTRIAS


Estou na estrada. Sob o meu olhar a imensidão de um continente imerso num céu azul, iluminado pelo sol do arco íris. Distâncias espalhadas na paisagem agreste de um país rural, de povo acolhedor e simples, de rebanhos de ovelhas a banir na tarde, de tropas de gado e de tropilhas de cavalos forjados no rigor das estações.

Estou no mundo, em algum lugar entre Salto e Taquarembo, em meio aos contrafortes de uma serrania magnífica que fervilha em vida. Aqui, resiliente de tudo, eu me confronto e me compreendo. Longe de casa eu estou, mas o meu coração sente a segurança e o amor incondicional por esta terra, dizendo-me que não é impossível amar a duas pátrias.



Eu respiro o ar das campinas aclimatado pela relva verde e solitária. Minha alma se emoldura na paisagem verdazul prestes a chegar ao sol. No topo do continente eu diviso a dimensão do que sinto, e na imensidão do que vejo eu aceito o meu destino.

Eu tenho um coração de duas pátrias.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A SINGULARIDADE

Mergulho submerso no meu universo, e o contraponto é o verso que se improvisa. Saboreio a vida em cada palavra e o meu coração é uma rima solta jogada ao vento, corda solta de viola, cardíaco batimento. Me assento nas bases de meu pensamento para entender a vida, as suas circunstãncias, o destino de cada um e de cada ser.

Como dizer para quem fica que a dor é apenas um desvario e que é preciso prosseguir, seguir a procissão das águas, mesmo que de inconstante forma? Como explicar para o que ficou que a vida é fruto do imprevisível, da fatalidade mórbida, da inexplicável circunstância do destino? Apenas a fé pode explicar o inexplicável.



Eu escrevo com o coração amortecido, sofrido, embora distante esteja desta singularidade. Ouço os relatos que me chegam e os ecos sussurrados de uma história recriada, recontada, perdida da verdadeira história. Meu pensamento delimita o tempo, contrapõe-se ao silêncio, cala-se ao consolidado fato.

Eu escrevo, mergulhado no meu universo inalterado. O meu verso é apenas um reflexo deste todo episódio fático, mais um dentre tantos nesta vida, apenas este um pouco mais próximo de mim. De tudo o que restou eu entendo que é apenas a fé que nos faz seguir adiante, não a fé da religião, mas a fé da natureza humana.

Independente a tudo, o sol ressurge no horizonte.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A ENCRUZILHADA

Recorrente é a tua inconfiança, circunstância incômoda da tua insensatez. Recorrente é o teu desassossego, referido apego material, desumano insumo, degradante e sufocante estorvo, espólio de um passado irracional. Não há mal que nunca acabe, mas também não há bem que sempre dure, e por deveras vezes eu tenho te proposto. Mas recorrente é o teu estorvo e sufocante o teu estafe, ácido veneno que corrói meu coração.

Nada do que te digo foi em vão, apenas a causa. A natureza da pausa faz de mim um novo ser, incapaz de me perder na escuridão, mas já não seguro a tua mão. O que me une a ti é o fio da perseverança, o DNA da natureza, a firme razão da convicção. Mas nem ela resiste ao paradigma. O que se vê na superfície não reflete o turbilhão que submerge, a força da corrente que confronta a represa.

Apenas uma vez mais é que eu te digo, no improvisado discurso do meu ser: não quero ser para ti o que deixei pra trás, nem escancarar o meu passado negro. Este é o meu derradeiro apelo, apego do que sobrou da minha indagação, irritação extrema, a última gota de um transbordante oceano. Não culpe a mim pelo teu desengano, não sufoque mais a minha natureza.

Aqui reside a encruzilhada do destino.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

RESENHAS

O sol residual brilha nos meus olhos. Manhã translúcida, clara e cristalina, desenho da barra do dia. Minha alegria é a cor da manhã, o despertar da vida, a revoada que se desenha no horizonte.  O sol residual brilha nos meus olhos, e eu estendo o meu olhar para o futuro. 

O mundo em que vivo se transforma, se reforma, toma formas de vida e de sustento. Eu entendo a mudança, aceito, receito um novo paradigma para a minha inconsequência. A essência do meu caminho ganha um outro sentido, um novo objetivo, novos sentimentos. Eu decifro o mundo que se transforma ao meu redor.  Tudo em mim é espera, tudo em mim é alumbramento.

Tu és agora a luz do meu destino.