sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Escrevo para o sono que se foi. Um sonho bom me despertou e eu enfrento agora a minha dura realidade: rosto inchado, olhos divagados, corpo demolido. Perdido de minha alma que ficou por lá. Me alimento. Bebo água e vinho e um pouco de veneno. Procuro um espelho e olho no vazio. Alí está alguém que eu não conheço, despenteado, desregrado, um pedaço do destino em descaminho.

Me relato. Cobro os meus pecados. A insônia é um mal que eu não combato, pois dela necessito. Mas, acordar sozinho assim, será preciso? Quem eu quero não me quer, e quem me quer é um abajur. Eu escrevo para o sono que se foi. Ele é como um astronauta que procura a via láctea, perdido na madrugada que eu elejo agora como a minha namorada. É ela que vai amar-me nestas horas, é ela que vai redimir-me dos pecados.



Tomo um banho e me perfumo para a noite que virá: horas de pensamentos esquerdistas e idéias tantas para se fazer uma revolução. De Stalin a Fidel eu reconheço o mundo, mas acabo sempre no submundo capitalista. Ser ativista cansa muito, muito embora hoje em dia seja a moda. Mas eu uso botas, não confunda a minha opinião. Flerto com a noite por devoção, e sou católico não pela fé, mas pela crença.

Eu faço festa para o sono que se foi. Visto-me de areia e vou semear o meu deserto, criar um oásis para aportar a minha alma. A cigarra vai trazer de volta o sono quando o sol surgir, mas até la eu irei me deliciar com a madrugada. E faremos amor à beira das estradas, mas também muitos poemas. E faremos cantilenas para os grilos e cantaremos para o infinito das estrelas. Seremos o pó e a poeira.   

Eu hoje escrevo para a minha insônia. 

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