sábado, 30 de junho de 2012

O pio de uma coruja. O vôo de uma coruja. A morte e a fé ao redor de mim, e eu mergulhado em um mar de sangue. Como são engraçados os cenários de um amor: ele brota de onde nada poderia supô-lo. De onde tudo seria quase que o segredo do princípio da incerteza de Heisenberg. Encontrá-lo alí seria como a encontrar a partícula de Deus. Mas nada mais me surpreende. Eu nunca entendi de física quântica. Eu nunca entendi o amor. Se eu o tive em minhas mãos, joguei-o fora. Se eu não o tive, fiz o mesmo. Mas agora é tarde para se redesenhar uma história que ficou pela metade. Eu sei disso. Foi-me dito isso.



Eu quero agora o vôo da coruja. O seu pio. Eu quero a noite de estrelas enluarada. Eu quero a cumplicidade dos grilos e do vento. E eu estarei nú, ao relento, vestido só de meias, à espera do amor que vai chegar para me amar. Na torre mais alta - de pedra bruta e tijolos crús - eu vou te amar. Envolto em sangue. Cercado de morte. Mas abençoado pela fé que me sustenta.

Só a meia noite do tempo vai dizer quem somos nós. 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Alma de rio. Assim eu me defino, assim eu me sinto. Um rio caminheiro que busca o mar no fundo de sí e na jornada. As areias do tempo em minhas márgens dão vazão ao que sinto, ao que quero e ao que me conduz. As águas dos meus olhos enchem o leito e me levam feito uma folha de plátano que pousou sobre mim. E eu vou sereno em calma corrente e corredeira, ciente de que tudo o que me espera é um novo desafio. Eu não posso segurar em barragens as minhas ânsias. Eu vou. Me conduzindo. Sendo levado.




No sereno das madrugadas as estrelas beijam as faces do rio. A lua banha-se no espelho das águas e os silêncios se aquietam para escutar o cântigo das águas que deslizam para um novo destino. Um rio nunca é o mesmo quando o revemos. Um dia nunca é o mesmo quando acordamos. E a vida nunca é a mesma quando decidimos vivê-la. Com a alma de rio e um sonho de estrelas eu me entrego aos devaneios. Onde estarei? Para onde eu vou? Nem mesmo o destino é capaz de responder.

Eu sou o próprio fantasma das águas...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Numa floresta longe de tudo vivia Oncélia, uma onça sem dentes que era amiga de Meg, uma tartaruga verde. Oncélia todos os dias comia da comida de Meg, que era farta e macia, e Meg nunca chegava atrasada no trabalho, visto que andava sempre nas costas de Oncélia. Naquela floresta o rei era um macaco, e os bois e os veados eram os pastores. As galinhas fabricavam sabão e os elefantes faziam todo o trabalho pesado. Mas o trabalho sujo não era feito pelos porcos. Tudo estava virado, e mesmo assim a vida prosseguia. Tudo era desproposital, mas a felicidade era uma escolha de cada um.



Os leões e os tigres faziam balle, e o jacaré era um dançarino de tango. As girafas jogavam golfe num descampado, e o sindicato dos pássaros decretou que ninguém de asas podia voar. No hospital uma velha traíra atendia num aquário, e eu, inquieto, observava a tudo, querendo por tudo em seu lugar. Mas o que estava errado? Nada. Eram os meus olhos que não viam o mundo ao meu redor. Todos nós temos problemas. Preconceitos. Vivemos numa roda viva e esquecemos de olhar para a floresta. Um dia caímos nela e não mais a reconhecemos.

A vida é esta floresta. Não procure explicações. Não tente concertar o que passou. Viva com ela.Viva Nela. Nada faz sentido nesta vida. Todos morremos. Só o que interessa é o que fazemos com amor. E eu te amo pelo que tu és. Por o que tu foi. E por o que serás.  

terça-feira, 26 de junho de 2012

São cinco horas da manhã. Eu não durmo. Minha mente fervilha em poesia, e eu vejo versos perdidos pelo chão. Meu coração quer juntar à todos, mas mal cabem nele os que eu ainda não escrevi. Estou em transformação. Minhas mãos ágeis batem no teclado, ansiosas para verem o que vem à frente. Estou esperançoso, forte como há muitos dias não estive. Eu estou de volta nos trilhos da minha alma, e minha vida verte em rimas compassadas e assertivas. Eu sou o poema. Eu sou a minha própria criação.

Um mundo novo se vislumbra para mim. A fé e as palavras me invadem de arrebalde, e uma fogueira abre um clarão na minha alma. Eu consigo ver a luz, e a viagem que iniciei está apenas começando. Eu estou me descobrindo. Me reescrevendo de uma forma louca e enluarada. Os meus versos estão vivos e pedem passagem ao papel e à caneta, e eu me transpasso para além das formas da poesia. Em cada rima eu trago um sol uníssono. E uma estrela em cada mão. Um novo destino se forma dentro dos meus olhos, e eu ganho asas na direção do céu.
Não me procurem mais onde eu estava. Alí só encontrarão a minha carcaça. Eu estou livre. Forte Outra vez. Estou Transbordo de uma força vital que não sei qual. Eu estou vivo. Reconstruído.

Não me procurem mais onde eu estava. Eu sou o poema. Eu sou a minha mais nova criação.



domingo, 24 de junho de 2012

É madrugada. Eu penso na vida como um ralo. Observo o ralo enquanto tomo o meu banho e me dou conta disso. Tudo escorre cano abaixo. O tempo só derruba as árvores da floresta da alma, uma a uma, e caminhamos para o rumo da extinção. Meu coração nesta jornada é um viajante solitário. Perdido. Eu já tentei voltar, mas os caminhos da volta foram diferentes aos da partida. E apenas agora, ao olhar para trás, é que eu me dei conta disso. Eu já quis voltar. Mas a lei do silêncio a qual me foi imposta determina que tudo o que se foi não volta mais. E só eu sei o que perdi.

Eu olho para a vida como um ralo. A gente enche a sua piscina de sonhos, e ela, dia por dia, vai nos tomando de volta tudo o que nos dá. O destino nunca é igual para todos, e o que é bom para alguns talvez já não o seja para outros. Então eu não vou mais olhar para trás. Eu não irei mais tentar voltar. Eu vou buscar o que o futuro me reserva: uma nova e imensa constelação de estrelas onde eu possa reescrever a minha história. Longe de tudo. Livre de tudo. Refeito em mim e reconstruído na alma. Pois eu estive em ruínas, e poucos foram os que perceberam, entenderam e souberam disso.  

E para aqueles que me julgam sem saber tudo o que sei e o que senti, o que passei e como estou, então eu lhes digo: espelho. Olhe nos olhos o espelho da tua própria alma, e entenderás que a estrada é uma chaga na poesia dos caminhos...       

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Eu ontem acordei de um sonho agitado. Um sonho expressivo. Um sonho de pecado. Eu sonhei com uma igreja. Eu sou católico e frequento a igreja de tempos em tempos, muito embora menos do que necessito. Os sinos batiam, e eu estava lá. Encantado. Enfeitiçado. Alguém me chamava pelo nome, mas eu não sabia onde. Era de dentro da igreja. Era da sacristia. E eu fui conduzido como que fisgado pela voz. Uma voz de mulher, sedutora, inebriante e misteriosamente doce. Eu não sabia quem era.

Quando lá cheguei, lá estava ela... Uma mulher linda, a quem eu nunca vira antes. Com uns olhos azuis que cintilavam, e com uma auréola negra no olhar. Lápis eu pensei. Eu sempre gostei de mulheres que se pintam. E ela estava vestida de vermelho, mas poucas eram as suas roupas. Eu logo percebí que não se tratava de uma freira. Nem de uma noviça. E ela me ofereçeu a hóstia consagrada. Mas não com as mãos, com a boca. E eu comunguei e confessei os meus pecados em seus lábios. E não satisfeita ela depois me ofereçeu o vinho. Mas não o vinho na taça da aliança, não. Ela o derramou em suas pernas. E aquela visão estonteante do vermelho de sua saía e do vinho escorrendo foi algo próximo ao que entendo de um milagre. E eu beijei-a dos pés a virilha, da virilha até o seu ventre, do ventre ao seu sexo. E então ela deitou-se sobre a mesa altar de celebrações e nos amamos alí, sem mais pecados. E só então eu acordei.

E assim como o meu sonho tem sido a minha vida nestes dias. Uma grande e imensa loucura...



quinta-feira, 21 de junho de 2012

As paixões nos arrebatam. Incendeiam. Enlouquecem. Na vida de um homem são elas que nos conduzem, que inspiram loucuras e promovem as transformações. Quem tem o coração aceso compreende o fogo desse sentimento. Um fogo que queima mesmo em lenha verde. Mas há uma forma de paixão que é desmedida. Que é indelével. Atemporal. E que mesmo na derrota só se fortaleçe. Assim é a paixão do torcedor pelo seu time. Não importa a derrota. Importa o amor. A derrota é quase sempre uma consequência, pois neste tipo de paixão mais se perde que se ganha. E mesmo assim o sentimento de quem ama só aumenta.


Avante Tricolor! O teu pavilhão vai estar hasteado no dia do amanhã, tremulando ao vento, sustentando toda a tua grandeza. A dor da derrota vai se apagar com a próxima vitória, e ela virá tão rápida e tão ligeira que nem iremos perceber, pois os olhos de quem ama sempre carregam consigo a esperança. E é por isso que o futebol é apaixonante. Vencer sempre seria tão ruim quanto perder. E as derrotas nos ensinam a valorizar as grandes vitórias da vida.

Avante Tricolor! Uma noite é o tempo que tens para curar as tuas feridas. As tuas batalhas recomeçam com o novo dia. Avante Tricolor!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O teu beijo tem o sabor do chocolate. É doce, amargo e ocre. O teu cheiro tem o aroma do chocolate. É suave, frutoso e condensado. O teu corpo tem manteiga de cacau onde te toco, e tudo em ti é uma grande barra de açucar hidrogenado. Não me pertence o teu passado. Nele tu semeou grandes porções de cacaueiros, e deles eu não quero colher frutos. Eu quero o doçe de agora, o mais seleto. O que me seduz como o cheiro de uma panela em fogão de lenha, onde tu derretes como o mais seleto Kopenhagen. Eu quero apenas o doce de agora, o mais maduro, o sumo do que de ti há de melhor.


Quando eu te toco tu derretes. Derretes dos pés ao ventre, do ventre à vertente. A foz do teu olhar é uma cachoeira de bombons entumescidos que desembocam na tua boca onde eu me afogo. Eu bebo chocolate quente da tua boca. Quente. Derretido. Torrado e moído por teus dentes. E mesmo quando eu me farto - e eu me farto - tu ainda me ofereçes mais um pouco. Eu não resisto. Porque o teu beijo tem o sabor do chocolate. Tem o gosto do cacau em porcelana. É doce, amargo e ocre.

Tu me pedistes chocolate, e eu te dei. Agora eu te dou minhas lavouras de cacau.

     

terça-feira, 19 de junho de 2012

Eu sonho com a tua bunda. Em tocá-la. Em sentí-la. Em comê-la. Eu tenho sonhos eróticos todo o dia, eu e ela. Quando tu a trazes, e passa, a vida é um doce limão de mel com açucar. E eu penso que ela deve ser feita de núvens e de avelã. Mas não fiques chocada com o que escrevo. Deixa de lado este preconceito tolo de não falar de certas partes do teu corpo. De não desejar amar e de se entregar. De não querer ver o que os olhos vêem, e querem, e desejam. Eu te desejo sempre que tu passas - a ti e a tua bunda - até mesmo quando tu nem olhas para mim.

Eu sou um homem. Tenho os meus limites, mas também tenho as minhas insutilezas. Eu te quero de quatro. Quero te possuir e te amar assim, como uma besta fera. É assim que eu quero te comer, pois comer é a mais bela forma de amar. A mais inquieta. A mais verdadeira. Eu sonho com a tua bunda. De quatro. Olhando para os meus olhos gulosos e maliciosos. Pois eu e ela temos tanto por dizer-nos, e outro tanto para descobrir-nos.

Eu sonho com a tua bunda. Em tocá-la. Em dormir sobre ela. Mas ela, com vergonha de se mostrar ou de me amar, insiste em estar sempre vestida nos meus olhos. Eu quero a tua bunda. Eu quero você outra vez.
  

domingo, 17 de junho de 2012

Ingênuidade. Malícia. Sedução. Eu não entendo o teu jeito. Mais do que isso, eu não o compreendo. Tudo o que me fez me aproximar de ti é o que me afasta agora. Aos poucos eu vou percebendo que não buscamos o mesmo horizonte. Não se pode ter tudo, e um sonho é sempre a metade do que sonhamos. O que queres da vida, eu te pergunto? Seduzir ou construir? Amar ou maliciar? Dividir-se ou se entregar? Não se constrói uma torre para tocar o céu em base insólita, nem se ergue um edifício em chão de areia.


Eu não sinto os teus pés neste escaler. Embarco numa viagem de caminhos taciturnos e noturnos, mas eu não vejo a tua alma. Eu te procuro no tempo, mas só te encontro no sexo. Somos iguais em parte, mas diferentes e opostos no resto, e eu não sei te dividir. E enquanto te escrevo a torre sobe cada vez mais alto, e mais alto... E quando ela chegar na altura das núvens, talvez eu já não compreenda o que tu digas.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Tu me pedes um poema. Eu não escrevo. Eu apenas agora repenso o meu caminho. Meus poemas todos se perderam na última rima que eu te dediquei. Eu não vou mais te descrever, escrever para ti o meu poema, dedicar o que de mim há de melhor. Não, eu não quero mais. O meu caráter arrogante não permite que eu te dedique mais de mim, o que eu o fiz por longo tempo, embora tu já não consigas ver. As palavras são feras férteis, punhais afiados que sangram e dilaceram um coração. E eu tenho em mim um punhal de sangue, embora eu saiba que também há punhais em tua alma. Mas eu sei. E isso é para a poesia a esperança.


Eu escrevo para mim agora. Apenas para mim. Meus caminhos eu ainda não sei como serão, mas seguirão o destino dos rios correntes que desde às nascentes buscam o mar. É para lá que eu vou. É lá que eu estarei. Eu agora repenso o meu caminho. Meus poemas estão livres, libertados. Minha alma vai buscar um novo porto para ancorar. A poesia, agora, será a tua última lembrança.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Um homem. Uma mulher. Dois seres ligados por um destino. Dois mundos que colidem numa brutal rebentação. Tudo é como um sonho de verão em pleno outono. E, no entanto, como pode haver calor? Eu já não sei como conter em mim tamanha dor. Mas tenho de enfrentar este temor, esta falta de perspectiva que o amor me traz assim, como uma auréola de ilusão. Eu te quero. Tu me queres. Mas o destino, o que quer de nós? Vivendo separados somos dois elos perdidos, buscando o prazer no amor que não se completou. Vivendo juntos somos pássaros presos, engaiolados pelos olhos da libertação.



O fogo da paixão ainda me queima, mas os teus olhos sobrevivem no meu coração. E eu não sei como deixar de lado tudo o que vivo, e vivo intensamente tudo o que posso desta ilusão. Mas, aos poucos, o tempo vai firmando o meu caminho. O destino age para criar meu mundo, e tu habitas em cada sombra deste cenário de alucinações. As emoções que me resgatam são as mesmas do primeiro amor. Do primeiro beijo. Do primeiro dia. Mas o que tenho agora são apenas cenários do que fui e do que me transformei.

Eu te quero. Tu me queres. Mas o destino, o que quer de nós?

terça-feira, 12 de junho de 2012

Metamorfose. Eu hoje observei a tua metamorfose. Teus olhos cor de chumbo viraram cor de vidro. Teu rosto de visões noturnas virou um sol de cores leves e aparentes. Teu corpo frio e cansado ganhou vida feito um rio. E foi impressionante. E belo. E poético. Teu rímel e teus cremes nas mãos fazem do tempo um brinquedo. Escondem o tempo. Embelezam o teu rosto. Eu apenas constatei.

E depois de tudo, o tudo e o nada. Tudo porque foi a essência do que o belo é capaz de produzir. Nada porque a beleza emana não dos teus truques, mas da tua alma. E eu ví a beleza da tua alma. Eu a conheço. Conheço-a desde a rama até a raiz. Desde a flor até os frutos. Dos cabelos ao descolorido do arco-íris. Agora vai, leva a tua beleza para os outros. Que o que é belo deve ser apreciado. Que o que é belo deve ser admirado. Pois que a beleza é uma flor que floresce e que fenesce, mas que se perpetua nos olhos dos que tem raízes no olhar.

Agora vai, leva a tua beleza para os outros...


    

domingo, 10 de junho de 2012

A vida é uma sucessão de perdas, já dizia Schopenhauer, e quanto mais vivemos, mais perdemos. Perdemos desde o dia em que nascemos, num caminho sem volta para o final de nosso tempo. Nesta jornada perdemos o que amamos, o que queremos, e tudo o que mais desejamos. Mas este é o ciclo infinito da vida, e nada se pode fazer quanto a parar o tempo. Mas podemos amar. Que só o amor é capaz de superar a perda. Se o amor existir, tudo se torna suportável. E levamos para a frente tudo o que de bom ele nos deixa.

Eu te digo, amigo, que tudo o que deves levar é o amor. A lembrança de tudo o que foi bom e de tudo o que tu puderes viver, pois não se vive tudo o que se pode numa única vida. Os dias que virão serão mais amenos com a passagem do tempo, e mais leves com a presença dos amigos que ao teu lado partilharam da tua dor e das tuas lágrimas. Um anjo sempre cai do céu quando menos contamos com isso, e nada, nada neste mistério acontece por acaso. Eu te digo, amigo, para seguires em frente. É lá que se acham os melhores dias da tua vida. Olha para o céu que se transforma. Olha para o lado e vê a vida que passa. Que se remoça nos olhos da moça que te fita. A tua estrela estará sempre ao teu lado, e mesmo as estrelas precisarão muito de ti. Te refaças, que a vida é o bem maior da poesia, e tu tens o dom de celebrar a vida nos versos e nas canções que habitam a tua alma.

Eu te digo, amigo, que tudo o que deves levar é o amor. Eu te digo, amigo, para seguires em frente.

sábado, 9 de junho de 2012

Amadurecer o tempo. Somente os que vivem são capazes de amadurecer o tempo. O tempo de cada um. O tempo de plantar e semear. O tempo de colher. A vida é uma sucessão de tempo, de dias felizes e de outros, nem tanto. De sonhos que se fazem e dos que se refazem. E daqueles que ficam pela metade. Nesta engrenagem comandada pela rotação da terra, o universo conspira para a eternidade. Porque somos poeira das estrelas. Grãos de areia num cosmos de mistérios e de adultérios, onde tudo é inconsequente e imprevisível. Assim é o tempo. Ele não respeita as leis da física.

Mas eu preciso de tempo. Tempo para amadurecer os meus sentimentos e clarear o meu coração. Para que eu possa compreender a dimensão em que me encontro, o desalinho de tempo em que me acho, a aurora boreal a que persigo. Eu sou a poeira do universo, o nada indivisível de meus atomos, a lei da mecânica que já nem sustento mais. Se Einstein me ouvisse ele diria: amadureça o tempo, pois que nas complicadas equações do amor, tudo é relativo. Então eu não te peço, mas te digo: amadureça o teu tempo. Que o meu está entregue ao turbilhão de uma super-nova em formação.

No final de tudo um novo sistema solar irá surgir. E eu vou poder dizer-te onde me encontro.




sexta-feira, 8 de junho de 2012

Onde foi que eu te perdi, amada minha? Onde foi que eu me perdi? Procuro por entre o que sobrou de mim, mas só encontro os meus retalhos. Tudo o que eu tive eu deletei. Tudo o que eu construi desmoronou. Tudo o que me fez viver até esses dias se desintegrou. Sobrou apenas uma mancha negra no lugar de minha alma. Eu já não consigo nem chorar e nem sorrir. Eu já não consigo nem mesmo me emocionar.

Amar tem dessas armadilhas. Não se pode amar a dois ao mesmo tempo tu me dizes. Mas eu posso. Não se pode viver em dimensões de amor e tempo, mas eu vivo. Não se pode querer tudo e não ter nada. E eu tive tudo tendo nada, mas nada tenho agora no meu peito. No lugar de um coração há um bloco de pedra enegrecido. No lugar de minha alma um manto negro. Na luz de meus olhos apenas a escuridão. Eu sou como aquele que olha o mar na beira de um penhasco. Eu não sei nadar. Eu não sei como voltar. A minha frente a vaga louca de um oceano agitado e em tempestade. Atrás as dores de um passado assustador. E eu não sei nadar. Mas se um dia os caminhos da vida me fizerem voltar talvez eu seja mais paciente. Talvez eu possa ver de perto o que de longe eu não consigo ver: a luz no final do túnel. O navio que navega na minha direção. No horizonte do poente eu vejo apenas a minha triste e bela ilusão.

Onde foi que eu te perdi? Procuro por entre o que sobrou de mim, e não te encontro. Eu só encontro os meus retalhos. E isso é tudo o que eu consegui salvar deste naufrágio.


                                                                                                      

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Escrevo para alguém que não conheço. Escrevo para o meu espelho. Escrevo porque penso que é chegada a hora de escrever. De dizer-te que a vida é mais do que uma simples redoma de vidro, onde tudo é planejado e consequente. Pois não é. A vida é uma cachoeira de águas cortantes e pesadas, um rio que corre em desatinos rumo ao mar, transbordando nas cheiras, sereno nas calmarias, mas vivo. Estar vivo é sentir a alma livre nas manhãs, e estar aberto aos ventos da mudança. Viver é uma aventura onde não se pode planejar. Andar em cada dia deve ser como um eclípse: luz e trevas. Caminho e esperança. Nova semente a cada amanhecer.


Escrevo para ti, a quem não conheço. E conhecer não é simplesmente dar bom dia, falar das coisas boas que nos acontecem na vida, celebrar somente os bons momentos. Conhecer é entender a alma do outro. É libertá-la do jugo de sí mesma. Estar vivo é ser assim, estar aberto aos ventos da mudança. Porque um dia a vida vem e nos transforma. E nada podemos fazer quando os ventos do destino nos empurram para um caminho de onde já não é mais nos permitido voltar. E ter coragem é deixar a vida andar em seu próprio desatino, e compreender apenas o que não nos é possível entender.

Escrevo porque é o que eu preciso para sobreviver...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Se os olhos são a janela da alma, os teus são os olhos do desejo. O verde que cintila é um paraíso, onde se perde até mesmo o mais sensato dos arautos. Teus olhos são assim, um veneno para poetas e pastores, um desatino para os loucos que mendigam pelo teu amor. Os teus olhos conquistam pelo olhar, mas não te entregam. Os teus olhos seduzem simplesmente por pousarem noutros olhos, e depois fogem. Os teus olhos são o teu mister. Mas eu conheço o teu olhar. Sei quando tu mentes e quando gozas, e também quando tu te entregas para mim. Porque os teus olhos são assim feito a tua alma: puros, lindos e sinceros. Inquietos, livres e libertos, abertos para a vida. Eles não vêem a maldade que te cerca, não enxergam os defeitos de quem amam, e amam a todos os que lhe dão intimidade. Os teus olhos são os olhos de uma mulher menina. São ferozes e vorazes. Sedutores e marrentos. Sedentos de amor, de carinho e de ternura.

Eu te amei primeiro por teus olhos, e tudo após foi um turbilhão de consequências. De cenas quentes e de perfumes, um orvalho de flor e intimidade. A magia do teu olhar agora vive em mim, enraizado em cada pedaço de meu corpo. E se os olhos forem mesmo a janela da alma como dizem, os teus olhos agora são o farol do meu destino.

                                         

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Eu quero a intensidade. Quando nos encontramos, eu te desejo. E quando não nos amamos, eu me frustro. Eu preciso do teu corpo, do teu beijo, das tuas mãos em mim. Eu sempre quero isso, sempre. E eu já te disse o que preciso. Mas eu vou percebendo que você nem sempre é assim. Você é uma menina que não sabe o que um homem feito eu precisa. Então eu te digo: eu quero a intensidade. Sempre. Eu não busco o conto de fadas. Eu busco os contos do Marquês de Sade.

Eu te digo o que eu sinto, o que quero e o que preciso. Pois eu queria mais desta noite, muito mais. Mas eu sempre quero mais. Eu sempre quero o inexorável, o parâmetro máximo do tempo de nós dois. O todo. O indivisível. O total amor-prazer-amor. Eu te quero como a mulher que tu ainda não sabes ser. Mas eu relevo por que acima de tudo está o meu querer. O meu bem amor. O meu porto aberto de arrebentações.Pois eu sei que tu sabes ser esta mulher-fogo que me acende. De um fogo que nem mesmo a água apaga. E cujas brasas estão vivas no meu peito e minha mente.

Eu te quero como a mulher que tu insistes em esconder de mim.


domingo, 3 de junho de 2012

Domingo de chuva. O tempo é eterno e constante. Eu penso no que a vida tem me mostrado todo o dia. Caminho pelas avenidas da cidade enquanto uma garoa fina molha o meu rosto e os meus cabelos. E nada é tão tranquilo quanto tento parecer. Meu coração transborda, inerte ao movimento intenso do universo. Estou perdido. Não sei qual o caminho a seguir, mas sei que ir em frente é a única alternativa. E vou, passo por passo, embora a estrada que me leva não revele o meu destino.

Meu coração tem andado ensimesmado, assolado por paixões. Eu sei da dor e do sofrimento que ele causa. E eu sei que tudo não lhe pode ser indiferente. Mas o que fazer? Meu coração destrói tudo o que toca, embora eu esteja transbordando amor. Eu penso que é hora de partir. Deixar de causar sofrimento a quem amei e que me amou. E somente o tempo poderá dizer-me se estou certo. Eu sou um andarilho que nasceu para viver só. O amor que me transborda nunca coube em mim, e eu sempre o procurei sem encontrá-lo. O amor é um coração que se desenha sobre o vidro. Embaçado, invisível, introspectivo. Eu já não vejo o amor em mim, mas ainda sinto as suas marcas. Suas dores ferem fundo no meu peito.

Onde estás, meu coração? Por onde anda o meu amor? Caminho em desalinho pelas ruas da cidade em que habito. A chuva mansa molha e fere os meus cabelos. E eu preciso me encontrar.


sábado, 2 de junho de 2012

O amor é um barco. Segue o rio em curso próprio, deslizando sobre as águas do tempo. Nós somos apenas passageiros. Se pagamos o bilhete, embarcamos. Mas nem tudo é um mar de rosas na viagem insólita que nos leva ao coração. Embarcar neste barco é estar disposto a sofrimentos, dores, incertezas. Navegar por suas águas é expor a própria alma, desafiar os limites dia por dia, encontrar e vencer os medos e os preconceitos.


Ir a pique também pode acontecer. O barco do amor é um barco que navega em curso próprio, indelével ao tempo. Naufragar antes do fim sempre é possível, assim como salvar-se do naufrágio. Nele os destinos se refazem, se remoçam e, por vezes, morrem. Mas o final nem sempre é o fim da estrada. O barco do amor é indelével ao tempo. Basta que se compre outro bilhete. Amarras soltas! Proas e popas! Velas a todo o pano! O barco do amor está passando, e o timoneiro já anunciou o seu bordão: todos a bordo!

Você comprou o seu bilhete?