segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Rio Santa Maria

Sinto o sol ao queimar meus pés em tua areia quente. Caminho em frente, na busca das tuas águas corredeiras e turvas, escuras nos remansos mais profundos. Sou parte do teu leito, embora judiado, cansado como tu de peregrinar, mas sem nunca desistir. No ir e vir dos teus caminhos eu sou moço, viço de trevos. No espelho das tuas águas eu reencontro a minha alma. Mergulho e nos amamos outra vez.

Bebo a foz dos teus carinhos e tu me dás o peixe para o meu alimento. O vinho eu bebo da paisagem que te adorna, o cheiro do vento em maresia, o cantar das cotovias e de tantos outros pássaros. Eu jogo em ti o meu corpo cansado e deixo-me levar em alegria. Tu és o rio da minha vida, o que adotei, àquele em que eu amarrei o meu destino, um rio de águas santas, cristalinas.


Minha alma é de rio, e tu és a alma das águas. Somos dois caminheiros na busca dos seus destinos, assolhados pelo tempo. Nada de lamentos, mas muito de ensinamentos. Lendas e histórias nos cercam, e quando a noite estende a sua esteira prateada, por sobre o teu leito eu bebo a lua em tuas margens, na concha das mãos, no universo perdido de alguma constelação que se afundou em ti.

Estou em pedaços, repartido, livre e solto para em tuas águas flutuar. Tranquilamente tu caminhas para o mar, deslizando no silêncio das horas que são, agora, um escaler. Eu me deixo levar. Renascido estarei ao levantar de ti, rebatizado numa oração de natureza. Eu sou um barco a deslizar por tuas águas, o oco do mundo é o teu chão. Nós somos dois peregrinos em comunhão.

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