domingo, 22 de junho de 2014

O MEIO DO CAMINHO

Estou em transe, neblinado. Avogado das causas naturais, inanimado. Do meu lado um  gato sobre um saco de batatas, o cheiro de adega e de vinho envelhecido. No improviso desta tarde a mansidão do tempo desliza numa onda mansa sobre mim e o meu espírito. Eu me sinto realizado.

Estou em evidência, concentrado. O meu verso é o reflexo de um passado iluminado, poema repassado e alterado, revisto e rarefeito. Eleito dentre os meus vertedouros mais sensíveis, imperfeito ele brota da origens de mim mesmo.  

Eu estou no meu maior afloramento. O tempo, embora leve o rio da vida, me traz maturação. Eu sou a imensidão da vida e o universo em constante floração,  um cosmos imponente e incompreensível em vertical evolução. Visível é o meu consternimento. Incontrolável e meu estado de emoção. 

Eu estou em transe, em comunhão. O poema é a razão do meu alvorecer, e eu sou o escaler levado pelo rio da poesia, conduzido ao destino incompreensível que é revel de minha própria natureza. Não procurem em mim a fidelidade da beleza, não busquem em mim um diapasão, que eu estou entre o que rege a loucura e a razão.

Eu sou o poema, a redenção.

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