segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O HOTEL PARIS

Eu estive hospedado no Hotel Paris, em Rio Grande. Estive numa máquina do tempo. Tropecei nele por acaso, o acaso de um final de uma tarde turística familiar, de onde tudo o que levei foram as malas do tempo. Logo na chegada eu fui envolvido, seduzido, absorvido pela sua beleza e singularidade, pelo seu paradigma. Nada que lembre as construções modernas com as suas tecnologias quase que constantes, nada de sofisticação ou serviços cinco estrelas, nada de requinte, mas sim o ar de uma aristocracia decaída, de alguém que se perdeu pelo caminho, o pueril revés de uma ampulheta do tempo.


As paredes, as escadarias de madeira, os lustres, o teto revestido e já apagado, o mármore em xadrez e os pisos de ladrilhos decorados, tudo é um arcabouço influenciado pela mágica decoração arquitetônica de um fiel e provável servidor da corte de Dom Pedro II, o seu hóspede mais ilustre, ou de algum poderoso mercador do porto antigo, frequentador de sua corte, ou talvez um pouco do charme de intelectuais de várias épocas, pintores, artistas, cantores, ou mesmo dos simples viajantes, marinheiros, meretrizes, donzelas, senhoras e senhoritas, acompanhadas de sisudos pais e maridos, tudo é harmonicamente combinado e refinado. Eu sinto um pouco de todos os que por ali passaram, e no seu tempo, sentiram-se assim como eu me sinto agora.



Persiste em mim uma inquietude, esta ansiedade de querer saber um pouco mais de sua história, do dia a dia daqueles que ao longo dos séculos frequentaram o lugar. Eu queria escutar os seus cochichos, saber dos segredos sussurrados no antigo salão de bailes, ouvir o som do rangir das carruagens ao partir, saborear os seus sotaques. Até mesmo os mais ardentes segredos me são caros, àqueles trocados no silêncio das alcovas de seus quartos, por detrás de suas imensas portas espanholas. Resta em mim apenas o que o tempo me relega: somente os sinais de suas vidas. Eu deslizo as mãos pelas paredes e escuto os risos cristalinos que ali ainda estão guardados. 


Eu sou um viajante do tempo, mergulhado no universo de suas molduras, tentando completar as lacunas do meu verdadeiro ser. Talvez eu já tenha estado ali, pois tudo me é muito familiar. A lagoa, o mar, o sal encravado nas ferrugens de cada peça antiga e resgatada. Eu observo, respiro e sinto o cheiro, e desvendo a história de cada objeto singular que ali ficou. Na soalheira, diante da fonte alva que guarda as águas do tempo recicladas eu vislumbro a alma de um hotel que se perdeu no tempo.

Eu estive hospedado no Hotel Paris. Eu sinto que um pouco de mim ficou por lá.


(Alex Brondani, em 07/02/2016)

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