domingo, 29 de julho de 2012

Muitas coisas eu não gosto em ti, amada. Muitas coisas eu relevo em meus olhos e em meu coração. Mas não me peças a razão para entender o que eu não entendo: a tua desoblíqua obstrução de sí. Eu não compreendo isso. Eu não entendo outras coisas também, mas destas eu já te falei do que me dói. O amor corrói o tempo em que ficamos sós, e nestes momentos é que as sombras do passado acordam. E eu não gosto de brigar, porque brigar é quase que uma faxina solitária.

Mas muitas coisas eu gosto em ti, amada: o brilho dos olhos, o olhar sobre o cimento, a música que capturas do vento. E eu escrevo os meus poemas - todos eles - para ti. Tu é que não os vês. Tu é que não os lês. Mesmo assim eu te retrato neles. Somente um cego não percebe o óbvio: tu não vês? Muitas coisas sou eu que não sei de ti. Outras até sei, mas nelas desacredito. Acredito que um dia nós iremos nos entender, mas até lá eu serei um Dom Quixote pelos campos. Meus moinhos são maiores do que o vento, e Sancho Pança não existe nesta história. A cegueira que me abate apaga os olhos, e a memória apaga o que de bom nós temos. Mas tu também não intenta em me apontar. Olha: eu te estendo a mão. Me guia nos caminhos desta escuridão.

Quando a alma vive sem luz, é só o amor quem nos conduz. 

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