quinta-feira, 31 de maio de 2012

Eu penso que nunca gostei de café. Bebo café desde que me lembro, mas gostar, penso agora, gostar mesmo eu nunca gostei. Sempre bebi porque o destino assim me fez: um bebedor de café inveterado. E eu não devia estar alí. A luz da Usina desde há muito foi extinta. Os pesados motores a carvão foram desativados e deles só restaram lembranças: A torre imponente. A visão majestosa do guaíba. A imagem de uma Porto Alegre que não existe mais. E eu não devia estar alí, não naquela tarde. Mas na Usina se bebe o mais belo café de Porto Alegre.


Tu estavas linda. Vestia uma calça preta combinando com as sandálias, também negras. Eu sempre reparei nos teus calçados. O azul do céu ornamentava os teus cabelos, e tu e a tarde disputavam os olhares dos curiosos. Quem era a mais bela? Eu não tive dúvidas. A tua blusa de alças deixava a mostra os teus pequenos ombros. Eu nunca havia reparado nos teus ombros. E o branco que vestias apenas quebrava um paradígma: branco e preto. Azul e verde. Uma combinação de arco-íris. Tú eras, dentre todas, a mais linda.

Mas uma imagem me valeu por mil palavras. E eu não acreditei no teu amor. Me atirei nos apelos da luxúria e do prazer, e reneguei tudo o que tive em minhas mãos. Eu estava errado, e só agora é que percebo. E a cada dia que eu te conheço mais, mais o meu coração me cobra a esta minha ingratidão. Julgar sem escutar a outra parte. Fechar caminhos sem ouvir as suas razões. Eu penso que nunca realmente gostei de café. E naquela tarde eu odiei qualquer variação de cafeína.

Mas eu não quero mais lutar contra o que sinto. Eu já não quero te esquecer. Eu quero agora apenas beber do café que tu fizeres. E eu queria que tu soubesses disso.




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