sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Quando um espelho se quebra

Quando um espelho se quebra são sete anos de azar. Um gato tem sete vidas, mas o amor, quantas terá? Caminho sobre o fio de uma navalha, equilibrado entre o mar e o abismo. Minha alma já se jogou nele, mas o meu corpo sobrevive. Até onde resistir? Qual é o ponto de equilíbrio? Eu busco na miragem dos teus olhos um oásis de verdade em meio a imensidão de areia que o vento agora me traz. Meus pés não estão firmes, mas eu ainda quero caminhar.

Quando um espelho se quebra é difícil concertar. A imagem refletida traz o ar da insegurança, e as lembranças se reproduzem em cores translúcidas e em fragmentos. Meu canto é um lamento triste, embalado pela dor que em mim resiste e não se abranda. Por onde anda este amor que me maltrata? Que me afasta dele a cada dia em repetidas circunstâncias inexatas? Eu reconsidero tudo e no seu tempo, mas as feridas vão se tornando mais fundas e compactas.

Eu olho no vidro do espelho e vejo a minha face mutilada. Procuro em meio aos estilhaços o que sobrou de mim, mas tudo o que encontro são os fragmentos de um poema. Um poema triste, arredio, iluminado. Com ele eu junto os cacos do espelho e tento me alegrar, mas eu não sou capaz de o concluir. Eu preciso de ajuda, da tua ajuda, pois que sozinho eu não vou superar mais esta dor. O amor é uma faca que atravessa o peito e nos conclama. O amor é uma espada que nos mata.

Quando um espelho se quebra a fé é a única imagem que nos resta.

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