quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Inferno

Arremessado eu fui ao precipício. Lama negra e cheiro forte de enxofre. Mas estou vivo e, rastejante, eu sobrevivo dentro de minha alma. Me recupero, reestruturando a minha visão e o meu encanto, manto de veludo azul que não se gasta. Abandono a casta em que eu pensei ser rei, pois lá não estão mais meus amigos, nem nunca estiveram. E os que eu pensei que o fossem, nunca foram. Amarguro a mágoa de saber que eu estou só, e não por acaso que eu me sinto libertado. Meu fardo é pesado, mas eu posso carregá-lo. Amasso um grão de areia em minha boca e sobrevivo assim, entre a poeira e o deserto.
É certo que eu vou sobreviver. O inferno é o paraíso dos impuros, mas eu sou mais puro do que impuro, mundano mas com muito de humano, verdadeiro, embora eu já tenha me perdido. Arremessado eu fui ao precipício, no imprevisível destino do viver. Mas estou renascendo, renascido em tudo aquilo que perdi e que já não me faz falta. Eu não olho para trás. Eu não quero mais voltar. Eu quero agora me jogar na vida que amanhece, no arrebol de um sonho que se forma e não padece, que gira e se agiganta em mim. Eu parto do fim, e recomeço.

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