terça-feira, 10 de março de 2015

AS MINAS DO CAMAQUÃ

A entrada da mina é obscura, nua, escavada na pedra bruta. Cortada na senda de pás e picaretas, mãos que cavaram fundo, enredo de sonho e de sofreguidão. Chão adentro as galerias se espalham, úmidas, escuras, soturnas e nebulosas. O cobre que as sustenta é a razão desta contenda, odisséia sem heróis, epopéia de um tempo na loucura dos homens.

Eu não estou imune ao seu simbologismo, sinto nas paredes e em meus pés a dor daqueles que aqui estiveram, o ar rarefeito em seus pulmões, o sufocante estágio da memória, o trabalho que aniquila. Eu não mergulho no coração da rocha, desconheço os seus caminhos, apenas me consterno da vida dos que ali estiveram.


Poeira e metal espalhados pelo chão, escoras de madeira, trilhos e ferros retorcidos, esquecidos e jogados pelo tempo imaterial. Como teriam sido os homens deste tempo, estes mineiros? Ingleses de semblante duros, Alemães de pesadas cicatrizes, Belgas desconhecidos e esquecidos, Brasileiros  forjados no rigor desta labuta, todos unidos pelo mesmo Eldorado.

Eu ainda posso ouvir o eco pelas galerias, suas vozes claras e cristalinas, sentir o que sobrou da alma sob a rocha dolorosa, pesada, carregada dos seus sonhos e esperanças. Não, eu não invejo àqueles que aqui estiveram, os que abreviaram suas vidas sob o coração da rocha, sob o cobre que a sustenta, eu apenas reverencio em sua memória.

Eu sinto a alma de cada mineiro sob a rocha.


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