domingo, 1 de junho de 2014

OVERLOCK

Sobrevivi ao dia D. Desembarquei diante do fogo, exposto ao calor e à arrebentação. Na razão de tudo o único propósito foi sobreviver, pisar a terra firme, conhecer a minha nova Normandia. Por entre os mortos eu sobrevivi, por entre os feridos eu prossegui. Meu dia foi um batismo de sangue e de agonia, mas nada foi realmente uma tragédia. Sobreviver ao dia D foi a estratégia, e agora avanço em passos largos ao interior do continente.
Na vertente do meu ser existe um ponto cego. Estranho é o meu espelho, reflete o caminho desconhecido. Mas piso firme e em rota agreste eu revisito o meu objetivo. Eu já estive aqui, antes de hoje, em  outro tempo e movimento. Me são familiares os argumentos e não são estranhos os rochedos da paisagem. Depois do exílio agora eu descanso à glória do meu triunfo.
Nada está conquistado. Caminho em campos minados e fragmentados, espalhados por eles o trampe e a suástica. Mas eu vou em frente, olhos no horizonte e com a força do coração. Dimensiono a razão do continente e vislumbro um futuro de boas esperanças. Eu bem sei das tragédias que assolaram o meu passado e que ainda assombram os meus pés descalços.

Do desembarque ao ponto de encontro foram três dias, inconstantes horas de espera e de meditação. A emoção que tomou conta de mim agora quer solidificar conhecimento, aprender a usar os instrumentos de navegação. Vou para o centro, miro o coração do velho continente. Com um contingente de pequenos homens eu quero libertar o meu destino, escrever um novo livro. 

O desembarque foi meu recomeço.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário