segunda-feira, 17 de março de 2014

A TEMPESTADE

Chove. De onde estou eu escuto o tilintar dos pingos no telhado. Chuva pesada, carga sobre a cidade que espreita, à sombra, o desenrolar da tempestade. Eu caminho na direção da porta, em busca da visão privilegiada: a água derramada sobre o asfalto, a grama, terra, poeira e o concreto. Como que levado o meu olhar repousa ao largo, sem um rumo definido. Eu sinto algo que transcende a natureza.

A leveza do olhar me faz cigano, andarengo de caminhos, de destinos. Um trovão repentino e logo em sequência o relâmpago, um tranco, no âmago da alma eu me conforto. Talvez, sei lá, se a teoria estiver certa eu tenha vindo da água e, em essência, nós todos sejamos água e alma. Talvez a ciência explique a sensação de acolhimento, este embalar de sons oceânicos em meus ouvidos.

Chove. A tormenta torrencia a tarde que se perdeu do sol. Eu me debruço na janela e contemplo a tempestade. Se acendem as luzes da cidade, o tempo se fecha em cor de chumbo e cinzas e outras cores que eu não sei como explicar. Eu estou de volta ao mar da minha gestação: um quase poeta, um quase louco, um menino afoito que quer voltar à infância.



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