terça-feira, 28 de maio de 2013

A Poesia dos Loucos

Um verso me escapa pelas mãos. Marcador de página, ele não se encontra aqui. Despedaçou-se no universo das inspirações suicidas de onde eu bebo matinalmente. A vertente do poema é um dilema. Um enigma e uma alucinação. Mas transformar a razão em emoção é o ofício dos poetas. Lapidar a estrutura das palavras, limar os verbos soltos, mesmo os mais arrestos. Este é o ofício dos loucos.

Louco estou em radical transformação. Minha solidão é tamanha quanto a dor do verso perdido e estraçalhado. Dilacerados estamos - ele e eu - numa clara certeza de um conluio mal sucedido ou ajustado. Arrependido? Não... não é possível se arrepender no mundo das palavras. A alma do poeta é uma aquarela de incertezas, uma colcha de retalhos tecidos sempre na mesma cor.



Um verso me escapa pelas mãos. O que fazer? Como conter a sua imagem? Como demover a sua irretratável decisão? É inóspito o mundo de tecer verbos com o coração, nunca se sabe o que encontrar. Amar é o ofício que nos resta, quase um sacrifício, um suplício que procura aplausos num porão. Perder um verso é como perder uma mão, algo de vagar sem alma na escuridão.

Encontra-lo eu ainda tento pelo chão, agachado num canto escuro de uma peça embolorada, na varanda de uma mansão antiga em meio a fantasmas e retratos. Não adianta. Este verso não volta mais, perdido está. Um poema não se mostra mais do que uma vez a um poeta miserável. Mas estarei em alerta. Em prontidão, por garantia. A poesia é feita para os loucos, um orquidário construído por poucos.

Mário Quintana diria: "Ah!, a poesia..."   

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