segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Os Amantes da Noite

Nada é mais revelador neste mundo do que a razão do teu olhar. Nada se esconde nele, por trás dos teus olhos sedutores, nada. Nem mesmo a fada dos silêncios que te habita, nem mesmo a misteriosa energia que te conduz para a arrebentação do teu corpo, muito menos a falta mansa do teu estado nebuloso, a flauta doce em que tu esconde os teus segredos, ou mesmo o beijo que reservas para mim.

Ontem eu te amei assim, à beira de uma lagoa em movimento. Tu eras uma jovem moça em desatentos dessossegos, e o vento da noite morna esvoaçava os teus cabelos. A noite era de um cheiro de desejo, enluarada pela presença da lua e o seu exército de estrelas, entabulada pela silhueta das árvores e da paisagem escura do local em que estávamos. E tu mirava as estrelas.



Foi real o que fizemos. Dias e noites nós nos amamos em contante descoberta, tu sendo uma estrela, eu a noite que te guarda. Noites e dias assim nós dois vivemos, e viveremos para sempre. Hoje eu te venero, não mais como a uma deusa em sua beleza, nem como a uma rêmora selvagem, mas sim como a uma bela e real situação. Hoje eu te venero apenas pelo coração.

A fogueira que encantou a madrugada se desfez, mas as suas brasas ainda queimam no arrebol. Nada é mais revelador que o teu olhar quando me queima como um sol, que me busca e te sustenta, que desafia o meu olhar inquisidor. Nele eu vejo tudo o que procuras. Ontem eu te amei à beira de uma lagoa em movimento, e foi real o que fizemos. Tu estás viva. Eu estou vivo. O universo é um rio que corre em curso incerto.

Nós somos os amantes da noite, um do outro.

 

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