segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O caçador

Um caçador. Assim eu me senti naquela noite sem luar, de estranhos relâmpagos e de louca e insana tempestade. Um caçador à espreita da sua presa aniquilada, perfumada pelo sereno da noite e pelo sangue visitante em cada mês. Indiferente a têz de tuas dores eu te suguei, indiferente aos teus problemas cotidianos, da tua alma de menina atroz ou do olhar que esconde mares de malícias e de enganos, enredada aos olhos desatentos do desejo. Indiferente e insensível, caçador. Foi assim que eu te tomei naquela noite sem luar.

Tu eras uma gazela a saltitar. Inebriante gazela com aromas de defloração. A tua aprovação eu não colhi, me atirei em ti com todo o ódio do meu membro, faminto pelo cheiro ocre e pelo rímel do teu rosto, pelo azedo do teu ventre e pelo aroma inebriante do teu mais íntimo e intimidante gosto. Com o dedo direito eu te toquei - profundo toque - e te mordi. Tu eras um colibri preso em minha teia, e sem pedir licença eu invadi o teu corpo esguio, arredio mas rijo e teso, preso em meu tesão. Meu coração saltou à boca na minha boca, mas não parei mais de te amar.



A noite abafou o teu gritar e nada e nem ninguém veio ao teu socorro. Sobre o teu corpo esbelto eu abati o meu desejo, despejei meu sumo imenso e escorrí numa cascata de fluídos. Tu fostes apenas um vaso esquecido de fina porcelana japonesa. Bela, mas sem beleza. Pura, mas impura em sua inocência. Amada, mas pelo desejo despojada. O teu gozo foi tão intenso quanto o meu, mas mais intenso. Foi perfumado. Impuro gozo, descarnado e desproposital. Experimental.

Eu te trato sem rumores e pudores, sem poemas e romances, e tu me queres mesmo assim. Tu lambes o sal de minha pele e bebes do sêmen derramado que há em mim. Eu te possuo em cada lado do teu corpo e em cada espaço inventado na busca do prazer. Não temos limites neste entardecer. Tu gostas de viver intensamente e eu sou a própria vida em propulsão. Nós somos um vulcão por explodir, à expelir todas as formas desse amor.

Tu és a presa. Eu sou o caçador.
         

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