domingo, 16 de setembro de 2012

No silêncio da estação

Eu estou sentado à beira dos trilhos esperando por um trem que não vem. A velha estação é só silêncio, e suas portas e janelas estão trancadas com os meus sonhos represados e esquecidos. Sobre os trilhos nasceram ervas e flores multicores. A velha pipa d´água resiste, mas até quando? Eu me esborracho no tempo na espera de um trem que não vem.

Eu sei que o tempo deste tempo já passou, mas imagino os dias de glória destes dias. Máquinas e homens no meio do vapor e do carvão, num tempo de descobertas e de motivação. Um vagão depois do outro, de cargas e de passageiros, de amores que vem, de vidas que se cruzam e de amores que se vão. Eu espero o sinaleiro, o apito, mas eu sei que eles não vem. É tão misterioso pensar neste mister, estar sentado feito um passageiro clandestino, sem destino, a mala carregada de sonhos e de esperanças. Uma estação é um mausoléu de paz que uma cidade guarda. Um cenário que parou o seu relógio e os seus ponteiros. A estrada de ferro é um desafio ao meu destino. Os seus caminhos são trilhos que rastejam em agonia, e tudo é uma porfia de ilusão. Não volta mais o tempo que se foi, assim como não se reascende uma paixão.

Os meus amores são como esses trens de passageiros que se foram. Por mais intensos que foram eles passaram, e em mim ficaram apenas lembranças e as suas marcas. Assim eu percebo os silêncios da velha estação. Eu escuto o seu lamento e tudo o que vejo nela é igual ao meu passado. Um passado de glórias e de alegrias, mas que já não cabe no bolso dos meus novos e vindouros dias. Eu estive sentado na velha estação esperando por um trem que já não vem. Eu estive, não mais estou. Eu agora ando pelos trilhos, no rítmo do meu próprio tempo e espírito. A estrada de ferro é um desafio ao meu caminho, mas eu sigo agora sabedor da minha direção.

O meu coração é um trem andando sobre os trilhos do destino.

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