sábado, 9 de novembro de 2013

Breve Consideração Sobre uma Tarde de Chuva

Estou seduzido pela chuva. Da janela eu vejo a luta das gotas pesadas golpeando o assoalho do asfalto, acumulando águas, escorrendo ladeira abaixo. A chuva lava a avenida, entope os bueiros, refaz o seu calvário. Vai transbordar os rios e os banhados, afogar os ratos e enrodilhar os campos de trevos e de brejos. O rumor do horizonte relampeja em meus versos.

Estou embriagado pela chuva. Minha alma transmuda com o cheiro de terra e o abafamento do ar. Quasar de cores disformes, sentimento sutil de anunciação, quermesse de vida que desalinha o coração. O som no telhado goteia os meus sentidos, e eu me sinto o menino como um dia fui. Àquele que se banhava nas calçadas, que nada temia do horizonte numa tarde de chuva.

Que me importam os trovões da tempestade, se eu estou encantado! A chuva que cai é um bálsamo e me convida à vida. A chuva que se atira ao chão mostra-me como deve ser levado à termo o coração: de roldão, pois a vida é um rio que corre em profusão. Eu vou abrir o portão de minha alma:  um menino de gravatas quer se banhar nas águas do destino.

Vem comigo!

     

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